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Palocci quer restringir retirada de
investimento do cálculo de déficit
DO ENVIADO ESPECIAL A DUBAI
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) deixou bem claro
ontem que não deseja retirar do
cálculo do déficit público, de forma generalizada, os investimentos das estatais, o que contraria a
vontade de vários integrantes do
governo.
"Nossa prioridade não é criar
critérios novos de contabilidade; é
melhorar as contas, e não as formas como os números são apurados, porque [senão] nós vamos
estar enganando o público num
primeiro momento, a nós mesmos num segundo, e vamos ter a
conta na nossa mesa no terceiro
momento", disse ele.
Os investimentos das estatais
hoje são considerados simplesmente como gastos, o que contribui para o déficit público. A única
exceção são os investimentos da
Petrobras, que ficam de fora dessa
conta.
Se as estatais tivessem o mesmo
tratamento da Petrobras, certamente iriam gastar mais, o que
forçaria o governo central (União
e Previdência Social) a ter de economizar ainda mais recursos para
poder cumprir a meta de superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros). É
isso o que Palocci quer evitar.
"Se você fizer um mecanismo
de valorização dos investimentos
que não seja sustentável, a sua
conta vai aparecer em alguma lugar. Essa é a questão."
Segundo o ministro, o que pode
ser feito para que o superávit seja
menos restritivo é melhorar as
contas do governo. "Se você conseguir praticar juros menores por
longo prazo, você ganha muito
mais do que num critério novo de
contabilidade. Você ganha mais e
de maneira mais saudável", disse.
Juros menores significam menos
gastos do governo para rolar a dívida pública.
Do lado oposto ao de Palocci,
estão aqueles que defendem que
as estatais possam investir mais
para aumentar a produção e, assim, contribuir mais para um
maior crescimento econômico.
Palocci ressaltou, no entanto,
que algumas empresas, tendo cada caso analisado individualmente, podem ter os investimentos
desconsiderados como gastos.
"Foi feito isso no caso da Petrobras e não houve nenhum problema de instabilidade, de dúvida,
porque é uma empresa que opera
amplamente no mercado, no comércio internacional, uma empresa extremamente aberta."
De acordo com o que a Folha
apurou, na verdade a única empresa que se enquadraria hoje
nesse perfil, na avaliação do governo, é a Eletrobrás. A direção do
FMI (Fundo Monetário Internacional) tem opinião mais severa
ainda. Entende que nem a Eletrobrás se encaixaria.
A possibilidade de os investimentos da Petrobras serem desconsiderados do cálculo do superávit primário consta no atual
acordo com o FMI. Palocci disse
que essa discussão também fará
parte das negociações para fechar
um novo acordo com o Fundo.
"O Brasil pode fazer o seu debate [sobre os investimentos das estatais] e acho que deve fazer com
o Fundo também. Agora, nós não
vamos entrar nessa discussão de
considerar tudo o que é investimento público como não-passível
de contabilidade como despesa.
Estaremos criando um problema", declarou.
(LS)
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