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Notícia do FGTS é "abominável", diz Lula
Presidente nega reportagem da Folha que revelou plano de reabrir compra de ações da Petrobras com recursos do fundo
Petista já pediu a auxiliares estudo de formato jurídico da operação, mas reunião sobre assunto prevista para outubro é desmarcada
DE NOVA YORK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que já
tenha decidido permitir o uso
do FGTS (Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço) para uma
nova rodada de investimentos
na Petrobras, conforme revelou a Folha anteontem.
Apesar de negativa veemente, dizendo que nem pensou no
assunto, Lula já pediu a auxiliares que avaliassem o formato
jurídico do uso do FGTS para
capitalizar a Petrobras no processo de exploração do pré-sal.
Segundo apurou a Folha, foi
desmarcada ontem uma reunião para apresentação desse
formato jurídico antes prevista
para o começo de outubro.
A negativa de Lula faz parte
da contrariedade do governo
com a divulgação da notícia,
que afetou o mercado de ações
no Brasil e antecipou detalhes
de sua estratégia para propor
uma nova Lei do Petróleo.
"Acho abominável alguém
fazer uma manchete irresponsável daquele jeito sem nunca
terem conversado comigo e
sem que eu nunca tivesse sequer pensado na idéia. Eu fiquei surpreso com a matéria e
acho isso irresponsabilidade,
porque isso mexe com o mercado, de uma coisa que eu nunca falei", disse o presidente.
Em seguida, disse que deveriam ter sido consultados ele,
"o ministro da Fazenda ou o
presidente do Banco Central
ou o ministro do Planejamento
ou o ministro do Trabalho, que
cuida do FGTS". E emendou:
"Isso é irresponsabilidade, e
não contribui para o Brasil.
Prejudica o nosso país".
Após a publicação da notícia,
o ministro do Trabalho, Carlos
Lupi, confirmou que havia a
discussão no governo. A Folha
obteve a informação de três auxiliares diretos do presidente,
que relataram a decisão de Lula
de envolver trabalhadores e a
classe média no processo de capitalização da Petrobras.
A contrariedade de Lula se
explica pelos vazamentos da
discussão do novo marco regulatório do petróleo, o que gerou
protestos da CVM (Comissão
de Valores Imobiliários) ao Ministério da Fazenda. Como empresa de capital misto, público
e privado, a Petrobras tem
ações na Bolsa, com peso imenso no Ibovespa.
A revelação da decisão de
usar o FGTS na Petrobras
ocorreu em meio a uma crise
internacional que tumultua as
Bolsas. Ou seja, na visão do governo, não seria a hora mais
conveniente de a notícia se tornar pública. Ontem, em Nova
York, Lula disse: "O governo
não tem preparado nada de
ações [da Petrobras]. Nós entendemos que, em momento
de crise, você não pode tomar
nenhuma medida precipitada".
Para que a medida seja adotada, Lula tem de enviar um
projeto de lei ao Congresso, a
quem cabe aprovar o uso do
FGTS para comprar ações.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse por meio da
assessoria: "O presidente me
pediu para desmentir a notícia
publicada pelo jornal Folha de
S.Paulo de que o governo estuda permitir o uso do FGTS para
capitalizar a Petrobras".
Também por meio da assessoria, Lupi disse ter "simpatia"
pela idéia e confirmou que o
Conselho Curador do FGTS já
discutiu uma fórmula para permitir nova rodada de investimentos do fundo na Petrobras.
O conselho, formado por representantes do governo, trabalhadores e empresas, decide como investir recursos do FGTS.
Lupi, que anteontem confirmara a notícia da Folha, disse
ontem por meio da assessoria
que apenas comentara que a
"medida seria boa para o trabalhador". Afirmou que não se
manifestaria mais porque "o
presidente Lula já falou".
Declaração "absurda"
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, divulgou nota criticando Mantega e apoiando o uso do FGTS na
Petrobras. A Força pretende
convidar outras centrais sindicais para se reunir "nos próximos dias para discutir o tema" e
"levar a reivindicação de opção
de compra das ações" a Lula.
"Causou estranheza a informação divulgada hoje de que o
ministro da Fazenda, Guido
Mantega, se coloca contra a
venda de ações da Petrobras
para os trabalhadores. A declaração é absurda e revela que o
ministro é contra socializar o
capital, contra a distribuição de
renda e que os trabalhadores
lucrem com as riquezas do
país", disse a nota da central.
Já a CUT é contrária ao uso
do FGTS para capitalizar a Petrobras. Segundo o presidente
da central, Artur Henrique, a
medida poderia descapitalizar
as contas individuais do fundo
e prejudicar os investimentos
em saneamento e habitação. A
UGT (União Geral dos Trabalhadores) defendeu que os trabalhadores apliquem os recursos do FGTS na Petrobras.
Já a CBIC (Câmara Brasileira
da Indústria da Construção)
manifestou-se contra a medida
e disse que as afirmações de Lula demonstram "bom senso".
(DANIEL BERGAMASCO, JULIANNA SOFIA
e KENNEDY ALENCAR)
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