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Summers volta a gerar polêmica
Países não deveriam investir tanto em títulos norte-americanos, afirma ex-secretário do Tesouro
Para ex-membro do governo Clinton, emergente deveria aplicar em ações, que dão mais lucros, ou mesmo em infra-estrutura
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Se um economista marciano
chegasse à Terra agora e visse
que os países em desenvolvimento investem grandes importâncias no país mais rico do
mundo, e não o contrário, já
acharia que há algo errado por
aqui. Se examinasse a economia global com um pouco mais
de cuidado e visse que os maiores investidores desses países
pobres são os bancos centrais, e
não a iniciativa privada, e que o
principal destino do dinheiro é
uma aplicação que rende perto
de zero, deixaria o planeta correndo.
O raciocínio ganha peso
quando se sabe que seu autor é
Lawrence H. Summers, reitor
que acaba de deixar a Universidade Harvard e que foi secretário do Tesouro norte-americano por 18 meses, durante a gestão de Bill Clinton (1993-2001).
Segundo defendeu em discurso
no começo da semana no Centro para Desenvolvimento Global e vem dizendo em palestras
e entrevistas, os países em desenvolvimento deveriam vender boa parte de seus títulos do
Tesouro americano.
No cálculo de Summers,
América Latina, Ásia, Leste Europeu e África usam a maior
parte de suas reservas para
comprar títulos do Tesouro dos
EUA, que, quando descontada a
inflação e realizado o reajuste
cambial, têm renda perto de zero. "Deveriam aplicar em ações,
que lucram mais, ou mesmo em
obras", disse o polêmico acadêmico (leia texto nesta página).
Ele cita como exemplo extremo Botswana, país africano líder em desigualdade social, cujas reservas chegam a 66% do
PIB (US$ 6 bilhões), dinheiro
que está quase todo nos "treasuries" americanos. Mas também países do bloco Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O último tem reserva de US$ 724
bilhões (33% do PIB).
"Enquanto isso, deixam de
colocar esse dinheiro em investimentos muito mais lucrativos, como ações", discursa ele.
"Isso, em sociedade em que
centenas de milhões de pessoas
ainda são desesperadamente
pobres. É alarmante o custo
que esses portfólios fortemente baseados em "treasuries" tem
em emergentes. Essa é a ironia
global financeira da nossa era."
Suas falas vêm causando espécie em membros do governo
norte-americano e analistas
econômicos ortodoxos, mas foi
elogiada por entidades como o
Banco Mundial. O economista
defende seu ponto de vista dizendo que não prega uma "corrida dos países ao banco" para
vender os títulos norte-americanos, até porque os BCs desses
países necessitam de que uma
parte esteja em águas seguras
-e poucos investimentos são
mais seguros que os "treasuries". Mas continua:
"Suponha que você esteja em
Marte e nunca tenha estado no
planeta Terra, mas estudou
economia, e alguém diz que há
um grande número de países
relativamente pobres que crescem a taxas anuais de 4%, 5%,
6%, 8%, 10%, e que há esses outros países, que são ricos e estão
envelhecendo rápido, crescendo a taxas de 2% ao ano, 3% ao
ano, com populações crescendo muito devagar. Pois o fluxo
de capital na verdade é substancialmente maior dos países
pobres para os países ricos."
Summers classifica de "reserva" o excedente com que o
país conta depois de descontados os gastos que serão destinados ao pagamento da dívida externa por um ano; calcula que o
total global desse dinheiro esteja hoje entre US$ 2 trilhões e
US$ 3 trilhões. Se o montante
fosse aplicado numa carteira
conservadora de ações, por
exemplo, é provável que o retorno fosse de 5% ao ano -ou
US$ 100 bilhões. "Isso", conclui
ele, "é mais do que todos os países ricos juntos investem no
combate à pobreza num ano."
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