São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEI€ÃO
Oposição e governo discordam sobre Mercosul
Economia domina política argentina

AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires

Faltam 14 meses para as eleições na Argentina, mas os políticos locais não mostram cerimônia. Em meio à crise financeira internacional, a campanha eleitoral já começou, e a economia é o centro do debate.
Os governistas do Partido Justicialista brigam entre si. A Aliança (bloco de oposição) lançou prévia de programa de governo, despertando críticas dos economistas oficiais.
"A campanha começou muito cedo. Não houve interrupção depois das eleições legislativas do ano passado", afirmou Pablo Guidotti, vice-ministro da Economia.
"Iniciou muito cedo, mas é inédito a oposição apresentar suas propostas com essa antecipação. Isso por um lado é bom, mas por outro acelera a campanha", disse o economista José Luiz Machinea, ministeriável da oposição.
O eixo do programa da Aliança é estimular exportações com financiamento para pequenas empresas, benefícios fiscais e criação de órgãos promotores.
A Aliança, formada pela União Cívica Radical e a Frente País Solidário, define em novembro quem será seu candidato a presidente. O partido Justicialista, do presidente Carlos Menem, escolhe em abril.
Diferenças à parte, ninguém na Argentina questiona a abertura econômica, as privatizações e a convertibilidade, que em 1991 atrelou o valor do peso ao dólar e tirou o país da inflação.
O pré-candidato Eduardo Duhalde (governador de Buenos Aires), adversário de Menem no peronismo, afirma, sem entrar em detalhes, que o modelo econômico atual está "esgotado" e "morto", prega políticas sociais, mas não questiona os pilares da economia argentina.
"Aqui não há um conflito ideológico como no Brasil. Ninguém vai revisar as privatizações. Necessitamos complementar a estabilidade econômica com políticas que evitem a exclusão social", disse o secretário federal de Indústria e Comércio, Alieto Guadagni.
No que se refere ao Mercosul, governo e oposição discordam sobre os métodos para fazer o acordo avançar e voltar ao ritmo dos progressos conquistados no início da década.
A Aliança propõe a criação de organismos supranacionais para resolver os conflitos do bloco econômico, idéia que não agrada aos governos do Brasil e da Argentina.
"A União Européia tem tribunais para resolver conflitos. Nosso mecanismo diplomático de solução de controvérsias não funciona", afirmou Machinea, que foi presidente do banco central do governo Raúl Alfonsín (1984-89).
Para ele, são necessários mecanismos para avaliar se os países estão ou não cumprindo os acordos.
"Isso não chega ao centro da questão. Não basta criar burocracias inúteis para resolver os problemas", disse o vice-ministro da Economia, Pablo Guidotti.
Segundo o secretário de Indústria e Comércio, o progresso inicial foi fácil e a fase atual, de harmonização das políticas entre os países, é o "osso duro". "Estamos na parte mais complicada", concordou Machinea.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.