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PÓS-MORATÓRIA
Reestruturação prevê que os juros vencidos não sejam pagos
Mercado rejeita a proposta argentina para pagar dívida
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes mesmo de a Argentina
começar a negociar com os credores a reestruturação de sua dívida,
já existem no mercado dúvidas
sobre a capacidade de o país honrar os novos bônus que irá emitir
em substituição aos que deixou de
pagar em dezembro de 2001,
quando entrou em default.
A origem do ceticismo é o acordo da Argentina com o FMI, que
prevê a meta de superávit primário de 3% do PIB para 2003 e não
fixa percentuais para 2004 e 2005.
O superávit primário é o que o
país consegue economizar para
pagar os juros de sua dívida.
"A Argentina propõe a reestruturação, mas não há garantia de
que depois desse processo os credores vão receber os juros e o
principal da dívida, porque o superávit primário não é suficiente", diz Adauto Lima, economista
sênior do banco alemão WestLB.
Os 3% do PIB equivalem a US$
4,4 bilhões. Desse valor, US$ 3,4
bilhões serão destinados à dívida
que a Argentina está pagando em
dia, segundo a proposta de reestruturação apresentada ontem.
Isso significa que sobra US$ 1 bilhão para os credores que não estão recebendo nada, o correspondente a 0,7% do PIB.
A Argentina deixou de pagar
em dezembro de 2001 bônus no
valor de US$ 94 bilhões, de uma
dívida total que era estimada em
US$ 144 bilhões. Desses títulos,
venceram até março de 2003 US$
14,4 bilhões, dos quais US$ 9 bilhões são relativos ao principal da
dívida e US$ 5,3 bilhões, aos juros.
Até o fechamento do acordo, outras parcelas do débito vencerão.
Só os US$ 14,4 bilhões representam pouco mais de três vezes o superávit de 3% previsto para 2004.
A Argentina propõe a redução
de 75% do valor principal. Ou seja, quem tem um bônus de US$
100 receberia somente US$ 25.
Além disso, o governo diz que a
reestruturação exclui os juros
acumulados entre o default e a assinatura do acordo. Segundo Lima, o não-pagamento dos juros é
algo inédito nos processos de
reestruturação de dívidas.
Fernando Losada, responsável
pela área de mercados emergentes do ABN-Amro em Nova York,
diz que a proposta da Argentina
está muito distante do que esperavam os credores e prevê uma dura
negociação. Para ele, há três problemas básicos: os detentores dos
bônus não participaram do desenho da reestruturação, o corte de
75% da dívida é considerado muito alto e não serão pagos os juros
acumulados até o acordo.
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