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NEGÓCIOS ALÉM-MAR
Dez redes brasileiras são selecionadas e recebem ajuda federal para expandir atividade no exterior
Franquias entram na Europa via Portugal
BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Dez franquias bem-sucedidas
no Brasil, selecionadas pelo governo brasileiro e pela associação
do setor, tentam pôr o pé na Europa usando Portugal como porta
de entrada. Elas receberam verba
federal para incentivar sua internacionalização e foram mostrar
seus produtos na Expofranchise,
que termina hoje em Lisboa, com
resultados animadores.
O evento acontece há dez anos
em Portugal. É a primeira vez que
um pavilhão com franquias brasileiras é montado em uma feira na
Europa.
Portugal, na visão dos empresários, é um mercado importante
-mas é, sobretudo, uma maneira de testar o negócio em um país
europeu, sem a obrigação de fazer
grandes adaptações, já que, além
da língua, há vários costumes em
comum com o Brasil. Com ações
na Europa, nos Estados Unidos e
no México, a expectativa é que a
exportação de franquias fature
US$ 5,3 milhões até 2006.
Além da vantagem de exportar
marcas e serviços, o que é um passo à frente na venda de produtos,
a estratégia é criar, com a rede de
franqueados, mercados constantes para a distribuição exclusiva
de produtos brasileiros.
"É uma maneira de não ficar à
mercê das oscilações do mercado
internacional", justifica Ricardo
Camargo, diretor-executivo da
ABF (Associação Brasileira de
Franchising).
Entre as reivindicações do setor
para viabilizar a internacionalização, está um pedido de mais agilidade no processo de registro de
marcas no Brasil. Em Portugal,
um registro pode sair em três meses. No Brasil, a espera é de mais
de seis meses.
A diferença impede que o país
registre marcas simultaneamente
em diferentes países, beneficiando-se de tratados, que exigem a
reciprocidade. "Isso traz um ônus
absurdo para as franquias nacionais", aponta Camargo. A idéia é
evitar problemas como o que enfrenta hoje a empresa Oceanic, de
cosméticos, uma das expositoras
da feira. Sua marca foi registrada
por outra pessoa em Portugal.
Do lado português, a vinda dos
brasileiros é comemorada pelo
Instituto de Informação em Franchising, uma das entidades que
promovem o sistema no país. "Já
há aqui marcas estabelecidas como O Boticário e Casa do Pão de
Queijo. Portugal está em busca de
novidades, que podem, inclusive,
ajudar a desenvolver o mercado
local", aponta Fátima Marques,
diretora do instituto.
Há 395 franquias em operação
em Portugal (173 delas portuguesas), responsáveis por 56 mil empregos. No Brasil, o sistema de
franchising emprega cerca de 530
mil pessoas e gera 30 mil novos
postos de trabalho todos os anos.
Em 2004, faturou R$ 31,6 bilhões.
Estratégias
Para vencer, com pouca verba, o
desafio logístico de migrar para o
outro lado do Atlântico, as empresas precisam usar a criatividade. No fast food de grelhados Bon
Grillê, por exemplo, o plano é que
as unidades européias importem
a carne diretamente dos fornecedores da empresa no Brasil. "A logística ficará por conta deles", diz
Sérgio Freire, gerente de expansão da marca.
A Vivenda do Camarão busca
um empresário que abra ao menos quatro restaurantes em Portugal, para justificar visitas periódicas de acompanhamento. A
marca fechou recentemente a
franquia que tinha em Lisboa
-descobriu que o franqueado
português "estava a comprar"
produtos de fornecedores não-autorizados, de qualidade inferior
aos da rede.
A pernambucana Movimento
(moda praia e fitness), que já exporta para diversos países, espera
aproveitar a boa fase da moda
brasileira para ter lojas próprias
na Europa. Fechou parceria com
o português João Madureira, 54.
"O Brasil está na moda. De Portugal, a sensação que tenho é de que
podemos transformar isso num
bom negócio", afirma.
A rede de lojas de calçados e
bolsas Carmen Steffens, que foi à
feira buscar franqueados em locais turísticos de Portugal, tem os
olhos voltados para bem além das
terras lusitanas. Em breve, abre
sua primeira loja na Arábia Saudita. "A bolsa e o calçado são a maneira que as mulheres de lá têm de
se diferenciar, já que as roupas,
com o uso da burkha, são sempre
muito parecidas", conta o gerente
de marketing Gabriel Sapaniol.
Já a BIT Company (escolas profissionalizantes) espera que a feira
renda contatos na África. "Estamos quase fechando um acordo
para Angola e temos interesse em
Moçambique", conta Walmir
Frare, diretor da franquia, que
tem 170 escolas no Brasil.
A Nobel (livrarias), que abriu,
com um franqueado local uma loja em Aveiro (norte de Portugal),
obteve autorização para fazer a
exportação consignada de livros
para aquele país.
O jornalista Bruno Lima viajou a Portugal a convite da Apex (Agência de Promoção de Exportação) e da ABF (Associação Brasileira de Franchising).
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