UOL


São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Trabalhador sofreu mais com default

DE BUENOS AIRES

A principal vítima da pior recessão enfrentada na história da Argentina foi o trabalhador. A crise que culminou com a moratória em dezembro de 2001 e a desvalorização cambial intensificou o caos social, elevou a taxa de desemprego a níveis recordes e deixou mais de 50% da população vivendo abaixo da linha de pobreza. Em maio de 2002, 21,5% da população economicamente ativa estava desocupada e outros 18,6%, subocupados.
Em junho de 1999, por exemplo, uma família de classe média ganhava cerca de 1.183 pesos por mês (quase o mesmo valor em reais). No mesmo mês de 2003, o rendimento médio era de 721 pesos. Isso aconteceu em parte porque o poder de compra foi corroído pela inflação de 41% registrada no ano passado. O preço de uma cesta básica, segundo o Indec, é de 717,75 pesos.
Além do cidadão comum, que teve o salário corroído pela inflação, o setor financeiro e as empresas que administram serviços públicos também perderam com a crise. Nos últimos 12 meses, o patrimônio dos bancos teve redução de 22,7%. O prejuízo no período é de US$ 3,4 bilhões, segundo dados do Banco Central argentino.
As administradoras de concessões públicas amargam perdas desde o ano passado, quando as tarifas foram congeladas. Muitas estavam endividadas em dólares e também perderam com a depreciação cambial. De acordo com uma pesquisa da Fundação Capital, essas empresas investiram cerca de US$ 100 bilhões entre 1993 e 2001. Hoje, os ativos perderam, em alguns casos, até 60% do valor inicial.
A crise nos bancos desestruturou todos os outros setores da economia ao reduzir a oferta de crédito, que já estava escassa desde 2001. Resultado: empresas sem recursos para investir e mais demissões. Em dezembro de 2001, por exemplo, o fluxo de crédito às empresas somou 22,6 bilhões de pesos, segundo dados do BC. Em dezembro de 2002 o valor caiu para 13,7 bilhões de pesos. E o volume de crédito continua em queda. Em abril deste ano, último dado disponível, somou 12,7 bilhões de pesos.
O Brasil também entra na lista de perdedores com a crise. Em 2002, as exportações brasileiras para a Argentina recuaram mais de 40%. Os setores mais afetados foram o de peças e automóveis, têxteis, calçados e avícola. (EC)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Só FMI se beneficiou, afirma Cavallo
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.