São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Câmbio hoje impacta menos na inflação, avalia BIS

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central incorporou a seus modelos de previsão da inflação a premissa de que uma eventual desvalorização do real ante o dólar terá impacto muito menor sobre o aumento da inflação do que em anos anteriores. O banco não divulga essa estimativa, mas cálculos feitos pelo BIS, o banco central dos bancos centrais, e por analistas nacionais mostram que o efeito do câmbio sobre os preços internos tem diminuído nos últimos anos. No BC, o levantamento feito pelo BIS é tido como uma boa indicação do que está acontecendo no país.
O BIS comparou 14 países emergentes em dois períodos: do fim dos anos 1980 e início da década de 1990 até 2000 e entre 1994 e 2006. No caso brasileiro, constatou que, no primeiro período, uma mudança no câmbio era quase que inteiramente repassada aos preços. Já após 1994, uma depreciação de 1% na taxa de câmbio implica aumento de apenas 0,1% na inflação do trimestre seguinte.
O ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e economista-chefe para a América Latina do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, também constatou que o câmbio não é mais um grande vilão da inflação. Usando dados de 2000 a 2007, o economista concluiu que o repasse do câmbio para a inflação, que era de 67% até o fim de 2003, foi reduzido para 25% no fim de 2007.
Segundo trabalho feito por Schwartsman e Cristiano Souza, a mudança ocorreu não apenas na magnitude dos repasses mas também na duração que um movimento no câmbio tem sobre os preços no longo prazo.
As estimativas dos dois economistas mostram que, no fim de 2003, uma desvalorização ou valorização do real ante o dólar demoraria cerca de um ano para ser absorvida pela economia. Em 2007, a duração do choque caiu para 1,6 trimestre. "Essa mudança dá conforto num cenário de déficit em contas correntes. Haverá sempre algum impacto do câmbio, mas muito menor do que antes", diz Schwartsman.
A discussão sobre o efeito do câmbio na inflação voltou a ganhar espaço entre os economistas por causa do que parece ser uma mudança na tendência de valorização do real ante o dólar. Depois de seis anos de fortalecimento da moeda nacional, os economistas começam a projetar uma desvalorização.
A economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, não vê espaço para mais valorização do diante do dólar e projeta um cenário em que a moeda brasileira se desvalorize lentamente. "Não há por que acredita que o câmbio nos dará os sustos do passado", diz Zeina, que considera a credibilidade do BC como maior impedimento ao repasse da desvalorização para os preços.
O professor Fernando Cardim, da UFRJ, acrescenta que um pouco de desvalorização cambial poderá estimular as exportações e ajudar a reduzir o déficit de 1,5% do PIB que o país deve registrar neste ano em suas transações com o exterior. Segundo ele, a inflação será afetada pela moeda mais fraca, mas uma queda nas cotações internacionais de commodities vai baratear as importações e, ao mesmo tempo, reduzir o preço de produtos como carne e açúcar, que acompanham o mercado internacional.
"Em períodos de choques cambiais, as expectativas se desestabilizam e perdem-se os parâmetros. Isso é um incentivo a repassar a preços. Mas não há nenhum choque no horizonte visível", afirma Cardim.


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