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COMÉRCIO MUNDIAL
Ministros rebatem artigo de Zoellick, contrário à posição do Brasil durante encontro da OMC em Cancún
Brasil reage a críticas de secretário dos EUA
DA REDAÇÃO
Artigo escrito por Robert Zoellick, espécie de ministro do Comércio dos EUA, com críticas à
atitude do Brasil na reunião da
OMC (Organização Mundial do
Comércio) em Cancún provocou
a reação dos ministros Celso
Amorim (Relações Exteriores) e
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
O texto foi publicado ontem pelo
jornal "Financial Times".
Na última reunião da OMC, encerrada no dia 14, o Brasil acusou
os países ricos de não aceitar reduzir tarifas e barreiras comerciais sobre produtos agrícolas como desejam os emergentes.
Para o norte-americano, porém,
a principal divisão "foi entre os
que querem negociar e os que não
querem". Segundo ele, os EUA
têm hoje médias de tarifas de importação bem menores do que as
do Brasil e de outros emergentes.
Apesar de ser o tema mais polêmico, a agricultura não foi a responsável pelo fracasso. Países pobres recusaram a tentativa dos
países desenvolvidos, especialmente União Européia e Japão, de
impor sua agenda de negociações
em temas como investimentos e
compras governamentais.
Em nota oficial, o chanceler brasileiro rebate o artigo de Zoellick:
"O Brasil, seguro de haver mantido uma posição construtiva, não
considera útil envolver-se em um
exercício de atribuição de culpa
pela dificuldade em alcançar consenso em Cancún".
Antes de ler o artigo, Amorim
havia dito que, "se alguém mudou, foram os Estados Unidos,
não o Brasil. Nossa proposta em
Cancún continha de 70% a 80%
do que os EUA defendiam há dois
anos. Na época, indicaram-me
para presidir o comitê de agricultura da OMC. Foi a União Européia que me vetou. Então, não
mudei nem o Brasil mudou".
Já Palocci usou um tom moderado. "Não vejo nenhum motivo
para duvidar da decisão potencial
e da vontade do Brasil e de seus
parceiros de negociação. Eu insisto em que a articulação dos países
em Cancún deveria ser vista como
algo que elevou o debate, não que
dificultou", disse, em Dubai.
"Quando se trata de negociações comerciais, você não pode só
olhar para tarifas médias. É preciso olhar para tarifas de cada tipo
de produto e o que elas resultam
em termos de dificuldade a partir
da produção de cada país", afirmou, lembrando que sobre produtos brasileiros como açúcar, álcool e aço há tarifas extremamente altas impostas pelos EUA.
O artigo também causou mal-estar entre os palestrantes brasileiros e americanos ontem no seminário da Câmara de Comércio
Brasil-EUA em Nova York.
A embaixadora americana no
Brasil, Donna Hrinak, tentou suavizar as afirmações de Zoellick e
preferiu não apontar culpados
nem incluir o Brasil na categoria
de países-problema do comércio
internacional. Mas, segundo ela, a
politização do debate em Cancún
e a retórica de confronto entre pobres e desenvolvidos "impediram
a negociação objetiva dos temas
que realmente interessavam".
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que
"negociações comerciais não se
decidem apenas em três dias".
Com informações do enviado a
Nova York, do enviado especial a Dubai
e de Nova York
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