São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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REVOADA

Responsáveis por grandes fundos se mostram otimistas com emergentes e dizem que vão aplicar mais em papéis brasileiros

Para megainvestidor, país ainda é atraente

DA REPORTAGEM LOCAL

DE NOVA YORK

Os maiores investidores nos mercados emergentes afirmam que, apesar de turbulências na América Latina, a região e o Brasil continuam a ser atraentes.
De acordo com Mohamed El-Erian, da corretora Pimco (Pacific Investment Management Company), a fuga de investidores dos mercados latinos não é um retrato de problemas nos fundamentos econômicos desses países. Ela é, na verdade, um ajuste ao novo desenho da política monetária americana. "O mercado está se ajustando a um novo ciclo", diz.
Mas o investidor se mostra otimista com relação ao Brasil. "Num primeiro momento, nossa reação inicial foi recomendar a saída de "hedge funds" [fundos que aplicam em qualquer tipo de ativo] na região. A próxima fase, que começa agora, é investir mais em papéis brasileiros, pois estão extremamente atraentes."
El-Erian é conhecido por investir em emergentes em momentos em que alguns investidores pouco acostumados com a extrema volatilidade desses mercados diminuem suas posições. Em meio à crise que antecedeu a eleição presidencial em 2002, o investidor não apenas manteve os seus papéis brasileiros como também aproveitou para comprar mais. A Pimco detém mais de US$ 390 bilhões em títulos da dívida de países emergentes e ricos.
Outro que se mostra confiante é Jerome Booth, economista da corretora Ashmore -que gerencia US$ 471 bilhões em ativos. Ele afirma que não há crise nos mercados emergentes e que o nervosismo atual não deve afetar o ano como um todo. Para ele, 2004 deve ser "melhor do que a média".
Segundo Booth, países como o Brasil têm sido favorecidos por um cenário positivo de investimentos nos últimos 18 meses. Esse resultado vem mais de fatores internos às economias dos países desenvolvidos do que de características específicas das economias emergentes, como melhorias nos fundamentos ou altas taxas de juros. Para Booth, esse quadro nos emergentes deve perdurar.
Ele aponta outra razão: os fundos de pensão americanos precisariam recuperar perdas que tiveram nos últimos anos. Ele diz acreditar que esses fundos necessitem atualmente de taxas de retorno superiores a 8% ao ano -segundo cálculos que não esclareceu. O melhor investimento para eles, que tendem a aplicar no longo prazo, afirma o economista, continuará a ser os títulos das dívidas dos países em desenvolvimento -dos poucos a darem retornos substanciais.
Não há mais um cenário de predominância de investimentos de curto prazo, e os grandes fundos, que são os que importam, estariam dispostos a continuar alocando recursos para América Latina e, em especial, para o Brasil.
Booth afirma não saber quanto tempo deve demorar a atual instabilidade nos mercados financeiros emergentes, mas disse que desde já a recomendação de sua corretora é por investimentos de longo prazo no país.

Leste Europeu em alta
Para James Barrineau, vice-presidente para mercados emergentes da corretora Alliance Capital, a atual crise de liquidez em países como o Brasil deve durar "pelo menos até a próxima reunião do Fed [o banco central americano]", em junho. "E eu diria até depois disso, porque as pessoas ficarão preocupadas se o Fed vai continuar a aumentar os juros até o ano que vem", emenda.
De acordo com projeções do Barclay's Capital, o Fed deve elevar a taxa em 0,25 ponto percentual em agosto. Em setembro, a instituição deve promover um aumento de 0,50 ponto e mais outro de 0,50 em novembro.
O dinheiro retirado recentemente de certos mercados emergentes, afirma Barrineau, "não deve voltar em um futuro próximo" -ao menos não como vinha fazendo nos últimos meses.
Barrineau também diz não haver muitas diferenças entre os grandes e pequenos investidores na aversão ao risco e na retirada de dinheiro dos mercados emergentes neste momento. "Existe uma sensação generalizada de aversão ao risco. Após três bons anos nos mercados emergentes, era claro para todo mundo que este ano seria mais difícil."
Para Barrineau, para piorar o cenário, um agravante momentâneo para a América Latina pode ser a atratividade dos mercados emergentes da Europa do leste -vistos como menos arriscados.
El-Erian também afirma que esses mercados têm atraído grande volume de investimentos, mas avalia que não é possível falar em migração da América Latina para os emergentes europeus.
(CÍNTIA CARDOSO E RAFAEL CARIELLO)


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