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Pressão salarial no custo das empresas preocupa BC
Banco vê risco inflacionário no descompasso entre vagas disponíveis e busca por emprego
Reivindicações por reajuste nos salários deverão crescer neste semestre, quando estarão em curso cerca de 300 negociações salariais
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de as maiores ameaças ao controle dos preços no
país desde o segundo semestre
do ano passado estarem concentradas no front externo, nos
últimos meses é o mercado interno que tem tirado o sono dos
diretores do Banco Central.
Nem mesmo o recuo recente
nas projeções para o IPCA de
2008 (índice referência para o
governo) aliviou as preocupações com os ganhos salariais,
fruto do aquecimento da economia e combustível para aumento do consumo.
Segundo a Folha apurou, para o BC, o país vive um momento especial do ciclo de crescimento em que nem mesmo os
ganhos de produtividade têm
sido suficientes para anular as
pressões salariais no custo final
das empresas.
A renda dos trabalhadores
tem crescido não apenas pelos
reajustes acima da inflação registrados nos últimos anos mas
também por um descasamento
entre uma maior oferta de vagas e a procura por emprego.
Esse descompasso é acentuado pelos gargalos de setores
importantes, como a construção civil, e a procura por mão-de-obra mais qualificada em
outros segmentos e se traduzem em salários maiores para
os trabalhadores que estão entrando no mercado.
Levantamento feito por José
Márcio Camargo, especialista
em mercado de trabalho, mostra que a preocupação do BC
não é à toa. Segundo ele, o crescimento médio da quantidade
de pessoas que estatisticamente estão aptas ao mercado de
trabalho (a chamada PEA) caiu
de algo próximo a 4% ao ano
para 2% anuais nos últimos
anos. "Ao mesmo tempo, a taxa
de geração de emprego, que era
de 2% ao ano, subiu para 5% ao
ano, a partir de 2006."
Isso, para ele, é mais relevante do que as cerca de 300 negociações salariais que estarão
em curso neste semestre. Entre elas, categorias fortes como
metalúrgicos, bancários, petroleiros, comerciários e químicos, setores com tradição sindical e fortes lucros.
Dificuldade
Com a oferta de vagas subindo num ritmo maior do que o
número de trabalhadores disponíveis, as empresas não conseguem substituir funcionários
que são desligados -porque
pediram demissão, foram demitidos ou se aposentaram-
por outros com salário menor.
"A relação entre o salário dos
trabalhadores desligados e os
admitidos mostra que as empresas têm dificuldade em contratar com salário menor hoje",
diz Camargo, um dos primeiros
a destacarem o problema.
Além disso, diz ele, o custo
unitário do trabalho -uma medida que avalia quanto o custo
real do funcionário subiu acima
da produtividade dele- vinha
se elevando, em média, 2% ao
ano até janeiro deste ano,
quando pulou para 7% ao ano.
Num ambiente de forte crescimento da economia, em que
as empresas têm bons resultados e até o presidente da República enfatiza que essa é a hora
de os trabalhadores pedirem
reajustes salariais acima da inflação (como fez Lula na posse
da diretoria do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, no início
deste mês), a chance de esses
ganhos serem repassados para
os preços ao consumidor e, portanto, para inflação é grande.
Esse é o temor dos diretores
do Banco Central e o que, segundo eles, explica, em parte,
por que as expectativas para o
IPCA do ano que vem resistem
a cair. Há cinco semanas, a projeção está em 5%, acima da meta central de 4,5% para 2009. E
isso apesar de todo o discurso
do BC de que não hesitará em
combater a inflação e das altas
recentes na taxa de juros.
O objetivo do BC é fazer essa
estimativa convergir para a meta. Nas últimas semanas, a projeção para 2008 recuou devido
à queda no preço de commodities. Para o BC, as projeções de
2009 só cairão quando empresários e analistas começarem a
perceber que haverá, de fato,
um freio no crescimento.
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