São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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TRABALHO

Para o ministro, alta da Selic teria o efeito de reduzir o otimismo em relação à criação de vagas no próximo ano

Juro alto pode afetar emprego, diz Berzoini

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) disse que a alta na taxa de juros poderá afetar as perspectivas de criação de empregos no ano que vem, "reduzindo o otimismo" do governo. Na quarta-feira o Banco Central elevou os juros em 0,5 ponto percentual, para 16,75% ao ano.
Berzoini não criticou diretamente a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária, órgão do BC que decide a taxa de juros), mas lembrou que os responsáveis por definir a taxa devem levar em consideração o crescimento econômico, além da preocupação em controlar a inflação.
"O crescimento da taxa de juros não é bom para nenhum setor da economia", disse o ministro. "O grande desafio é conciliar o crescimento econômico com o controle da inflação. Quem decide a política econômica do país deve estar preocupado com as duas coisas", afirmou.
Ele falou sobre a alta dos juros ao divulgar os números oficiais sobre o aumento de empregos com carteira assinada em setembro. Quando fazia previsões sobre o número total de empregos a serem criados neste ano, Berzoini foi questionado se a alta dos juros não afetaria essas perspectivas. Ele explicou que, para este ano não, mas que teria efeito de "redução do otimismo" em relação à criação de empregos em 2005.
A alta dos juros na quarta-feira surpreendeu o mercado, que esperava aumento menor, de 0,25 ponto, como o de agosto. A disparada da cotação do petróleo no mercado internacional e o pessimismo dos analistas do setor privado em relação ao cumprimento das metas de inflação são os principais fatores no cenário que levaram o BC a aumentar os juros.
A decisão de aumentar os juros causou divergências entre as equipes do BC e da Fazenda. Na quinta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, reclamou da alta em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Aumento do emprego
Berzoini divulgou os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho, com números relativos a setembro.
A pesquisa inclui apenas os empregos formais -com carteira assinada. Em setembro, foram criados 199.742 empregos formais (saldo de admissões menos demissões), um crescimento de 0,81% em relação ao mesmo período do ano passado.
No acumulado do ano até setembro foi criado 1,7 milhão de empregos. O setor industrial continua sendo o principal responsável pela criação de novas vagas.
De acordo com o ministro, está havendo recuperação do emprego também nas regiões metropolitanas -até então, as cidades médias do interior vinham liderando a retomada.
Berzoini disse ser possível terminar o ano com a criação de 1,8 milhão de empregos com carteira assinada. Além disso, previu ele, 2004 terminará com taxa de desemprego de um dígito, ou seja, abaixo de 10%.

Petróleo prejudica
Berzoini entende que a alta do petróleo é de fato uma ameaça. "A questão do petróleo é decisiva."
A alta do preço do barril do petróleo afeta o preço dos combustíveis e de diversas matérias-primas para a indústria, pressionando os custos de produção e elevando a inflação. Por causa da alta, a Petrobras aumentou o preço da gasolina em 4% e o diesel em 6% na quinta-feira da semana passada.


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