São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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MERCADO TENSO
Superioridade no volume de negócios, com média diária de US$ 520,7 milhões, explica maior volatilidade
Bolsa de São Paulo é a mais arriscada da AL

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

A Bolsa de Valores de São Paulo é hoje a mais volátil da América Latina, segundo cálculos feito pela Economática. É nela que são maiores os riscos de comprar ou vender na hora errada e perder dinheiro. É nela também que estão as maiores possibilidades de ganho no curto prazo.
O volume movimentado na Bolsa brasileira, de US$ 520,72 milhões na média do mercado à vista deste ano, até o dia 18, é o maior entre as Bolsas da América Latina, diz Fernando Exel, da Economática. Isso explica, em parte, suas oscilações bruscas.
"Se os investidores internacionais perdem dinheiro em Hong Kong ou na Rússia, vendem as ações no Brasil para pagar suas dívidas", diz Flávio Conde, do Lloyds Asset Management.
Nas outras Bolsas, em momentos de crise os investidores não conseguem, muitas vezes, encontrar compradores para seus papéis, por causa justamente dos baixos volumes negociados.
A Bolsa do México, a segunda maior em volume, negociou US$ 164,11 milhões na média diária deste ano, e a Argentina, a terceira, negociou US$ 31,82 milhões. A do Chile movimentou US$ 20,78 milhões, e a do Peru, US$ 12,89 milhões, diz a Economática.
O fato de uma só ação, como é o caso da Telebrás PN (sem direito a voto), concentrar grande parte do mercado contribuiu ainda mais para a volatilidade, diz Exel.
A Telebrás representa 42,2% do índice Bovespa, composto pelas ações mais negociadas em São Paulo. No índice S&P 500, de Nova York, o peso da principal ação é de apenas 3,3%.
"Com tanta concentração, se Telebrás cai muito, sozinha é capaz de derrubar o mercado", diz Exel. Quando as 12 empresas resultantes da cisão da Telebrás vierem a mercado, a concentração vai se reduzir, avalia Conde. "Mas, com a moratória da Rússia e a crise na América Latina, as Bolsas devem continuar uma montanha russa este ano", avalia.
A volatilidade nas Bolsas vinha caindo. No Brasil, o indicador de volatilidade da Economática passou de 0,84, em 90, para 0,23, em 96. Em Nova York, caiu de 0,16 para 0,12 no período.
Foi no ano passado, com a crise asiática, que a tendência se reverteu. "A volatilidade maior dos mercados financeiros é só um reflexo das incertezas crescentes da economia mundial", diz Ricardo Junqueira, diretor de tesouraria do banco Brascan.
A recessão no Japão, a locomotiva da Ásia, levou junto os chamados países emergentes da região, como Indonésia, Coréia, Tailândia, Hong Kong. Colocou sob ameaça a China.
Inúmeras empresas dos EUA com atividades na Ásia foram atingidas. A Bolsa de Nova York começou a cair. "Os ganhos de produtividade no mundo todo obtidos com as novas tecnologias mostram que é possível produzir mais a preços menores. Estamos em uma deflação mundial a os ativos em Bolsa não mostravam isso até então", diz ele.
O preço mais baixo dos commodities, inclusive o petróleo, acabou afetando outros grandes exportadores do bloco dos emergentes, como a Rússia, Venezuela e México. A Rússia, na segunda-feira passada, pediu moratória. O risco de investir nos emergentes foi às alturas, assim como a volatilidade nas Bolsas do mundo todo.
"Quando os mercados estão em queda, estatisticamente a volatilidade tende a aumentar", diz Larry Martins, diretor de tesouraria do banco Prosper.



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