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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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PÓS-MORATÓRIA

Reestruturação prevê que os juros vencidos não sejam pagos

Mercado rejeita a proposta argentina para pagar dívida

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes mesmo de a Argentina começar a negociar com os credores a reestruturação de sua dívida, já existem no mercado dúvidas sobre a capacidade de o país honrar os novos bônus que irá emitir em substituição aos que deixou de pagar em dezembro de 2001, quando entrou em default.
A origem do ceticismo é o acordo da Argentina com o FMI, que prevê a meta de superávit primário de 3% do PIB para 2003 e não fixa percentuais para 2004 e 2005. O superávit primário é o que o país consegue economizar para pagar os juros de sua dívida.
"A Argentina propõe a reestruturação, mas não há garantia de que depois desse processo os credores vão receber os juros e o principal da dívida, porque o superávit primário não é suficiente", diz Adauto Lima, economista sênior do banco alemão WestLB.
Os 3% do PIB equivalem a US$ 4,4 bilhões. Desse valor, US$ 3,4 bilhões serão destinados à dívida que a Argentina está pagando em dia, segundo a proposta de reestruturação apresentada ontem. Isso significa que sobra US$ 1 bilhão para os credores que não estão recebendo nada, o correspondente a 0,7% do PIB.
A Argentina deixou de pagar em dezembro de 2001 bônus no valor de US$ 94 bilhões, de uma dívida total que era estimada em US$ 144 bilhões. Desses títulos, venceram até março de 2003 US$ 14,4 bilhões, dos quais US$ 9 bilhões são relativos ao principal da dívida e US$ 5,3 bilhões, aos juros. Até o fechamento do acordo, outras parcelas do débito vencerão. Só os US$ 14,4 bilhões representam pouco mais de três vezes o superávit de 3% previsto para 2004.
A Argentina propõe a redução de 75% do valor principal. Ou seja, quem tem um bônus de US$ 100 receberia somente US$ 25. Além disso, o governo diz que a reestruturação exclui os juros acumulados entre o default e a assinatura do acordo. Segundo Lima, o não-pagamento dos juros é algo inédito nos processos de reestruturação de dívidas.
Fernando Losada, responsável pela área de mercados emergentes do ABN-Amro em Nova York, diz que a proposta da Argentina está muito distante do que esperavam os credores e prevê uma dura negociação. Para ele, há três problemas básicos: os detentores dos bônus não participaram do desenho da reestruturação, o corte de 75% da dívida é considerado muito alto e não serão pagos os juros acumulados até o acordo.


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