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ARTIGO
Mercado de trabalho depende de avanço mais acelerado
CLAUDIO SALVADORI DEDECCA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No final de 2003, eram observados sinais razoavelmente consistentes sobre a trajetória de recuperação da economia
brasileira para este ano. A controvérsia existente centrava-se na intensidade da recuperação. Alimentada pelo setor externo, estimava-se que seu alcance seria limitado, podendo até não atingir
os 3,5% projetados. Apontava-se
para a necessidade de recuperação do mercado interno, seja para
tornar mais elevada a taxa de crescimento para 2004, seja para reduzir o risco de comprometimento do desempenho econômico
por uma mudança no cenário internacional.
A recuperação da economia
brasileira tem surpreendido, menos pelo comportamento do mercado interno, que continua mostrando fraco desempenho, e mais
pelo crescimento esplêndido das
exportações.
A performance do mercado interno é explicada pela ausência de
uma política de governo mais
consistente de estímulo ao consumo e ao investimento, comportamento alvo de críticas recorrentes
do empresariado e dos trabalhadores.
Em suma, no início deste ano,
havia razoável convergência das
expectativas quanto ao crescimento da economia e, também,
quanto aos seus efeitos favoráveis
sobre o mercado de trabalho. Para um crescimento em torno de
3,5% em 2004, a queda do desemprego estaria associada à criação
de empregos formais, mas continuaria dependente da geração de
outras formas de
ocupação. Ademais, considerava-se que uma taxa de crescimento
nesse patamar não
seria suficiente para permitir, simultaneamente, a
queda do desemprego com o aumento do rendimento médio real
do trabalho. O
prognóstico mais
favorável era de
recuperação da
ocupação com aumento da informalidade, queda
do desemprego e
estabilidade do
rendimento real.
Decorridos nove
meses, é possível
afirmar que essa
projeção tem sido
fielmente ratificada. Os dados da
Pesquisa Mensal
de Emprego do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram, em
face de uma variação anualizada
da população economicamente
ativa de 2,1% no conjunto das regiões metropolitanas, modificações no desemprego de -9,5%, na
ocupação total de 3,8%, no emprego formal de 2,5% e estabilidade do rendimento médio real.
É pouco provável que essa tendência seja modificada ainda neste
ano. Se, por um
lado, é esperada
uma melhora do
nível de atividade
do comércio e dos
serviços, é certo,
por outro, que a
agricultura e a indústria deverão
conviver com
uma desaceleração sazonal. Ademais, a política
monetária, expressa na elevação
dos juros, aponta
que a taxa de crescimento será monitorada em torno
de 4% para 2004.
Portanto o desemprego deverá
continuar caindo
até dezembro,
movimento garantido por uma
elevação da informalidade de modo complementar
ao crescimento do emprego formal, num contexto de estabilidade do rendimento médio real do
trabalho.
Explicita-se, desse modo, a insuficiência do crescimento atual
para uma recomposição mais
consistente do mercado nacional
de trabalho. Para que fosse observado esse movimento, seria preciso um crescimento capaz de garantir o aumento da produtividade concomitante com a elevação
do emprego formal, razoavelmente superior ao incremento da
população economicamente ativa. Assim, estaria aberta uma janela de oportunidade para a queda do desemprego com a redução
da informalidade e com a elevação do rendimento médio real do
trabalho.
Um crescimento mais acelerado
não se encontra presente no campo de preocupações da política
econômica atual. E, portanto, não
se deve esperar que ela adote medidas que possam favorecer o melhor desempenho do mercado de
trabalho, no médio prazo, que pudesse produzir uma redução do
desemprego suficiente para ser
sentida pela população brasileira.
Infelizmente, a questão do emprego não tem sido uma prioridade da política econômica. Caso isso tivesse ocorrido, seus gestores
já teriam percebido a insuficiência do crescimento por eles imposto à nação e teriam alargado
seu campo de ações para além da
política monetária.
Claudio Salvadori Dedecca é professor
e pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas).
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