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Proer "tira" recursos do crédito imobiliário
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Criado há quase dez anos, o
Proer (programa de reestruturação dos bancos privados) ainda
surte efeitos na economia. Atualmente, graças às regras instituídas
na época, R$ 21,775 bilhões que
poderiam ser aplicados no financiamento da casa própria são utilizados para outras finalidades
por instituições financeiras.
Se todo esse dinheiro fosse imediatamente destinado ao crédito
imobiliário, a oferta de financiamentos praticamente dobraria.
Segundo o Banco Central, chegam a R$ 24,962 bilhões os empréstimos desse tipo disponibilizados pelo sistema financeiro.
Esse obstáculo à expansão do
crédito foi criado em 1995, quando o Proer foi formalmente instituído, e envolve o FCVS (Fundo
de Compensação de Variações
Salariais), mecanismo criado para
cobrir o saldo devedor de contratos de financiamento da casa própria fechados até 1993.
Para que o Proer funcionasse, o
governo injetou nos bancos em
dificuldades títulos que fossem
negociados no mercado a um preço muito baixo, mas que apresentasse um elevado potencial de valorização no longo prazo.
Dívida longa
Era o caso dos papéis emitidos
para financiar o FCVS. O FCVS é
uma dívida de prazo muito longo
-seus títulos vencem em 2027-
e de difícil negociação, pois estão
atrelados a contratos de financiamento da casa própria. Além disso, apresentam baixa remuneração, pois são corrigidos pela TR
(Taxa Referencial).
O raciocínio era o seguinte: o
governo entregaria o FCVS aos
bancos quebrados e, à medida
que esses títulos se valorizassem,
as dívidas desses bancos poderiam ser pagas.
Como o governo não possuía os
títulos do FCVS, precisou comprá-los de alguns bancos, como o
Bradesco, o Unibanco e o Itaú. Estima-se que a operação tenha ficado em R$ 15 bilhões, porém foi
imposta uma condição: a modificação das regras do financiamento da casa própria.
Regras
Pelas normas do CMN (Conselho Monetário Nacional), os bancos são obrigados a destinar ao
crédito imobiliário pelo menos
65% dos depósitos feitos na caderneta de poupança. Permite-se,
porém, que aplicações no FCVS
sejam computadas como se fossem crédito imobiliário.
Isso significa que, ao vender títulos do FCVS ao governo para
viabilizar o Proer, alguns bancos
teriam que, imediatamente, destinar um volume bilionário de recursos no financiamento da casa
própria para continuar respeitando as exigências do CMN.
Para evitar isso, o governo abriu
uma exceção e permitiu que, mesmo depois de vendidos, os papéis
do FCVS destinados ao Proer
continuassem sendo computados
como crédito imobiliário.
Em agosto de 2002, esses títulos
-conhecidos no BC como
"FCVS virtual"- somavam mais
de R$ 23 bilhões.
Para tentar inverter a situação, o
CMN determinou que os bancos
passassem a reduzir seus estoques
de "FCVS virtual", investindo
mais no crédito habitacional. Foi
criada uma fórmula que calculava
o montante a ser aplicado mensalmente no setor.
Em abril do ano passado, como
o volume de recursos liberado pelos bancos era muito baixo, o
CMN introduziu mudanças nessa
fórmula, numa tentativa de acelerar o processo. Entre maio de
2003 e abril de 2004, o saldo de
"FCVS virtual" se reduziu em
5,9%. Mantida essa velocidade, a
situação do financiamento à casa
própria levaria 17 anos para se
normalizar por completo.
(NHC)
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