São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Baixa alavancagem poderá proteger bancos brasileiros

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sólido, pouco alavancado e reforçado agora pela MP (Medida Provisória) que permite a estatização, o sistema bancário brasileiro não corre risco de quebradeira de grandes instituições, como ocorreu nos EUA e na Europa, avaliam especialistas ouvidos pela Folha.
Para Istvan Kasznar, professor da FGV, a proteção do sistema brasileiro vem do baixo nível de alavancagem. Segundo estudo elaborado pelo especialista com 172 bancos, a alavancagem média do setor era, no primeiro semestre deste ano, de 8,2 vezes o patrimônio líquido. É, portanto, menor até do que o limite de 11 vezes estabelecido pelas regras do acordo Basiléia 2, que regula a atividade bancária mundial.
Nos EUA, algumas instituições trabalhavam com alavancagem de até 50 vezes, segundo ele. "Aqui, temos um provisionamento muito maior. A capacidade de defesa das instituições é muito melhor", diz.
O ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas afirma que a quebra dos bancos Marka e FonteCindam -que estavam muito alavancados em operações de câmbio durante a maxidesvalorização do real em 1999- fez o BC criar regras que protegeram o sistema bancário. Citou a exigência de um maior patrimônio em caso de aumento da exposição cambial.
Para Freitas, a crise internacional gerou no Brasil um problema de liquidez em algumas linhas de crédito, mas não de solvência como nos EUA, quando os bancos ficaram com patrimônio negativo no momento em que as garantias dos empréstimos subprime perderam valor. Ele não acredita em quebra de grandes instituições.
Diz, porém, que as instituições já estão mais seletivas e conservadoras na concessão de crédito. "A liquidez está empoçada. O medo de uma pressão de saques fez os bancos ficarem mais cautelosos."
Carlos Geraldo Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV e ex-presidente do BC, afirma que os bancos brasileiros são dos mais "sólidos e capitalizados" entre os países emergentes graças à reestruturação que ocorreu a partir da estabilização da economia. Ele diz que o programa de socorro Proer, criticado à época, foi importante no processo de fortalecimento do sistema bancário brasileiro.
Apesar da rápida expansão, diz, o crédito é pouco desenvolvido no país, o que protege os bancos. Para o BC, o crédito alcançará 40% do PIB em 2008.


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