São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Proteção contra a inflação exige cuidados

Títulos prefixados atrelados à inflação podem render menos que o esperado se as taxas de juros subirem no futuro

Papéis públicos indexados ao IPCA pagaram diferentes taxas nos últimos 30 dias; dependendo de seus prazos, renderam mais ou menos


DA REPORTAGEM LOCAL

Quem pretende se proteger da inflação no curto prazo e cogita aderir a fundos indexados a índices de preços ou comprar títulos corrigidos pelo IPCA no Tesouro Direto pode fazer um mau negócio. O motivo é que vários desses papéis e fundos tiveram retorno ruim, chegando a ficar negativos, e a perder dos fundos DI em longo prazo.
O problema é que os títulos do governo indexados ao IPCA -as NTN-B vendidas pelo Tesouro- são remunerados por um juro prefixado mais o índice de inflação. Com o recente aumento das taxas de juros, os papéis mais antigos e que embutiam uma taxa prefixada menor do que as atuais do mercado são vendidos com forte deságio. Em alguns casos, mesmo o ganho alto com a correção pelo IPCA não foi suficiente para cobrir as perdas de rentabilidade com a taxa prefixada.
As NTN-B com vencimento em agosto de 2012, abril de 2035 e agosto de 2024 renderam, respectivamente, -0,34%, -0,53% e -1,87% sem contar o IPCA nos últimos 30 dias terminados no dia 11 de maio (última data atualizada).
Por outro lado, papéis mais curtos, como os com vencimento em agosto de 2008 e abril de 2009, tiveram retorno de 1,28% e 1,5% e ainda somarão o IPCA alto, que em maio foi de 0,79%. Acontece que esses dois papéis não estão mais disponíveis para compra no Tesouro Direto. Mas há outros, que pagam um pouco menos e mais a inflação.
Ou seja, se os juros dispararem nos próximos meses por conta da inflação, é bem provável que o investidor perca dinheiro se quiser vender papéis comprados com taxa prefixada ainda entre 6% e 7%.
Foi o que aconteceu em 2003, após o IGP-M saltar 25,31% em 2002, época da crise anterior à eleição presidencial. Muitos bancos abriram fundos atrelados ao IGP-M, captaram bilhões, mas quando o presidente Lula assumiu o governo e o BC levou os juros para 26%, o retorno desses fundos derreteu e muita gente perdeu dinheiro.
Vale lembrar que o investidor só perde se quiser vender os papéis antes do vencimento. O problema é que vários desses títulos vencem em mais de dez anos. Já o fundo perde porque tem de marcar os papéis a valor de mercado.
Para o consultor Fernando Lovisotto, da Risk Office, não há fórmula mágica para se proteger depois que uma "tempestade" já começou, como acontece agora com a inflação. Ele afirma que o investidor tem de saber o horizonte de tempo que deseja se proteger e ter um palpite sobre o rumo da inflação.
"Se quer se proteger por seis meses a um ano, pode continuar num fundo DI, que não tem problema. Ou então compra o papel de vencimento até 2010. Se quer por um período um pouco maior, vai para o de 2015, que tem taxa de juros ainda alta. Se acha que o mercado, daqui a um ano ou dois, vai melhorar, pode comprar até o mais longo", disse.
(TONI SCIARRETTA)


Texto Anterior: Seminário demonstra como funciona o mercado de ações
Próximo Texto: UBS Pactual troca comando e tenta manter desempenho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.