São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Suzano tem prejuízo e adia projetos de investimento

Planos de até US$ 7 bi dependem de efeito da crise

AGNALDO BRITO
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

As decisões da Suzano Papel e Celulose para deslanchar o pacote de investimentos de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões até 2015 foram postergadas até que fiquem mais evidentes os desdobramentos da crise que atinge as economias mundiais.
"Os projetos estão em pé, mas as decisões concretas vão depender dos efeitos da situação econômica e da demanda no exterior, além da oferta de recursos para financiamento", afirma Boris Tabacof, vice-presidente do conselho de administração da companhia.
A expansão da Suzano prevê a construção de três fábricas de celulose -uma no Piauí, uma no Maranhão e outra em local ainda não definido. "Como a produção de celulose está voltada para o mercado externo, a crise global fez com que as decisões para deslanchar os investimentos fossem postergadas."
Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano, afirma que a companhia não precisa tomar decisões neste momento. A decisão firme é a de manter os investimentos em florestas que possam atender à demanda das fábricas da empresa.
Maciel Neto não quis antecipar qual o rumo do plano da empresa de elevar em 400 mil toneladas por ano a produção de celulose da fábrica de Mucuri (BA), com investimentos previstos para começar em janeiro do ano que vem. O que está certo, segundo ele, é que essa fábrica de Mucuri será paralisada no mês que vem para uma redução da produção de celulose de 30 mil toneladas.
A Suzano não é a primeira companhia de papel e celulose a adotar postura mais conservadora com investimentos. Afetada com a desvalorização do real, a Aracruz anunciou a suspensão de um projeto de US$ 1,5 bilhão em Guaíba (RS).
A VCP (Votorantim Celulose e Papel) informou que o negócio de R$ 2,7 bilhões com sócios da Aracruz foi suspenso e não tem data para ser retomado. E a Klabin decidiu paralisar todos os investimentos para "preservar o caixa", segundo informou.

Balanço
A Suzano, líder no mercado brasileiro de papel para imprimir e escrever, fechou o terceiro trimestre deste ano com prejuízo de R$ 293 milhões, após registrar, de abril a junho deste ano, lucro de R$ 185 milhões. No terceiro trimestre do ano passado também fechou com lucro -de R$ 168 milhões.
No período de janeiro a setembro deste ano, o lucro da companhia foi de R$ 21,1 milhões ou 95,2% menor do que o registrado em igual período de 2007, de R$ 446 milhões.
A redução do lucro, segundo Maciel Neto, foi provocada pela forte desvalorização do real em setembro, que resultou numa elevação de R$ 480 milhões na dívida da companhia atrelada ao dólar. Não houve desembolso desse valor, o efeito é contábil no balanço. O endividamento em moeda estrangeira da Suzano em 30 de setembro foi de US$ 1,7 bilhão. Hoje, a companhia tem US$ 270 milhões em aplicações. Embora a desvalorização cambial tenha comprometido o resultado da empresa no terceiro trimestre deste ano, as exportações da Suzano podem compensar a partir de agora esse resultado negativo.
Com a alta do dólar, segundo ele, as receitas em reais podem crescer e inverter a atual situação. Por ano, a Suzano tem exportações de US$ 1,5 bilhão.
Maciel Neto não esconde a preocupação em relação aos efeitos da crise financeira internacional. "O câmbio, sem dúvida, ficará favorável às exportações. Os preços de celulose devem cair e os volumes de exportação também não devem ser maiores do que os atuais", afirma. De acordo com Maciel Neto, a empresa se prepara para um período de forte restrição de crédito.
Com R$ 1,7 bilhão no caixa, a Suzano pretende ser conservadora na gestão desses recursos. Os recursos financiam neste momento as próprias exportações e as compras dos clientes, dada a dificuldade de obtenção de crédito no mercado.


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