São Paulo, sábado, 23 de maio de 2009

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Reajuste do mínimo eleva pisos salariais

Dieese revela que alta real do salário mínimo puxou rendimentos em 2008

Tendência de proteção de salários baixos pode ser afetada se houver retração do PIB, variável usada para calcular reajuste do mínimo

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O reajuste do salário mínimo protegeu o poder de compra dos pisos salariais no ano passado, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). O valor do mínimo serve como parâmetro em negociações de aumentos para os salários mais baixos.
"Os reajustes reais do salário mínimo estão empurrando os pisos para cima", afirma Luis Ribeiro, técnico do Dieese.
No ano passado, o salário mínimo teve aumento real de 4%, e, em 2007, de 5,1%. Com o incremento, a relação entre pisos e salário mínimo caiu: passou de 1,73% em 2005 para 1,34% em 2008. Ribeiro diz que a queda não significa perda de salário, e sim aproximação dos pisos ao valor do salário mínimo, que agora vale mais.
Cerca de 77% dos pisos salariais negociados em 2008 não ultrapassam 1,5 salário mínimo. O percentual é igual ao de 2007. No ano passado, só 2% das categorias obtiveram pisos acima de 2,5 salários mínimos.
Fábio Romão, consultor da LCA, destaca que, embora a taxa de ocupação tenha melhorado até o ano passado, o aumento dos salários e a diminuição da desigualdade de renda são um processo mais lento. "A política de ganho real do mínimo durante parte do governo Fernando Henrique Cardoso e no governo Lula trabalha para melhorar a distribuição de renda, embora só isso não resolva."

Campo
A maior incidência de salários baixos de ingresso está no campo. Comércio e serviços são os setores em que são mais recorrentes os pisos superiores a dois salários mínimos.
Na indústria, quase um terço das negociações sindicais obteve pisos superiores a 1,5 salário mínimo em 2008. O Dieese analisa que não houve queda dos pisos em razão da crise e que o ajuste para suportar a retração da economia foi feito no número de funcionários, e não no valor dos salários que servem de base para admissão.

Perspectivas
De acordo com Ribeiro, a crise não afetou as negociações dos pisos no ano passado, pois a economia brasileira só começou a dar sinais de retração no último trimestre do ano. Para o pesquisador, só será possível determinar quais serão os efeitos da retração da economia para os salários no final do ano.
"A depender do que vai ocorrer, é possível que a política de valorização do salário mínimo mude, mas por enquanto os dados continuam mostrando aumento real no salário mínimo e nos pisos", diz o pesquisador. O salário mínimo teve aumento real de 5,8% neste ano.
A política adotada pelo governo para determinar os reajustes do salário mínimo considera a inflação e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Claudio Dedecca, professor da Unicamp, afirma que, caso a economia tenha crescimento zero ou encolha neste ano, o papel do salário mínimo para a sustentação dos baixos rendimentos e da atividade econômica se reduzirá.
"Entretanto, a preservação de seu valor real é importante se um contexto de retração econômica ocorrer."


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