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Melhor opção seria criar um seguro, afirma ex-BC
Para Carlos Thadeu de Freitas, estatização de bancos terá dificuldades operacionais
Ele diz que uma espécie de seguro para os empréstimos interbancários funcionaria como um fundo garantidor de crédito dos poupadores
Sergio Lima/Folha Imagem
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O ministro Guido Mantega e o presidente do BC, Henrique Meirelles, explicam a nova MP
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-diretor do Banco Central
que enfrentou crises bancárias
nos anos 80, o economista Carlos Thadeu de Freitas vê dificuldades operacionais para implementar a compra de instituições em dificuldades pela
Caixa e pelo BB.
Ele diz que uma solução mais
inteligente seria criar uma espécie de seguro para os empréstimos interbancários, adotado na Europa e que funcionaria como espécie de fundo garantidor de crédito dos poupadores. Para ele, a crise de liquidez atual é um problema sério,
que pode levar à insolvência de
instituições, mas que o sistema
hoje está muito mais sólido do
que em 1985, quando o BC teve
de liquidar três bancos e ir a público para evitar uma corrida
bancária.
FOLHA - A medida do governo é
mais uma questão de preparar o arcabouço jurídico em caso de um socorro ou temos instituições na UTI?
CARLOS THADEU DE FREITAS - É mais
uma medida preventiva. Foi tomada para dizer que estamos
em condições de, eventualmente, comprar bancos. Os
EUA já falaram que vão comprar ações do Citigroup e de outros bancos, agora foi a nossa
vez. Mas esse comprar demora.
Em termos operacionais, essa
MP não é tão fácil de implementar como emprestar.
FOLHA - Há outras formas de resolver esse problema de capitalização?
FREITAS - Por que a instituição
financeira não vai ao BC e toma
o redesconto [empréstimo para
socorrer bancos]? Os bancos
podem primeiro pedir dinheiro
emprestado, que é muito mais
fácil. Em termos operacionais,
[comprar banco] é complicado
porque eles têm operações de
crédito que vencem daqui a um
tempo. Quanto vale essa operação? Você tem de fazer uma
conta vinculada, porque, se esse cliente não paga, o banco que
está comprando vai lá e saca
nessa conta.
FOLHA - Não seria melhor o BC e o
Tesouro fazerem o socorro?
FREITAS - Na Europa, criaram
seguro de garantia para depósitos interbancários. O crédito
não estava andando, mas os
empréstimos entre os bancos
foram garantidos. Só que os
bancos pagam prêmio de seguro para que, se houver algum
problema, esse prêmio cubra.
Deu certo, tanto que os juros
interbancários caíram. A garantia é melhor do que a compra. Até porque a instituição
que vai utilizar a garantia vai
desembolsar. Todo mundo participa e não está estatizando
nem comprando.
FOLHA - É mais uma questão de ganhar confiança?
FREITAS - Pode dar uma confiabilidade, mas o grande problema é que, para comprar de verdade, não se faz isso da noite
para o dia. Tem de dar preço em
tudo. E até ter isso, o banco já
quebrou. Vai ter que ir para o
Banco Central para depois a
venda acontecer.
FOLHA - Como no Proer?
FREITAS - Não digo que seja
igual, porque a instituição está
viva ainda. Ela tem de ir para o
redesconto primeiro para depois ser comprada. É um segundo passo. Se o BC der o redesconto e a instituição financeira não tiver condições de pagar ao BC, tem essa MP que
permite a Caixa e o BB comprarem essa instituição para que
ela não quebre e gere um risco
sistêmico. É uma garantia da
garantia. Um seguro teria mais
abrangência e custaria menos.
FOLHA - Não tem um veio ideológico de mostrar a força do Estado?
FREITAS - Não vejo isso, vejo
mais um lado de precaução.
EUA, Europa e Coréia não estão fazendo isso? Então, também posso.
FOLHA - Estamos vendo uma crise
de liquidez. A liquidez é o primeiro
passo para a crise de solvência?
FREITAS - Uma instituição que
está solvente fica insolvente
pela crise de liquidez. Ela não
consegue se zerar, captar recursos e quebra. Toda instituição financeira quebra na boca
do caixa. Ela não quebra pela
insolvência, quebra porque está carregando ativos que ninguém sabe quanto valem. Uma
instituição financeira é igual a
um submarino, pode ficar algum tempo embaixo d'água.
Ela sobrevive mais tempo do
que uma empresa, porque uma
empresa você sabe quanto vale,
e um banco não. Ele quebra na
hora que falta oxigênio.
FOLHA - Qual o maior perigo?
FREITAS - Hoje a liquidez está
empoçada. O BC está tomando
todo dia dinheiro, então tem liquidez. Determinadas instituições não querem comprar ativos de outras instituições porque têm medo de uma crise de
crédito. Se o governo paga taxa
de juros alta, por que vou correr
qualquer tipo de risco? É o preço do custo da dívida.
FOLHA - E por que tanta boataria?
FREITAS - Eu vivi essa boataria e
sei como funciona. Em 1985,
era diretor da área bancária do
BC e três bancos foram liquidados. Teve corrida bancária. Foi
preciso um esforço público para dizer que não tinha ninguém
quebrando. O presidente do BC
teve de ir à televisão dizer isso.
Hoje não tem corrida bancária.
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