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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Ministros rebatem artigo de Zoellick, contrário à posição do Brasil durante encontro da OMC em Cancún

Brasil reage a críticas de secretário dos EUA

DA REDAÇÃO

Artigo escrito por Robert Zoellick, espécie de ministro do Comércio dos EUA, com críticas à atitude do Brasil na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Cancún provocou a reação dos ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Antonio Palocci Filho (Fazenda). O texto foi publicado ontem pelo jornal "Financial Times".
Na última reunião da OMC, encerrada no dia 14, o Brasil acusou os países ricos de não aceitar reduzir tarifas e barreiras comerciais sobre produtos agrícolas como desejam os emergentes.
Para o norte-americano, porém, a principal divisão "foi entre os que querem negociar e os que não querem". Segundo ele, os EUA têm hoje médias de tarifas de importação bem menores do que as do Brasil e de outros emergentes.
Apesar de ser o tema mais polêmico, a agricultura não foi a responsável pelo fracasso. Países pobres recusaram a tentativa dos países desenvolvidos, especialmente União Européia e Japão, de impor sua agenda de negociações em temas como investimentos e compras governamentais.
Em nota oficial, o chanceler brasileiro rebate o artigo de Zoellick: "O Brasil, seguro de haver mantido uma posição construtiva, não considera útil envolver-se em um exercício de atribuição de culpa pela dificuldade em alcançar consenso em Cancún".
Antes de ler o artigo, Amorim havia dito que, "se alguém mudou, foram os Estados Unidos, não o Brasil. Nossa proposta em Cancún continha de 70% a 80% do que os EUA defendiam há dois anos. Na época, indicaram-me para presidir o comitê de agricultura da OMC. Foi a União Européia que me vetou. Então, não mudei nem o Brasil mudou".
Já Palocci usou um tom moderado. "Não vejo nenhum motivo para duvidar da decisão potencial e da vontade do Brasil e de seus parceiros de negociação. Eu insisto em que a articulação dos países em Cancún deveria ser vista como algo que elevou o debate, não que dificultou", disse, em Dubai.
"Quando se trata de negociações comerciais, você não pode só olhar para tarifas médias. É preciso olhar para tarifas de cada tipo de produto e o que elas resultam em termos de dificuldade a partir da produção de cada país", afirmou, lembrando que sobre produtos brasileiros como açúcar, álcool e aço há tarifas extremamente altas impostas pelos EUA.
O artigo também causou mal-estar entre os palestrantes brasileiros e americanos ontem no seminário da Câmara de Comércio Brasil-EUA em Nova York.
A embaixadora americana no Brasil, Donna Hrinak, tentou suavizar as afirmações de Zoellick e preferiu não apontar culpados nem incluir o Brasil na categoria de países-problema do comércio internacional. Mas, segundo ela, a politização do debate em Cancún e a retórica de confronto entre pobres e desenvolvidos "impediram a negociação objetiva dos temas que realmente interessavam".
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que "negociações comerciais não se decidem apenas em três dias".


Com informações do enviado a Nova York, do enviado especial a Dubai e de Nova York


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