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TRABALHO
Receita Federal se preocupa com perda de arrecadação e pensa como aumentar tributação de pessoa jurídica
Terceirização de profissional de alta renda cresce
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cresce drasticamente o número
de trabalhadores que abrem uma
microempresa, sem empregados,
cuja única finalidade é prestar serviços autônomos para outra companhia. Essa nova onda de terceirização se destaca nas estatísticas,
atinge fortemente profissionais
de alta renda e ameaça a sanha arrecadatória da Receita Federal,
que busca formas de aumentar a
tributação dos "PJs" (sigla para
pessoas jurídicas).
Dados da Fundação Seade e do
Dieese mostram que, em 2002, o
subgrupo classificado como "autônomos para a empresa" cresceu
4,7% em números absolutos na
região metropolitana de São Paulo: a maior expansão entre todas
as posições pesquisadas. Em relação a outras categorias, esse subgrupo -que reúne 662 mil pessoas- se expandiu em 30%.
Os profissionais "autônomos
para a empresa" já representam
8,3% da força de trabalho na região metropolitana de SP hoje.
Em 1995, eram 6,7% do total. Em
termos absolutos, foi a segunda
categoria de trabalhadores que
mais cresceu, segundo dados da
Fundação Seade/Dieese, desde
1995: 38,4%, contra 40% de expansão dos empregados subcontratados do setor privado.
"Quem está nessa categoria
-que tende a abarcar todos os
terceirizados- não se declarou
assalariado, disse que trabalha como autônomo para uma ou mais
empresas", diz Sérgio Mendonça,
coordenador técnico do Dieese.
Tudo indica que, recentemente,
esse crescimento no número de
trabalhadores -que, registrados
como microempresa ou pequena
empresa, passam a prestar serviços autônomos- tem ocorrido,
principalmente, entre profissionais com renda mais alta.
Pesquisa do Grupo Catho (consultoria em RH) que entrevistou
9.174 pessoas pela internet mostra
que, entre 1997 e 2001, aumentou
23,72% o número de profissionais
contratados sem registro em carteira. Entre as posições, a flexibilização é maior entre os maiores salários: 50,8% dos presidentes de
empresas e 47,8% dos diretores e
vice-presidentes estão fora do regime da
CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).
"Hoje, encontramos trabalhadores terceirizados em todas as
faixas salariais. Mas a tendência é
mais forte entre os profissionais
mais especializados, que até têm
mais facilidade para abrir uma
empresa", diz Silvana Case, vice-presidente do Grupo Catho.
Levantamento feito pelo economista Alexandre de Freitas Barbosa, da Secretaria Municipal de
Trabalho de SP, a pedido da Folha, com base em dados da Rais
(Relação Anual de Informações
Sociais), mostra tendência de
queda no número de empregados
de alta renda registrados como assalariados com carteira assinada.
Segundo dados da Rais -que
reúne estatísticas sobre o mercado de trabalho coletadas pelo governo com base em informações
prestadas pelos empregadores-,
o número de trabalhadores que
ganham mais 40 salários mínimos
mensais caiu 25% entre 1998 e
2001. "Não existe rastreamento
que mostre exatamente o que
aconteceu com esses trabalhadores. Mas a hipótese de que tenham
desaparecido da estatística porque não conseguiram reajustes
iguais ou acima dos do salário mínimo é remota", diz Barbosa.
Segundo o economista, sobram
duas outras possíveis explicações
para a forte queda: foram demitidos ou estão montando sua própria empresa. "É possível que parte desses profissionais tenham sido demitidos e recontratados pela
mesma ou por outra empresa como autônomos. Ou, simplesmente, tenham resolvido sair e abrir
sua própria empresa."
Como diz o economista, é impossível rastrear com exatidão o
destino de todos os trabalhadores
mais abastados que desapareceram das estatísticas da Rais, mas o
cruzamento desses dados com os
do grupo Catho dão pistas de que
a terceirização esteja, de fato,
abarcando esses profissionais.
Causas
Segundo especialistas, são várias as causas para o aumento da
terceirização entre os trabalhadores brasileiros. O módico crescimento econômico dos últimos
anos é uma delas.
Pelas contas da Catho, a contratação de um prestador de serviços
é 42% mais barata que a de um
empregado com carteira assinada. Isso porque, no primeiro caso,
a empresa se livra dos gastos com
benefícios como décimo terceiro
salário, férias e FGTS.
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