São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

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entrevista

Juro deixa de ser problema, diz professor

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de algumas "barbeiragens" no ano passado, o Banco Central finalmente acertou a mão em 2009, na opinião de Ricardo Carneiro, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para ele, agora que a taxa Selic está em 8,75% ao ano, os juros brasileiros se aproximam de um patamar "razoável" e deixam de ser o principal obstáculo para o desenvolvimento do país. Leia abaixo trechos da entrevista que Carneiro concedeu ontem à Folha, por telefone. (DENYSE GODOY)

 

FOLHA - Como o senhor avalia a atuação do BC nesta crise, no que diz respeito à administração da taxa de juros?
RICARDO CARNEIRO
- Houve progressos, claro. O Copom tem agido corretamente desde janeiro. Antes, fez várias barbeiragens, como responder com aumento de juros a choques de oferta de matérias-primas -e isso ainda em 2008, quando a crise estava claramente anunciada.

FOLHA - Existe um limite para a redução dos juros no Brasil?
CARNEIRO
- Como é uma economia aberta, isso não depende só do país. Deve haver um equilíbrio entre as taxas internas e as que são cobradas do Brasil no exterior, o que, em última análise, depende do risco soberano. Uma taxa real [descontando a inflação] de 4% ao ano parece bastante razoável. Abaixo disso, poderia provocar uma saída de capitais.

FOLHA - Será que, com a esperada recuperação da economia no segundo semestre, pode haver algum repique inflacionário que obrigue o Banco Central a voltar a subir a Selic?
CARNEIRO
- Acho difícil, porque o nível de utilização da capacidade instalada está bastante baixo. Depende também de uma retomada dos investimentos, caso a demanda cresça muito rapidamente, mas a inflação não é um problema que esteja no horizonte. Aliás, no nível em que se encontra atualmente, a taxa de juros também deixou de ser o pior problema da economia brasileira. A taxa que está errada é a de câmbio. Cometeu-se um grande equívoco quando se permitiu que chegasse aonde está agora. A desvalorização que aconteceu neste ano é a maior da história recente do país.

FOLHA - Se os juros não são um empecilho, então o que está impedindo as empresas de investir são a demanda interna e a taxa de câmbio, que prejudica as vendas para o exterior?
CARNEIRO
- Quando se fala em demanda, há três categorias importantes. O consumo das famílias, os gastos do governo e as exportações. A primeira é mais fácil de recuperar e a outra se manteve; já as vendas externas caíram muito, e o câmbio atual tira o seu dinamismo. É grave. Estamos perdendo mercado para a China até na América do Sul, onde sempre fomos fortes, e o ritmo de importação está se acelerando.


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