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entrevista
Juro deixa de ser problema, diz professor
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de algumas "barbeiragens" no ano passado, o
Banco Central finalmente
acertou a mão em 2009, na
opinião de Ricardo Carneiro,
professor titular do Instituto
de Economia da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas).
Para ele, agora que a taxa
Selic está em 8,75% ao ano,
os juros brasileiros se aproximam de um patamar "razoável" e deixam de ser o principal obstáculo para o desenvolvimento do país.
Leia abaixo trechos da entrevista que Carneiro concedeu ontem à Folha, por telefone.
(DENYSE GODOY)
FOLHA - Como o senhor avalia a
atuação do BC nesta crise, no que
diz respeito à administração da
taxa de juros?
RICARDO CARNEIRO - Houve
progressos, claro. O Copom
tem agido corretamente desde janeiro. Antes, fez várias
barbeiragens, como responder com aumento de juros a
choques de oferta de matérias-primas -e isso ainda em
2008, quando a crise estava
claramente anunciada.
FOLHA - Existe um limite para a
redução dos juros no Brasil?
CARNEIRO - Como é uma economia aberta, isso não depende só do país. Deve haver
um equilíbrio entre as taxas
internas e as que são cobradas do Brasil no exterior, o
que, em última análise, depende do risco soberano.
Uma taxa real [descontando
a inflação] de 4% ao ano parece bastante razoável. Abaixo disso, poderia provocar
uma saída de capitais.
FOLHA - Será que, com a esperada recuperação da economia no
segundo semestre, pode haver
algum repique inflacionário que
obrigue o Banco Central a voltar a
subir a Selic?
CARNEIRO - Acho difícil, porque o nível de utilização da
capacidade instalada está
bastante baixo. Depende
também de uma retomada
dos investimentos, caso a demanda cresça muito rapidamente, mas a inflação não é
um problema que esteja no
horizonte. Aliás, no nível em
que se encontra atualmente,
a taxa de juros também deixou de ser o pior problema da
economia brasileira. A taxa
que está errada é a de câmbio. Cometeu-se um grande
equívoco quando se permitiu
que chegasse aonde está agora. A desvalorização que
aconteceu neste ano é a
maior da história recente do
país.
FOLHA - Se os juros não são um
empecilho, então o que está impedindo as empresas de investir
são a demanda interna e a taxa
de câmbio, que prejudica as vendas para o exterior?
CARNEIRO - Quando se fala
em demanda, há três categorias importantes. O consumo
das famílias, os gastos do governo e as exportações. A primeira é mais fácil de recuperar e a outra se manteve; já as
vendas externas caíram muito, e o câmbio atual tira o seu
dinamismo. É grave. Estamos perdendo mercado para
a China até na América do
Sul, onde sempre fomos fortes, e o ritmo de importação
está se acelerando.
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