São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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REVOADA

Índice nas economias da região cai de 67,9% em dezembro para 44,5% em abril, diz estudo; Leste Europeu registra expansão

América Latina enfrenta queda de liquidez

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de ter experimentado um ano de euforia em 2003 com a entrada de investidores no mercado de títulos da dívida pública e de bônus corporativos, a América Latina é afetada pelo enxugamento de dinheiro disponível.
De acordo com dados da consultoria britânica CrossBorder, o índice de liquidez (medido em uma escala que vai de 0% a 100%) na região caiu de 67,9%, em dezembro do ano passado, para 44,5%, registrado em abril deste ano. Dezembro é considerado o auge do otimismo com as economias emergentes.
"A liquidez nos mercados emergentes atingiu um perigoso ponto de baixa. No entanto as condições entre eles são divergentes. Na América Latina, o índice está em queda, mas na Europa emergente ele está em ascensão", diz trecho do relatório elaborado pela economista Angela Cozzini.
A redução do índice de liquidez na América Latina é também conseqüência de uma retração mundial da disponibilidade de dinheiro. De acordo com a CrossBorder, em termos globais, o indicador passou de 66,6% em 2003 para 65,9%. Na Europa emergente (Leste Europeu), o indicador subiu de 50,2% para 62,7% no mesmo período.
A Rússia tem sido a líder nessa expansão com o ingresso de fluxos de capital, principalmente para o setor privado, diz o estudo.

Juros dos EUA
Segundo a consultoria, os fluxos de capital privado e a oferta de crédito por bancos centrais dos países latinos são mais afetados pela possibilidade de mudanças na política monetária do Fed (banco central dos EUA).
Diante dos recentes sinais de aquecimento da economia norte-americana, a expectativa é a de que haja uma elevação da taxa básica de juros dos EUA ainda em junho. Hoje ela está em 1%, o nível mais baixo das últimas quatro décadas. Com a possibilidade de uma elevação, que vai se traduzir em retornos mais elevados para investimentos em papéis americanos, os investidores se retiram de locais considerados mais arriscados. "A tendência de aperto no banco central [dos EUA] já está liderando um cenário de baixa [nos mercados da América Latina]. Os fluxos de capital externo e fluxos de crédito para as empresas da região já estão enfraquecendo", diz a consultoria. A tendência de queda no preço das principais commodities exportadas pela região também explica o menor volume de dinheiro em circulação.
"Já ocorre um enxugamento da liquidez mundial, e essa é a principal causa da fraqueza na América Latina", disse Gustavo Rangel, do Barclay's Capital, em Nova York.
Para ele, entretanto, não há razão para pânico. "O que vemos agora na América Latina é uma correção técnica. Isso ocorre ciclicamente nos emergentes e não deve ser algo duradouro."
Relatório da EmergingPortfolio.com, consultoria que monitora fundos que detêm mais de US$ 2,5 trilhões em países em desenvolvimento e industrializados, revela que os fundos que investem em títulos da dívida de emergentes tiveram a pior semana desde 2001 entre os últimos dias 11 e 17 de maio. O valor da retirada chegou a US$ 228,2 milhões.
"Investidores têm reduzido a sua exposição a esses mercados por uma convergência de fatores que elevam a aversão ao risco. A perspectiva de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e os preços históricos da alta de petróleo estão entre eles", avaliou Brad Durham, diretor da EmergingPorfolio.com.
O economista Walter Molano, do BCP Securities, afirma que, para alguns investidores, "o caso de amor com os mercados emergentes acabou", mas que não existe um cenário de crise de liquidez. "O Brasil, por exemplo, não tem tido dificuldades para se financiar", argumentou.


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