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OPINIÃO ECONÔMICA
Empresários acidentais
GESNER OLIVEIRA
É difícil deixar de comentar
o novo erro do Copom (Comitê de Política Monetária), de
elevar a taxa primária de juros de
16,25% para 16,75%, nesta semana. Mas convém chamar a atenção para o fato de que, a despeito
de todas as dificuldades (inclusive
juros muito maiores do que
16,75%), as pequenas e médias
empresas teimam em aparecer
nas estatísticas.
Esse fato é ilustrado em relatório divulgado recentemente pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) acerca do
Cempre (Cadastro Central de
Empresas), que contém dados de
cerca de 5 milhões de empresas e
outras organizações ativas em
2002. O documento está disponível em www.ibge.gov.br.
O estudo do IBGE mostra que a
esmagadora maioria das empresas no Brasil (85%) é formada por
pequenas unidades, definidas como aquelas que tem até quatro
pessoas ocupadas. As empresas de
menor porte nascem em maior
número, mas são também as que
morrem com maior facilidade.
Confirmando estudos anteriores,
os dados do IBGE mostram como
tais empresas têm maiores taxas
de natalidade (19,1%) e de mortalidade (12,5%) comparativamente às grandes. As unidades com
mais de cem pessoas ocupadas
apresentam taxas de natalidade e
mortalidade de 1,8% e 1,5%, respectivamente.
Dos 4,5 milhões de empresas
ativas (excluindo-se outras organizações), 3,1 milhões (69%) funcionavam sem empregados, isto é,
apenas com seus proprietários.
Entre as empresas novas, nada
menos do que 85% não possuíam
empregados com vínculo empregatício e eram constituídas apenas por sócios e/ou proprietários.
Outro estudo do IBGE, "As micro e pequenas empresas comerciais e de serviços no Brasil", já
havia mostrado o aumento da
participação das micro e pequenas empresas (MPE). No segmento de comércio e serviços, as MPE
passaram de 19% da geração de
receita, em 1985, para 19,8%, em
1994, e 22,3%, em 2001. A participação no pessoal ocupado cresceu
de forma impressionante: de
50,7%, em 1985, passou a 60,8%,
em 2001!
Diferentemente daquilo que se
pensa freqüentemente, haverá
sempre espaço para a pequena e
média empresa na economia capitalista moderna. As pequenas
unidades são complementares em
vários sentidos às grandes empresas. Porém os números do IBGE
sugerem peculiaridades no caso
brasileiro associadas a dois problemas específicos.
Em primeiro lugar, e conforme
assinalado pelos trabalhos do IBGE e outras instituições, a formação de um pequeno negócio constitui com freqüência uma alternativa para alguém que perdeu o
emprego e não encontra recolocação. Em segundo lugar, as enormes cargas tributária e previdenciária sobre a folha de pagamento
criam um estímulo exagerado à
transformação de empregados
em fornecedores de serviços. Pelo
exagero no Brasil de taxação do
emprego, cria-se uma tendência à
"superterceirização" das empresas maiores, muito além daquilo
que seria recomendável pelas melhores práticas organizacionais.
Assim, de forma involuntária e
artificial, desempregado e empregado se tornam empresários. Se
não lhes falta espírito empreendedor, carecem, contudo, de condições mínimas de capital, planejamento empresarial e ambiente
institucional favorável para crescer e prosperar. Não bastasse isso,
uma burocracia kafkiana os
aguarda nas três esferas de governo, procurando abocanhar de todas as maneiras uma parcela do
valor criado. O resultado é conhecido: altas taxas de mortalidade e
informalidade e baixa produtividade, em prejuízo do crescimento
econômico.
Diante desse quadro, a tendência perversa é criar mecanismos
especiais para as pequenas e médias empresas. Embora seja um
alívio, isso não resolve. O mal precisa ser atacado pela raiz, eliminando o excesso de carga tributária e de burocracia que incide sobre toda e qualquer atividade
produtiva.
Gesner Oliveira, 48, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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