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CONTA-GOTAS
Sucessivos cortes nos juros não foram suficientes para estimular retomada; produção cresce, mas renda cai
BC estanca recessão, mas economia não reage
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A redução da taxa básica de juros da economia, a Selic, iniciada
em junho, interrompeu a recessão, mas ainda não foi suficiente
para dar início ao processo de recuperação da economia, na análise de economistas e empresários.
Os dados que mostram o desempenho de setores da economia são contraditórios, dizem. A
produção industrial, por exemplo, cresceu 1,5% em agosto sobre
julho, segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa de desemprego, porém, ficou em 12,9% em setembro, praticamente igual à de agosto, de 13%. Isto é, o desemprego
até agora não recuou.
"A queda de juros só estancou o
processo recessivo", afirma Júlio
Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que reúne 45 grupos industriais. "O desemprego é ainda
elevado e a renda continua em
queda", afirma. Em setembro, a
renda caiu 14,6% sobre setembro
de 2002, segundo o IBGE.
Pesquisa feita com 500 empresas de 21 setores pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), no fim de
setembro e início deste mês, mostrou que a demanda da indústria
aumentou, os estoques diminuíram e a utilização da capacidade
das fábricas subiu. A queda das
taxas de juros, o estímulo do governo a alguns setores, como a redução do IPI para os carros, e a
proximidade do final do ano explicam a melhora no desempenho
das empresas, segundo economistas da fundação.
"Essa recuperação existe, mas
não podemos esquecer que o país
estava parado e qualquer sinal de
melhora já é alguma coisa", afirma José Augusto Marques, presidente da Abdib, associação que
reúne a indústria de base e infra-estrutura. Segundo ele, esse setor,
que depende de investimentos do
governo e da iniciativa privada,
não viu ainda sinais de retomada.
Os empresários estão mais otimistas com a economia, mas não
o suficiente para tirar projetos de
investimentos da gaveta, segundo
consulta feita pelo Iedi com os associados. "O clima é melhor, mas
não há euforia", diz Almeida.
Na primeira quinzena deste
mês, a média diária de consultas
ao SPC (Serviço de Proteção ao
Crédito), indicador das vendas a
prazo, subiu 0,7% na comparação
com igual período do ano passado, informa a Associação Comercial de São Paulo. Isso mostra alguma recuperação nas vendas a
prazo já que até setembro as vendas a crédito vinham caindo na
comparação com 2002.
"Mas essa recuperação ainda é
muito tímida", diz Emílio Alfieri,
economista da associação. As
consultas ao Usecheque, termômetro das vendas à vista, continuam em queda -a média diária
de consultas na primeira quinzena deste mês caiu 6% sobre igual
período do ano passado. "O cheque está mais associado à renda,
que está em queda", afirma.
O consumo ainda não reagiu, na
análise da Fecomercio SP. Em setembro, o faturamento real do comércio na região metropolitana
de São Paulo caiu 3,48% na comparação com setembro de 2002.
Esse foi o quinto mês consecutivo
no qual as lojas da região registraram queda no faturamento real.
"A redução das taxas de juros
ajuda, mas não é suficiente para
aquecer as vendas de uma hora
para a outra", afirma Oiram Corrêa, gerente da assessoria econômica da Fecomercio SP. O que pode ajudar o comércio neste final
de ano, diz, é a reposição de salários de importantes categorias
profissionais e o pagamento do
13º salário. "Mas, ainda assim, o
ano está perdido." A Fecomercio
SP estima que o faturamento real
do comércio deve, na melhor das
hipóteses, ser igual ao de 2002.
As lojas que reduziram os juros
e alongaram os prazos sentiram
reação. A Lojas Cem informa que
vendeu em setembro 20% mais
do que em igual mês de 2002.
"Crescer 20% não é muito, pois
setembro do ano passado foi muito ruim", informa Valdemir Colleone, diretor-geral. A ampliação
do prazo de financiamento, de 16
para 20 meses, e a redução dos juros, de 5,3% para 4,9% ao mês,
ajudaram a melhorar as vendas
da rede. "O consumidor está mais
animado, mas a recuperação do
país será gradual. E é bom que seja assim, para que não ocorra
pressão inflacionária", afirma Fábio Silveira, consultor econômico.
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