São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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NEGÓCIOS ALÉM-MAR

Dez redes brasileiras são selecionadas e recebem ajuda federal para expandir atividade no exterior

Franquias entram na Europa via Portugal

BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Dez franquias bem-sucedidas no Brasil, selecionadas pelo governo brasileiro e pela associação do setor, tentam pôr o pé na Europa usando Portugal como porta de entrada. Elas receberam verba federal para incentivar sua internacionalização e foram mostrar seus produtos na Expofranchise, que termina hoje em Lisboa, com resultados animadores.
O evento acontece há dez anos em Portugal. É a primeira vez que um pavilhão com franquias brasileiras é montado em uma feira na Europa.
Portugal, na visão dos empresários, é um mercado importante -mas é, sobretudo, uma maneira de testar o negócio em um país europeu, sem a obrigação de fazer grandes adaptações, já que, além da língua, há vários costumes em comum com o Brasil. Com ações na Europa, nos Estados Unidos e no México, a expectativa é que a exportação de franquias fature US$ 5,3 milhões até 2006.
Além da vantagem de exportar marcas e serviços, o que é um passo à frente na venda de produtos, a estratégia é criar, com a rede de franqueados, mercados constantes para a distribuição exclusiva de produtos brasileiros.
"É uma maneira de não ficar à mercê das oscilações do mercado internacional", justifica Ricardo Camargo, diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising).
Entre as reivindicações do setor para viabilizar a internacionalização, está um pedido de mais agilidade no processo de registro de marcas no Brasil. Em Portugal, um registro pode sair em três meses. No Brasil, a espera é de mais de seis meses.
A diferença impede que o país registre marcas simultaneamente em diferentes países, beneficiando-se de tratados, que exigem a reciprocidade. "Isso traz um ônus absurdo para as franquias nacionais", aponta Camargo. A idéia é evitar problemas como o que enfrenta hoje a empresa Oceanic, de cosméticos, uma das expositoras da feira. Sua marca foi registrada por outra pessoa em Portugal.
Do lado português, a vinda dos brasileiros é comemorada pelo Instituto de Informação em Franchising, uma das entidades que promovem o sistema no país. "Já há aqui marcas estabelecidas como O Boticário e Casa do Pão de Queijo. Portugal está em busca de novidades, que podem, inclusive, ajudar a desenvolver o mercado local", aponta Fátima Marques, diretora do instituto.
Há 395 franquias em operação em Portugal (173 delas portuguesas), responsáveis por 56 mil empregos. No Brasil, o sistema de franchising emprega cerca de 530 mil pessoas e gera 30 mil novos postos de trabalho todos os anos. Em 2004, faturou R$ 31,6 bilhões.

Estratégias
Para vencer, com pouca verba, o desafio logístico de migrar para o outro lado do Atlântico, as empresas precisam usar a criatividade. No fast food de grelhados Bon Grillê, por exemplo, o plano é que as unidades européias importem a carne diretamente dos fornecedores da empresa no Brasil. "A logística ficará por conta deles", diz Sérgio Freire, gerente de expansão da marca.
A Vivenda do Camarão busca um empresário que abra ao menos quatro restaurantes em Portugal, para justificar visitas periódicas de acompanhamento. A marca fechou recentemente a franquia que tinha em Lisboa -descobriu que o franqueado português "estava a comprar" produtos de fornecedores não-autorizados, de qualidade inferior aos da rede.
A pernambucana Movimento (moda praia e fitness), que já exporta para diversos países, espera aproveitar a boa fase da moda brasileira para ter lojas próprias na Europa. Fechou parceria com o português João Madureira, 54. "O Brasil está na moda. De Portugal, a sensação que tenho é de que podemos transformar isso num bom negócio", afirma.
A rede de lojas de calçados e bolsas Carmen Steffens, que foi à feira buscar franqueados em locais turísticos de Portugal, tem os olhos voltados para bem além das terras lusitanas. Em breve, abre sua primeira loja na Arábia Saudita. "A bolsa e o calçado são a maneira que as mulheres de lá têm de se diferenciar, já que as roupas, com o uso da burkha, são sempre muito parecidas", conta o gerente de marketing Gabriel Sapaniol.
Já a BIT Company (escolas profissionalizantes) espera que a feira renda contatos na África. "Estamos quase fechando um acordo para Angola e temos interesse em Moçambique", conta Walmir Frare, diretor da franquia, que tem 170 escolas no Brasil.
A Nobel (livrarias), que abriu, com um franqueado local uma loja em Aveiro (norte de Portugal), obteve autorização para fazer a exportação consignada de livros para aquele país.


O jornalista Bruno Lima viajou a Portugal a convite da Apex (Agência de Promoção de Exportação) e da ABF (Associação Brasileira de Franchising).


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