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Pré-sal terá risco maior, aponta estudo
Companhias estrangeiras elaboram documento para tentar influenciar a discussão da nova Lei do Petróleo no Congresso
Governo, que quer mudar lei para ficar com fatia maior das reservas, diz que estudo sigiloso da Petrobras reitera o potencial do pré-sal
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
Insatisfeitas com o desenho
da nova Lei do Petróleo, empresas estrangeiras produziram um documento em que
lançam dúvidas sobre os riscos
de explorar petróleo no pré-sal.
Intitulado "Risco zero no
pré-sal: fato e ficção", o texto foi
elaborado por técnicos de duas
petrolíferas internacionais para subsidiar seus diretores a influenciar a discussão da proposta do governo, que terá de
ser aprovada no Congresso.
O texto diz que "é preciso e
urgente confrontar a versão do
"risco zero" propalada pelo governo Lula, com amparo da Petrobras". Acrescenta que o pré-sal é "um velho conhecido da
indústria petrolífera, que, até a
descoberta [do campo] de Tupi,
tem desempenhado papel secundário do ponto de vista de
sua capacidade de produção comercial". Em conversas reservadas, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) costuma rebater esse discurso citando que o
governo tem um estudo "confidencial e sigiloso" da Petrobras
mostrando o potencial da área.
A quem pede acesso ao estudo, ela nega sob o argumento de
que o vazamento dele influenciaria o mercado de ações.
Inicialmente, especialistas
chegaram a apontar reservas de
até 100 bilhões de barris no
pré-sal. Um dos números com
que o governo trabalha é de 50
bilhões de barris. Atualmente,
as reservas brasileiras são de
cerca de 14 bilhões de barris.
Nos últimos três anos, o sucesso na exploração do pré-sal
-30 poços perfurados pela Petrobras e suas sócias, 87% com
indícios de hidrocarboneto-
reforçou o "risco zero". Para o
governo, mudar as regras é uma
forma de assegurar à União
uma fatia maior nas reservas.
O documento das petrolíferas lembra que, no pré-sal brasileiro, foram perfurados 150
poços entre os anos 70 e 90,
com taxa de sucesso de 25%. E
que os reservatórios que produziram em quantidade satisfatória não chegavam a 10%.
As empresas ressaltam, ainda, que o petróleo do pré-sal em
voga nos dias de hoje está em
rochas ainda pouco conhecidas
-as carbonáticas-, mais especificamente na bacia de Santos.
Além disso, elas alegam que
ainda é cedo para afirmar que a
produção de petróleo terá padrão semelhante em toda a região, porque faltam testes.
Os estudos geológicos indicam que as rochas carbonáticas
se encontram em uma faixa
distante 300 quilômetros da
costa, sob uma camada de sal de
dois quilômetros de espessura,
cerca de seis quilômetros sob o
fundo do mar, entre o Espírito
Santo e Santa Catarina.
Por enquanto, apenas um poço de Tupi, do pré-sal de Santos, entrou em teste de produção. Nele, as estimativas são de
reservas de 5 bilhões a 8 bilhões
de barris. O teste, iniciado em
maio, foi interrompido em julho por problemas técnicos.
Ex-funcionários da Petrobras, onde trabalharam por
mais de 30 anos, os geólogos
Wagner Freire e Giuseppe Bacoccoli discordam da tese "risco zero". Para Freire, não há como garantir sucesso apenas por
analogia geológica.
"As rochas carbonáticas são
muito imprevisíveis. Dois reservatórios próximos nessas
rochas podem ter características de porosidade e permeabilidade muito distintas. São esses
aspectos que determinam a facilidade de o petróleo sair ou
não", explica Freire.
Bacoccoli acompanhou as
perfurações nos anos 70 e 80
mencionadas no documento
das petrolíferas. Segundo ele, é
impossível concluir que não há
risco nas áreas do pré-sal não
perfuradas. "O sucesso nas perfurações feitas até agora foi
usado politicamente para mudar as regras do jogo."
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