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Decisões do conselho correm risco de interferência do governo
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A multa de R$ 353 milhões
aplicada contra a AmBev por
práticas anticompetitivas marca uma nova etapa do Cade. "O
caso sinaliza que a defesa da
concorrência no país alcançou
amadurecimento", diz Pedro
Dutra, advogado que já trabalhou no Cade.
O caso chegou ao conselho,
em 2007. Antes disso, as investigações foram coordenadas
pelo atual presidente da instituição, Arthur Badin, então
chefe de gabinete da Secretaria
de Desenvolvimento Econômico. Badin foi transferido para o
Cade em 2006 e chegou à presidência em novembro passado.
Hoje, ele coordena uma intensa campanha pelo fortalecimento da instituição, defendendo, por exemplo, o projeto
de lei em tramitação no Congresso que dará mais rapidez na
análise dos processos.
"O atual sistema de defesa da
concorrência é motivo de admiração e escárnio", diz Badin.
"Somos o país que mais avançou na defesa da concorrência.
No entanto, somos o que tem
corpo técnico mais escasso."
Badin diz que existem só 16
técnicos para investigar cartéis
em todo o país. No caso da AmBev, 12 participaram das operações. Ele espera que, até 2012, o
Cade tenha 200 examinadores.
Uma mudança nos procedimentos internos também permitirá redução no tempo de
análise dos casos. Isso se reverterá em mais julgamentos.
Mas, se por um lado houve
avanços, também houve retrocesso. Desde 2003, o governo
federal tenta restringir a atuação das agências reguladoras
-o Cade entre elas. Essa ideia
culminou na publicação de
uma portaria da AGU (Advocacia Geral da União), em 2009,
determinando que, caso sejam
contestadas na Justiça, as decisões das agências serão defendidas por advogados da AGU.
Isso abriu precedentes a interferências de empresas junto
ao governo para "amenizar"
multas ou decisões do Cade na
Justiça, já que nos tribunais estarão os advogados do governo,
não os da agência.
Quando era procurador-geral do Cade, Badin derrotou a
Vale do Rio Doce no STF, mantendo a decisão do conselho.
Também por isso, a aprovação
de seu nome à presidência do
Cade pelo Senado teve um tumultuado processo.
Ao mesmo tempo em que implementa mudanças, o Cade
tenta recuperar R$ 1,5 bilhão
devido pelas empresas autuadas. Cerca de 80% das autuações foram contestadas por
elas na Justiça. Em 2008, só R$
62 milhões foram pagos.
Antes da AmBev, a maior
multa aplicada pelo Cade era de
R$ 156 milhões, contra a Gerdau, que recebeu autuação por
formação de cartel na venda de
aço, em 2005. Até hoje a multa
não foi paga e está sub judice.
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