São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Analistas vêem menor vulnerabilidade

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O tombo dos mercados brasileiros ontem refletiu o receio, no mundo todo, de que finalmente pode começar o ajuste da economia dos EUA, processo que levaria a economia global a crescer menos. Na prática, ninguém sabe se as turbulências são apenas um soluço ou o início do tão esperado ajuste.
"A discussão nesses dias é saber como entender o que está acontecendo lá fora. A maior parte dos analistas, dentre os quais me incluo, ainda acredita que se trata de evento de curto prazo, que não tem a força de afetar as trajetórias de longo prazo", diz Roberto Padovani, da Tendências.
Ele lembra que, no caso brasileiro, mesmo com a alta do risco-país, o indicador se situa ainda em patamar inferior aos 300 pontos, nível, para os padrões históricos do Brasil, ainda baixo. "Qualquer coisa entre 200 e 300 pontos é absolutamente positiva do ponto de vista histórico."
Para Padovani, o fato de o risco-país -que é medido pela diferença entre os juros pagos pelos títulos dos governos brasileiro e norte-americano- ainda situar-se em níveis historicamente baixos é relevante, já que as oscilações têm impactos na formação da taxa de câmbio, no custo de captações e na definição dos juros internos.
Desde a última crise que atingiu a economia brasileira, no final de 2002, os indicadores de vulnerabilidade externa melhoraram muito. Naquele período, quando a desconfiança em relação aos resultados da eleição presidencial agitava os mercados, o nível de reservas estava em US$ 37,8 bilhões. Hoje, são US$ 59,8 bilhões.

Melhores indicadores
O maior nível de reservas, alimentado em grande parte pelos saldos comerciais recordes, melhorou os indicadores de vulnerabilidade externa. "Pagamos dívida externa de curto prazo e se percebe que, qualquer que seja o governo, há vontade política de pagá-la."
É difícil prever agora o que pode ocorrer nas próximas semanas. Por enquanto, entre os otimistas, que são ainda a maioria dos analistas, a percepção é a de que não se trata se uma crise ou de uma reversão muito forte no cenário externo.
"Não temos certeza do que acontecerá, nem de que isso é o início de um ajuste maior ou se é evento pontual. Os efeitos de um ajuste [nos EUA] sobre a economia global seriam grandes", diz Ricardo Amaral, chefe de pesquisas para a América Latina do West LB.
Ele aponta também para a melhora do que os economistas chamam de fundamentos da economia brasileira. Processo, aliás, que ocorreu em praticamente todo o mundo emergente, com países exibindo melhora nas contas públicas e no resultado das contas externas.


Texto Anterior: Saiba mais: Orientação é evitar mudar de aplicação
Próximo Texto: Excesso de liquidez é responsável por turbulência, afirmam especialistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.