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BARRIL DE PÓLVORA
Empresas intensificam a extração não-convencional para produzir óleo de solo arenoso em Fort McMurray
Canadá busca na areia solução para energia
SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES", EM FORT McMURRAY
Quando o jato da companhia
Suncor Energy decola de Calgary
toda manhã, é óbvio que o avião
ruma para uma cidade pujante. O
que já foi um dos recantos mais
adormecidos da indústria de
energia do Canadá está tendo um
surto de desenvolvimento.
Os geólogos, petroleiros e engenheiros recém-formados que são
transportados para o norte pelo
jato da Suncor estão concentrados em um só objetivo: uma abordagem anticonvencional para
produzir petróleo sugando o piche viscoso do solo arenoso ao redor de Fort McMurray -uma cidade de 50 mil habitantes onde a
temperatura pode cair a 40 graus
abaixo de zero no inverno.
Não é fácil e não é barato, e na
maior parte das décadas de 80 e 90
não foi interessante tentar, porque havia muito petróleo cru disponível em fontes mais convenientes, e o preço de mercado era
baixo demais para compensar o
desenvolvimento em grande escala das areias alcatroadas.
Hoje ambos os lados da equação mudaram. As reservas de petróleo cru da América do Norte
foram totalmente exploradas e
desenvolvidas que os especialistas
dizem que dificilmente restou alguma para descobrir. No resto do
mundo, a maioria dos melhores
lugares para perfurar em busca de
petróleo está fora dos limites da
indústria energética ocidental por
motivos políticos.
Assim, com a crescente demanda global fazendo os preços da
energia subir a níveis recordes e
os novos suprimentos de petróleo
cru tão difíceis de encontrar, a
Suncor e mais de uma dúzia de
outras companhias de energia, incluindo Exxon Mobil, ChevronTexaco e Royal Dutch/Shell, estão
implementando projetos em Fort
McMurray.
Sua produção já é crucial para o
suprimento energético dos Estados Unidos. O fluxo de petróleo
extraído das areias alcatroadas de
Alberta, também chamadas areias
oleosas, superou 1 milhão de barris por dia no final de 2003, e deverá duplicar para 2 milhões de barris até 2010 -equiparando-se à
produção de membros importantes da Organização de Países Exportadores de Petróleo, como Líbia e Indonésia. Grande parte do
petróleo vai para o sul, atravessando a fronteira americana.
Mas, enquanto os Estados Unidos aumentaram sua dependência da energia canadense -o Canadá já é seu maior fornecedor de
petróleo e gás natural-, o frenesi
do desenvolvimento das areias alcatroadas em Alberta salienta um
fato incômodo sobre a busca de
fontes de petróleo anticonvencionais para substituir o suprimento
convencional cada vez menor:
que os preços do petróleo continuarão altos por várias décadas.
Os economistas de energia em
Calgary, a pujante capital comercial dessa província pouco populosa (3 milhões de habitantes),
mas rica em energia, dizem que a
maioria dos projetos de areia alcatroada é viáveis somente quando o petróleo está sendo vendido
por mais de US$ 30 o barril.
Custos elevados
Muitas vezes custa até US$ 15 o
barril para extrair betume, uma
forma grossa e pegajosa de petróleo cru, das areias, enquanto os
custos de recuperação para o petróleo cru em partes do Oriente
Médio estão em US$ 2 o barril.
Refinar o betume também custa
muito mais que refinar o cru leve.
"A atração para um país como
os Estados Unidos é que somos
vizinhos, politicamente estáveis e
amigos de empresas privadas",
disse Peter Tertzakian, principal
economista de energia da ARC Financial, uma firma de investimentos em Calgary. "O lado negativo é que é caro de produzir, e
aberto a críticas dos ambientalistas, que consideram as areias alcatroadas grandes poluidoras."
As operações da Suncor oferecem um vislumbre do tamanho
do empreendimento que é produzir petróleo na região. A companhia, sediada em Calgary, foi pioneira na exploração de areias alcatroadas nos anos 60, mas só nos
últimos anos sua crescente produção a tornou influente na indústria de petróleo dos Estados
Unidos.
A produção de suas areias alcatroadas está em média em 248 mil
barris por dia. A Suncor adquiriu
recentemente uma refinaria em
Denver, capaz de processar o petróleo para que possa ser vendido
em todo os Estados Unidos.
A maior parte da produção da
Suncor vem de uma operação que
parece uma imensa mina a céu
aberto. Enormes caminhões
transportam cargas de solo escavado com grandes pás, operando
24 horas por dia no ano todo.
A direção da Suncor, liderada
por seu executivo-chefe, Richard
L. George, enfatiza a produtividade em um impulso para reduzir
os custos. As interrupções são caras: parar um caminhão custa à
empresa até US$ 50 por minuto.
Os empregados da mina normalmente trabalham seis dias
consecutivos de 12 horas, depois
têm seis dias livres. O pagamento
inicial é de 25 dólares canadenses
(cerca de US$ 19) por hora.
O rápido desenvolvimento das
areias alcatroadas trouxe milhares de recém-chegados a Fort
McMurray e fez aumentar o preço
das casas, que se tornaram um
dos mais altos do Canadá.
"Depois do colégio fui embora,
mas o dinheiro me trouxe de volta", disse Cynthia Deutsch, 29,
motorista de caminhão e uma das
raras pessoas nascidas e criadas
em Fort McMurray.
Processo de produção
Água quente é utilizada para separar o betume da areia. Geralmente são necessárias cerca de
duas toneladas de areia para produzir um barril de óleo.
Tanto gás natural e tanta eletricidade são utilizados para acionar
as máquinas de derreter lama que
as operações de areia alcatroada
tornaram-se grandes contribuintes para as emissões de gases do
efeito estufa pelo Canadá.
Como o país assinou o Protocolo de Kyoto em 2002, comprometendo-se a reduzir essas emissões,
as companhias tomaram medidas
como investir em tecnologia de
redução de emissões.
A Suncor tornou-se uma das
maiores desenvolvedoras do Canadá de eletricidade gerada pelo
vento, contrabalançando os efeitos de suas operações.
Os críticos ambientalistas dizem que esses esforços são pouco
mais que decorativos e nada fazem para aliviar a dependência da
América do Norte do petróleo.
"Eles estão trabalhando no sentido inverso", disse Thomas
Adams, diretor-executivo do
Energy Probe, um grupo baseado
em Toronto que promove a conservação de energia. "Aqueles que
pensam que esta é a Arábia Saudita do mês vão ter um choque."
Os ambientalistas não são os
únicos céticos. Algumas das
maiores companhias de petróleo,
como a BP, desistiram, notando
que durante quase um século todas as tentativas de extrair petróleo pesado em escala comercial
fracassaram, enchendo a área ao
redor de Fort McMurray com tecnologias abandonadas. A cidade
tem até um museu de equipamentos antigos, o Centro de Descobertas das Areias Alcatroadas.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
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