São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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Calçados e vestuário caem no varejo

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O varejo de calçados e vestuário é o maior perdedor em desempenho de vendas neste ano. A melhora nos indicadores do comércio em 2004 não se refletiu no desempenho desses dois segmentos, que movimentam, juntos, R$ 4 bilhões em negócios por mês.
A deflação na categoria -os preços dos sapatos, por exemplo, caem desde o início de março- e as ofertas-relâmpago deram um certo fôlego, mas ainda insuficiente.
Enquanto as companhias de móveis e eletrônicos registraram expansão de 23,78% no volume comercializado de janeiro a março, em relação a igual período de 2003, calçadistas e lojas da área de vestuário cresceram apenas 1%.
Esses dados foram publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na semana passada, como parte da Pesquisa Mensal de Comércio.
Os resultados mostram que o aumento nas vendas de todos os segmentos (combustíveis, supermercados, calçados, vestuário, entre outros) acontece em relação a uma base fraca. Ou seja, em cima de um desempenho negativo registrado em 2003.
Mesmo assim, há setores com uma velocidade de expansão menor neste ano em relação a outros segmentos. Exemplo: se as lojas de roupas e calçados expandiram as vendas em 1% no primeiro trimestre, as concessionárias registraram alta de 12,65%.
O desempenho sem expressão da área de bens semiduráveis acontece, afirmam as entidades representativas da área, por conta das próprias características do setor. Em primeiro lugar, esse comércio não depende de crédito bancário para crescer.
O varejo eletrônico, com mercadorias de alto valor agregado, depende bem mais. Como houve um aumento na disponibilidade desses recursos nos últimos tempos, com os bancos públicos abrindo linhas de crédito a juro menor, o comércio de eletrônicos foi beneficiado. Já as lojas de roupas e calçados, não.

Concorrência
Ao mesmo tempo, o varejo de bens semiduráveis disputa o bolso do consumidor com outros setores, como alimentos e remédios, que são itens de primeira necessidade. Com a renda minguada, é natural que itens como calçados e roupas deixem de ser prioridade.
"Continua tudo travado. Acerta-se em um ou outro negócio, mas o que está gerando mesmo emprego e aumento na receita é a exportação, que não está nesses números que refletem o mercado interno", diz Elcio Jacometti, dono da Jacometti Indústria de Calçados e presidente da Abicalçados, entidade que representa as companhias do setor.
Dados da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) do IBGE mostram que a família brasileira gasta em média R$ 62,28 por mês com mercadorias da área de vestuário. Já com calçados, o valor é de R$ 20,93 ao mês. No total, ao levar em conta o volume de brasileiros que compram atualmente (48,5 milhões de famílias), pode-se afirmar que a receita mensal do comércio de vestuário no país chega a até R$ 3 bilhões.
No caso dos calçados, o volume atinge R$ 1 bilhão por mês.
Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE, no acumulado dos últimos 12 meses (de abril de 2003 a março de 2004), a venda nos dois setores acumula queda de 2,79%, "o que mantém o segmento como o destaque negativo do varejo", informa.
De acordo com dados da Abravest (Associação Brasileira de Vestuário), houve uma queda de 18% no faturamento da indústria de vestuário de janeiro a março, em relação a 2003.

Inadimplência
"A única forma de tentar melhorar os resultados é criar formas de reduzir a inadimplência do consumidor. É preciso chamar o cliente para conversar e renegociar as dívidas, ou vamos acabar no final do ano com vendas de Natal ruins novamente", afirma Roberto Chadad, presidente da Abravest. Uma eventual disparada nos preços tende a afastar os consumidores das lojas. No caso do varejo de roupas e calçados, o que há, no entanto, é a deflação.
Números da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) mostram que, desde o início de março (de 8 de março a 15 de maio), há quedas consecutivas no valor dos calçados. No caso das roupas masculinas, o reajuste promovido pelo varejo em abril ficou abaixo da inflação do mês, que atingiu 0,29%.


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