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Mercado vê juro maior após eleição de 2010
Mesmo com Selic menor, contratos para janeiro/11 sobem de 9,66% para 9,73%
Investidores e bancos apostam que o BC será obrigado a elevar os juros lá na frente, anulando esforço atual para reduzir a taxa
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Existe uma incômoda discrepância entre a Selic, a taxa básica de juros que caiu ontem para
8,75%, e os juros futuros, especialmente as taxas projetadas
para depois das eleições presidenciais de outubro de 2010.
Os contratos feitos para janeiro de 2011, por exemplo, subiram ontem de 9,66% para
9,73% ao ano, quase um ponto
percentual acima da atual Selic.
Em outras palavras, investidores e bancos apostam que o
BC será obrigado a elevar os juros lá na frente, o que tende a
anular os esforços do BC para
reduzir as taxas no presente.
A rigor, os bancos não emprestam olhando para a Selic,
mas justamente para o custo
futuro da captação de recursos.
Portanto, se eles desconfiam de
uma trajetória inversa dos juros, surge um argumento para
não baixar, já, as taxas cobradas
nos empréstimos.
É como se os agentes do mercado dissessem: "Sei que o Banco Central está fazendo um esforço para baixar as taxas, mas
acho que esse esforço será em
vão porque os juros terão de subir no ano que vem".
E por que os mercados
acham que as taxas subirão em
2010? Há explicações para todos os gostos. Surgiu até um
motivo eleitoral, elaborado pelo próprio presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
durante reunião ministerial na
semana passada.
"Tem gente em São Paulo
que não inspira muita segurança no mercado", disse Meirel-
les, para justificar por que a
queda de juros não tem afetado
as projeções para 360 dias.
Seria uma menção ao governador de São Paulo, José Serra,
possível candidato do PSDB à
Presidência e crítico da toada
monetária do governo. Procurado pela Folha, o presidente
do BC não quis comentar.
Viés eleitoral
Tucanos acusam Meirelles
de inaugurar, com essa frase,
uma versão reciclada do terrorismo eleitoral usado contra o
PT em 2002. Com um agravante: Meirelles pode desligar-se
do cargo para disputar eleições
no ano que vem, talvez ao governo de Goiás. Portanto, dizem os tucanos, não se sabe se
quem falou foi o candidato ou o
presidente do Banco Central.
Ao menos em seus relatórios
preparados semanalmente, os
bancos não têm identificado
motivos eleitorais para a defasagem entre as duas taxas.
"O mercado descolou do BC
(ou vice versa), o que resultou
em significativo aumento da inclinação da curva de juros", diz
relatório feito pelo Santander.
"A conclusão inescapável é que
cortes adicionais da Selic tendem a ser contraproducentes
enquanto o mercado enxergar a
economia brasileira já em recuperação robusta."
Em outras palavras, os economistas do Santander acham,
simplesmente, que o BC erra ao
baixar os juros porque as quedas anteriores já teriam cumprido plenamente o propósito
de reativar a economia.
Gastos cíclicos
Analistas consultados pela
Folha dizem que, se existe, o
risco eleitoral decorre da convicção generalizada de que os
gastos públicos vão aumentar
com a disputa de 2010 -principalmente aqueles ligados ao
alívio instantâneo da pobreza.
De fato, estudo do CPS-Ibre-FGV (Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas) apontou uma ligação direta entre eleições no
Brasil e um aumento efêmero
de renda e redução da miséria.
Feito em 2006, o levantamento mostra que, em todos os
anos eleitorais desde a década
de 1980, com exceção de 1982,
houve redução da miséria e aumento de renda média do brasileiro. No ano seguinte ao da
eleição, porém, a situação se inverte: há aumento de pobreza e
queda no rendimento médio.
Isso não quer dizer que toda
política de renda é eleitoreira.
Nem que toda política eleitoreira é, por natureza, incapaz
de melhorar a renda.
Para efeitos monetários, no
entanto, gasto público em excesso, quando aplicado sobre
uma economia já robusta, pode
acelerar a inflação. E essa pode
ser uma das hipóteses aventadas pelo mercado para apostar
contra o movimento do BC.
Em seu segundo mandato, o
presidente Lula expandiu os
gastos correntes e elevou a contratação de um conjunto de
obrigações irreversíveis.
As despesas com pessoal e
encargos pularam de R$ 100 bilhões em 2005 para R$ 170 bilhões, segundo estimativa para
este ano. E as despesas de 2010
serão ampliadas com ações que
vão desde o Bolsa Família até o
Pronaf, passando pela expansão na área de educação.
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