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São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003

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CONTA-GOTAS

Sucessivos cortes nos juros não foram suficientes para estimular retomada; produção cresce, mas renda cai

BC estanca recessão, mas economia não reage

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A redução da taxa básica de juros da economia, a Selic, iniciada em junho, interrompeu a recessão, mas ainda não foi suficiente para dar início ao processo de recuperação da economia, na análise de economistas e empresários.
Os dados que mostram o desempenho de setores da economia são contraditórios, dizem. A produção industrial, por exemplo, cresceu 1,5% em agosto sobre julho, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa de desemprego, porém, ficou em 12,9% em setembro, praticamente igual à de agosto, de 13%. Isto é, o desemprego até agora não recuou.
"A queda de juros só estancou o processo recessivo", afirma Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que reúne 45 grupos industriais. "O desemprego é ainda elevado e a renda continua em queda", afirma. Em setembro, a renda caiu 14,6% sobre setembro de 2002, segundo o IBGE.
Pesquisa feita com 500 empresas de 21 setores pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), no fim de setembro e início deste mês, mostrou que a demanda da indústria aumentou, os estoques diminuíram e a utilização da capacidade das fábricas subiu. A queda das taxas de juros, o estímulo do governo a alguns setores, como a redução do IPI para os carros, e a proximidade do final do ano explicam a melhora no desempenho das empresas, segundo economistas da fundação.
"Essa recuperação existe, mas não podemos esquecer que o país estava parado e qualquer sinal de melhora já é alguma coisa", afirma José Augusto Marques, presidente da Abdib, associação que reúne a indústria de base e infra-estrutura. Segundo ele, esse setor, que depende de investimentos do governo e da iniciativa privada, não viu ainda sinais de retomada.
Os empresários estão mais otimistas com a economia, mas não o suficiente para tirar projetos de investimentos da gaveta, segundo consulta feita pelo Iedi com os associados. "O clima é melhor, mas não há euforia", diz Almeida.
Na primeira quinzena deste mês, a média diária de consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), indicador das vendas a prazo, subiu 0,7% na comparação com igual período do ano passado, informa a Associação Comercial de São Paulo. Isso mostra alguma recuperação nas vendas a prazo já que até setembro as vendas a crédito vinham caindo na comparação com 2002.
"Mas essa recuperação ainda é muito tímida", diz Emílio Alfieri, economista da associação. As consultas ao Usecheque, termômetro das vendas à vista, continuam em queda -a média diária de consultas na primeira quinzena deste mês caiu 6% sobre igual período do ano passado. "O cheque está mais associado à renda, que está em queda", afirma.
O consumo ainda não reagiu, na análise da Fecomercio SP. Em setembro, o faturamento real do comércio na região metropolitana de São Paulo caiu 3,48% na comparação com setembro de 2002. Esse foi o quinto mês consecutivo no qual as lojas da região registraram queda no faturamento real.
"A redução das taxas de juros ajuda, mas não é suficiente para aquecer as vendas de uma hora para a outra", afirma Oiram Corrêa, gerente da assessoria econômica da Fecomercio SP. O que pode ajudar o comércio neste final de ano, diz, é a reposição de salários de importantes categorias profissionais e o pagamento do 13º salário. "Mas, ainda assim, o ano está perdido." A Fecomercio SP estima que o faturamento real do comércio deve, na melhor das hipóteses, ser igual ao de 2002.
As lojas que reduziram os juros e alongaram os prazos sentiram reação. A Lojas Cem informa que vendeu em setembro 20% mais do que em igual mês de 2002.
"Crescer 20% não é muito, pois setembro do ano passado foi muito ruim", informa Valdemir Colleone, diretor-geral. A ampliação do prazo de financiamento, de 16 para 20 meses, e a redução dos juros, de 5,3% para 4,9% ao mês, ajudaram a melhorar as vendas da rede. "O consumidor está mais animado, mas a recuperação do país será gradual. E é bom que seja assim, para que não ocorra pressão inflacionária", afirma Fábio Silveira, consultor econômico.


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