São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

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Mercado vê juro maior após eleição de 2010

Mesmo com Selic menor, contratos para janeiro/11 sobem de 9,66% para 9,73%

Investidores e bancos apostam que o BC será obrigado a elevar os juros lá na frente, anulando esforço atual para reduzir a taxa

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Existe uma incômoda discrepância entre a Selic, a taxa básica de juros que caiu ontem para 8,75%, e os juros futuros, especialmente as taxas projetadas para depois das eleições presidenciais de outubro de 2010.
Os contratos feitos para janeiro de 2011, por exemplo, subiram ontem de 9,66% para 9,73% ao ano, quase um ponto percentual acima da atual Selic.
Em outras palavras, investidores e bancos apostam que o BC será obrigado a elevar os juros lá na frente, o que tende a anular os esforços do BC para reduzir as taxas no presente.
A rigor, os bancos não emprestam olhando para a Selic, mas justamente para o custo futuro da captação de recursos. Portanto, se eles desconfiam de uma trajetória inversa dos juros, surge um argumento para não baixar, já, as taxas cobradas nos empréstimos.
É como se os agentes do mercado dissessem: "Sei que o Banco Central está fazendo um esforço para baixar as taxas, mas acho que esse esforço será em vão porque os juros terão de subir no ano que vem".
E por que os mercados acham que as taxas subirão em 2010? Há explicações para todos os gostos. Surgiu até um motivo eleitoral, elaborado pelo próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante reunião ministerial na semana passada.
"Tem gente em São Paulo que não inspira muita segurança no mercado", disse Meirel- les, para justificar por que a queda de juros não tem afetado as projeções para 360 dias.
Seria uma menção ao governador de São Paulo, José Serra, possível candidato do PSDB à Presidência e crítico da toada monetária do governo. Procurado pela Folha, o presidente do BC não quis comentar.

Viés eleitoral
Tucanos acusam Meirelles de inaugurar, com essa frase, uma versão reciclada do terrorismo eleitoral usado contra o PT em 2002. Com um agravante: Meirelles pode desligar-se do cargo para disputar eleições no ano que vem, talvez ao governo de Goiás. Portanto, dizem os tucanos, não se sabe se quem falou foi o candidato ou o presidente do Banco Central.
Ao menos em seus relatórios preparados semanalmente, os bancos não têm identificado motivos eleitorais para a defasagem entre as duas taxas.
"O mercado descolou do BC (ou vice versa), o que resultou em significativo aumento da inclinação da curva de juros", diz relatório feito pelo Santander. "A conclusão inescapável é que cortes adicionais da Selic tendem a ser contraproducentes enquanto o mercado enxergar a economia brasileira já em recuperação robusta."
Em outras palavras, os economistas do Santander acham, simplesmente, que o BC erra ao baixar os juros porque as quedas anteriores já teriam cumprido plenamente o propósito de reativar a economia.

Gastos cíclicos
Analistas consultados pela Folha dizem que, se existe, o risco eleitoral decorre da convicção generalizada de que os gastos públicos vão aumentar com a disputa de 2010 -principalmente aqueles ligados ao alívio instantâneo da pobreza.
De fato, estudo do CPS-Ibre-FGV (Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) apontou uma ligação direta entre eleições no Brasil e um aumento efêmero de renda e redução da miséria.
Feito em 2006, o levantamento mostra que, em todos os anos eleitorais desde a década de 1980, com exceção de 1982, houve redução da miséria e aumento de renda média do brasileiro. No ano seguinte ao da eleição, porém, a situação se inverte: há aumento de pobreza e queda no rendimento médio.
Isso não quer dizer que toda política de renda é eleitoreira. Nem que toda política eleitoreira é, por natureza, incapaz de melhorar a renda.
Para efeitos monetários, no entanto, gasto público em excesso, quando aplicado sobre uma economia já robusta, pode acelerar a inflação. E essa pode ser uma das hipóteses aventadas pelo mercado para apostar contra o movimento do BC.
Em seu segundo mandato, o presidente Lula expandiu os gastos correntes e elevou a contratação de um conjunto de obrigações irreversíveis.
As despesas com pessoal e encargos pularam de R$ 100 bilhões em 2005 para R$ 170 bilhões, segundo estimativa para este ano. E as despesas de 2010 serão ampliadas com ações que vão desde o Bolsa Família até o Pronaf, passando pela expansão na área de educação.


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