|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Relação entre dívida pública e PIB sobe três pontos sem a "ajuda" da inflação
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo comemora a redução da relação entre dívida pública e PIB (Produto Interno
Bruto) para os níveis mais baixos dos últimos anos, mas essa
queda só tem sido possível por
causa da ajuda da inflação. Essa
proporção, um dos principais
indicadores da solidez fiscal de
um país, estaria três pontos
percentuais mais elevada se
não fosse a alta dos preços.
A dívida líquida do setor público -que inclui compromissos do governo federal, Estados, municípios e estatais-
chegou a R$ 1,180 trilhão no fim
do primeiro semestre deste
ano, valor que, segundo dados
do Banco Central, corresponde
a 40,4% do PIB. Trata-se do nível mais baixo desde 1998.
Parte desse resultado se explica pela metodologia usada
pelo BC para calcular esse indicador: para fazer a comparação
com a dívida pública, o valor do
PIB é corrigido pelo IGP-DI
(Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna).
Nos 12 meses encerrados em
junho, esse índice acumulou alta de 14%. Ao contrário dos índices de preços ao consumidor,
como o IPCA, o IGP-DI é influenciado também pelos preços de matérias-primas e de insumos da construção civil, segmentos com pressões por reajustes mais fortes neste ano.
Se a relação entre dívida e
PIB fosse calculada sem o efeito do IGP-DI, teria encerrado o
primeiro semestre em 43,4%.
O BC alega que, como os valores da dívida pública são atualizados mensalmente pelas taxas
de juros acertadas com os credores, é preciso aplicar o mesmo critério e corrigir o PIB. Em
tempos de inflação baixa, não
há muita diferença, mas a situação muda em casos como o
atual, de preços em alta.
"Em épocas de inflação elevada, o PIB realmente acaba
superestimado", diz Carlos
Thadeu de Freitas, ex-diretor
do BC e economista da CNC
(Confederação Nacional do Comércio). O problema surge da
complexidade do cálculo das
contas nacionais.
Saída
Uma saída, diz Freitas, seria
comparar o tamanho do endividamento público com algum
outro indicador relacionado à
capacidade do governo em pagar suas contas em dia, como a
arrecadação de impostos. "O
problema é que a arrecadação
apresenta muita volatilidade."
O economista Francisco Lopreato, professor da Unicamp,
ressalta ainda que a alta da inflação, especialmente do IGP-DI, também tem impacto negativo nas finanças públicas por
causa do aumento que provoca
na dívida dos Estados.
Essa dívida passou a ser corrigida pelo IGP-DI depois de
renegociadas com a União, ainda no governo FHC. "Como a
economia está bem, os Estados
estão quietos, mas em algum
momento vão começar a chiar."
Segundo Lopreato, os Estados continuam destinando parte de suas receitas para honrar
seus compromissos e não têm
atrasado pagamentos. O problema, afirma o economista, é
que mesmo com esses pagamentos o saldo devedor continua crescendo por causa da
correção feita pelo IGP-DI, o
que dificulta a quitação total da
dívida. "Em algum momento,
essa questão vai precisar ser rediscutida", afirma.
Texto Anterior: Mudança cria condições para Petrobras investir no pré-sal Próximo Texto: César Benjamin: Livre comércio: coisas e rótulos Índice
|