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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Fed ainda quer subir juros nos EUA
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
O Fed (Federal Reserve, o banco
central dos Estados Unidos) continua disposto a elevar as taxas de
juros nos EUA. A informação foi
divulgada na mesma sexta-feira
sangrenta em que o sistema financeiro do hemisfério ocidental tremeu nas bases. Foi publicada a ata
da reunião de julho do Fed.
Até agora a decisão de elevar as
taxas de juros nos Estados Unidos
tem sido adiada, em boa medida,
pela crise asiática. Os países da periferia mundial precisam de capitais. Uma alta de juros no centro
da economia global apenas tornaria mais difícil atrair recursos.
O resultado da votação no Fed
foi 10 a 1 em sua reunião de julho,
há mais de dois meses, em favor da
manutenção das taxas vigentes.
Mas houve um reconhecimento de
que a alta dos juros é inevitável.
O Fed teme o surgimento de
pressões inflacionárias nos EUA.
Para tentar evitar a especulação, o
banco central dos EUA divulga a
ata de suas reuniões com uma defasagem de seis semanas.
Por enquanto sinais de inflação
continuam mínimos. Afinal, um
dos efeitos da crise asiática é a
queda nos preços do petróleo e de
quase todas as matérias-primas,
além do barateamento das importações. A crise global reduz os custos na economia norte-americana.
Mas há uma exceção, um custo
fundamental que tem sido cada
vez mais pressionado: os salários.
Como não é possível nem politicamente desejável importar trabalhadores, a única forma de evitar
essa pressão é esfriar a economia,
aumentando as taxas de juros.
Fim de ciclo
A economia dos EUA dá vários
sinais de esgotar um ciclo de crescimento. Em tese, inflação não deveria ser motivo de preocupação
numa economia que esfria naturalmente. Mas há dois riscos que
os banqueiros centrais norte-americanos levam em consideração.
O primeiro e mais evidente é o
de que uma superação gradual da
crise asiática abra caminho para
uma recuperação de preços em
mercados de commodities, insumos industriais e energia. É possível que isso ocorra num momento
em que os salários ainda estejam
crescendo ou em que o mercado
de trabalho dos EUA continue
pressionado. Sem o alívio de custos nos importados, a pressão salarial rapidamente se traduziria
em inflação. O Fed seria obrigado
a apagar o fogo, quando a rigor
sua missão é evitá-lo.
Há outro risco importante, associado às diferenças de ritmo entre
os setores da economia. Os consumidores e as empresas, por exemplo, gastam cada vez mais, embora a renda depois dos impostos venha caindo (veja quadro ao lado).
Quem gasta mais do que ganha
está vivendo uma euforia. No caso
dos EUA, a euforia tem origem na
festa de valorização da Bolsa de
Valores e num nível recorde de
endividamento. Com as taxas de
juros muito baixas, há também
uma demanda aquecida por imóveis. Aliás, o relatório de julho do
Fed menciona claramente a existência de uma onda especulativa
no setor imobiliário.
A crise na Ásia é um bom exemplo de como o crescimento com
base em dívidas e euforia pode
acabar mal. O Fed está convencido
de que, se esperar muito, a bolha
nos EUA também pode ter um
desfecho impróprio. Subir os juros é uma forma de furar a bolha.
E torcer para que ela apenas murche, ordeira e silenciosamente.
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