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BARRIL DE PÓLVORA
Ao contrário dos anos 70, hoje os bancos centrais têm credibilidade e políticas confiáveis para combater inflação
Mundo já sabe enfrentar crise de combustíveis
ANDREW BALLS
CHRIS GILES
DO "FINANCIAL TIMES"
A alta nos preços do petróleo
vem dominando, neste ano, as
discussões em bancos centrais de
todo o mundo. Desde janeiro, as
autoridades monetárias tiveram
de se acostumar à idéia de preços
do petróleo que se sustentaram
primeiro no patamar dos US$ 30,
e a seguir, chegaram aos US$ 40 e,
agora, aos US$ 50 por barril.
A alta nos preços do petróleo
cru desacelerou o crescimento e
contribuiu para a elevação da inflação, mas os dirigentes de bancos centrais não tiveram de enfrentar a pouco saborosa escolha
entre estagnação e inflação acelerada que seus predecessores confrontaram nos anos 70 -a década em que foi cunhado o termo
"estagflação".
Parte da razão é que os bancos
centrais conquistaram muito
mais credibilidade no combate à
inflação do que tinham nos anos
70. A crença pública de que a inflação não está a ponto de decolar
torna muito menos dolorosa a relação entre o crescimento econômico e os efeitos inflacionários da
alta nos preços do petróleo.
Nos anos 70, muitos bancos
centrais e governos tentaram acomodar a alta do petróleo por meio
de taxas de juros mais baixas, o
que contribuiu para a espiral inflacionária de preços e salários.
Alan Greenspan, o presidente
do Federal Reserve (Fed, o banco
central dos Estados Unidos), declarou em discurso na semana
passada que, embora tenha causado impacto no crescimento e na
inflação, o efeito geral da alta do
petróleo, até o momento, "provavelmente terá menos conseqüências para o crescimento econômico e a inflação do que foi o caso
nos anos 70".
Jean-Claude Trichet, presidente
do Banco Central Europeu, foi
menos otimista em pronunciamento feito na semana passada,
mas expressou mais preocupação
quanto ao impacto da alta do petróleo sobre o crescimento da zona do euro do que sobre a inflação, como prioridade da instituição que dirige.
Mervyn King, presidente do
Banco da Inglaterra, empregou a
linguagem tipicamente cautelosa
dos dirigentes de bancos centrais
em discurso realizado na semana
passada, advertindo contra "complacência e arrogância". Mas o raciocínio no banco é que os eventos do começo dos anos 70 são
exemplo impróprio para determinar o efeito dos preços do petróleo sobre a economia mundial.
Políticas confiáveis
Depois do colapso do sistema de
Bretton Woods, em 1971, nenhuma economia importante tinha
em vigor uma estrutura confiável
de política monetária. Hoje em
dia, todos os bancos centrais têm
políticas confiáveis para o combate à inflação.
King disse que a estrutura monetária do Reino Unido, com uma
meta simétrica para a inflação e
um banco central independente,
"ajudou a ancorar as expectativas
à meta inflacionária".
Os aumentos nos preços comprimiram as margens de lucros da
indústria e os orçamentos domiciliares, e intensificaram a relutância dos empregadores quanto
a contratar trabalhadores, especialmente nos Estados Unidos, o
que gera preocupações com relação ao crescimento.
Mas o aumento de 65% no preço do petróleo cru do começo do
ano para cá (75%, se computado
desde o começo de 2003), parece
ter causado pouco impacto sobre
as expectativas inflacionárias.
A maior credibilidade dos bancos centrais não é o único fator
em ação para isso. O petróleo cru
está muito abaixo de seu pico dos
anos 70, se os preços forem ajustados pela inflação. O preço do
petróleo foi elevado pela demanda, e não por problemas de restrição de oferta, e por isso deve cair à
medida que o crescimento mundial se desacelerar.
A intensidade do uso do petróleo na indústria diminuiu severamente dos anos 70 para cá. E uma
economia mais integrada em termos mundiais reduziu o poder de
formação de preços tanto das empresas como dos trabalhadores.
Mais confiança nos BCs
Os mercados financeiros não
estão muito preocupados quanto
à ameaça inflacionária da alta do
petróleo. Por exemplo, as taxas de
juros de longo prazo dos EUA caíram do meio do ano para cá, à
medida que as preocupações
quanto a uma alta inicial na inflação básica se dissipavam, mesmo
que o Fed esteja elevando a taxa
básica de juros de curto prazo.
John Taylor, subsecretário do
Tesouro norte-americano para
assuntos internacionais, defendeu o argumento de que o mundo
mudou, em recente conferência
no Federal Reserve de St. Louis.
"No passado, diante de um choque do petróleo, os dirigentes de
bancos centrais tinham de enfrentar uma escolha desagradável
entre tentar atenuar a perda de
produção ou tentar resistir à pressão de alta nos preços. Em contraste, hoje em dia, no mundo todo, as pessoas confiam mais em
que os bancos centrais não permitirão que choques como esse se
transmitam de maneira a causar
mais inflação no longo prazo."
Para manter a credibilidade de
suas políticas de combate à inflação, os dirigentes de bancos centrais precisam ser mais cautelosos
do que os funcionários dos ministérios das Finanças.
Ben Bernanke, influente membro do conselho do Fed, enfatiza a
importância de expectativas inflacionárias bem estabelecidas. "Os
dirigentes de bancos centrais precisam estar vigilantes quanto à
possibilidade de efeitos secundários sobre os preços e salários, depois de um choque do petróleo. Se
você tem certeza de que o aumento no preço do petróleo não afetará as expectativas inflacionárias
de longo prazo, e que, conseqüentemente, os preços e salários deveriam permanecer estáveis depois de um choque, então talvez
seja conveniente relaxar um pouco a política monetária, a fim de
tentar devolver a economia ao caminho de potencial crescimento".
Ao mesmo tempo, o pensamento dos principais bancos centrais
mundiais parece convergir quanto à idéia de que não é preciso
pressa no aumento das taxas de
juros, como resposta à alta nos
preços do petróleo.
O Fed acredita que as taxas de
juros deveriam subir gradualmente, ante o 1,75% atual, em ritmo determinado pelos números
obtidos periodicamente, a fim de
devolver os juros a um nível mais
neutro e impedir o acúmulo de
pressões inflacionárias com o
passar do tempo.
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