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Câmbio hoje impacta menos na inflação, avalia BIS
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central incorporou
a seus modelos de previsão da
inflação a premissa de que uma
eventual desvalorização do real
ante o dólar terá impacto muito
menor sobre o aumento da inflação do que em anos anteriores. O banco não divulga essa
estimativa, mas cálculos feitos
pelo BIS, o banco central dos
bancos centrais, e por analistas
nacionais mostram que o efeito
do câmbio sobre os preços internos tem diminuído nos últimos anos. No BC, o levantamento feito pelo BIS é tido como uma boa indicação do que
está acontecendo no país.
O BIS comparou 14 países
emergentes em dois períodos:
do fim dos anos 1980 e início da
década de 1990 até 2000 e entre 1994 e 2006. No caso brasileiro, constatou que, no primeiro período, uma mudança no
câmbio era quase que inteiramente repassada aos preços. Já
após 1994, uma depreciação de
1% na taxa de câmbio implica
aumento de apenas 0,1% na inflação do trimestre seguinte.
O ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e economista-chefe para a América Latina do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, também
constatou que o câmbio não é
mais um grande vilão da inflação. Usando dados de 2000 a
2007, o economista concluiu
que o repasse do câmbio para a
inflação, que era de 67% até o
fim de 2003, foi reduzido para
25% no fim de 2007.
Segundo trabalho feito por
Schwartsman e Cristiano Souza, a mudança ocorreu não apenas na magnitude dos repasses
mas também na duração que
um movimento no câmbio tem
sobre os preços no longo prazo.
As estimativas dos dois economistas mostram que, no fim
de 2003, uma desvalorização
ou valorização do real ante o
dólar demoraria cerca de um
ano para ser absorvida pela
economia. Em 2007, a duração
do choque caiu para 1,6 trimestre. "Essa mudança dá conforto
num cenário de déficit em contas correntes. Haverá sempre
algum impacto do câmbio, mas
muito menor do que antes", diz
Schwartsman.
A discussão sobre o efeito do
câmbio na inflação voltou a ganhar espaço entre os economistas por causa do que parece
ser uma mudança na tendência
de valorização do real ante o
dólar. Depois de seis anos de
fortalecimento da moeda nacional, os economistas começam a projetar uma desvalorização.
A economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, não vê espaço para mais valorização do
diante do dólar e projeta um cenário em que a moeda brasileira se desvalorize lentamente.
"Não há por que acredita que o
câmbio nos dará os sustos do
passado", diz Zeina, que considera a credibilidade do BC como maior impedimento ao repasse da desvalorização para os
preços.
O professor Fernando Cardim, da UFRJ, acrescenta que
um pouco de desvalorização
cambial poderá estimular as
exportações e ajudar a reduzir
o déficit de 1,5% do PIB que o
país deve registrar neste ano
em suas transações com o exterior. Segundo ele, a inflação será afetada pela moeda mais fraca, mas uma queda nas cotações internacionais de commodities vai baratear as importações e, ao mesmo tempo, reduzir o preço de produtos como
carne e açúcar, que acompanham o mercado internacional.
"Em períodos de choques
cambiais, as expectativas se desestabilizam e perdem-se os
parâmetros. Isso é um incentivo a repassar a preços. Mas não
há nenhum choque no horizonte visível", afirma Cardim.
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