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Bolsa argentina desaba após estatização
Estatização de fundos de previdência privada do país afeta negativamente mercado e índice Merval cai mais de 10%
Iniciativa teria como meta tornar cenário nacional mais tranqüilo, porém tem efeito contrário; medida enfrenta oposição no Congresso
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Longe de trazer previsibilidade e tranqüilidade, como
afirmou a presidente argentina, Cristina Kirchner, o anúncio da estatização da previdência privada provocou forte impacto negativo sobre os índices
da economia do país ontem.
O índice Merval da Bolsa de
Comércio de Buenos Aires fechou com uma queda de
10,11%, chegando ao menor índice desde junho de 2004. Durante a tarde, o Merval chegou
a cair quase 18%, acompanhando também a tendência de baixa nas bolsas internacionais.
Os fundos de previdência privada, que agora serão estatizados, têm cerca de 70% de seu
dinheiro investido em bônus e
ações e estão entre os principais investidores da bolsa local.
Seguindo a tendência negativa, o risco-país chegou a alcançar 2.000 pontos, e os títulos do
país caíram uma média de 11%.
O dólar manteve seu valor pela
intervenção do Banco Central.
Na Espanha, a queda de 8%
na Bolsa de Madri, mais expressiva do que a das economias vizinhas, foi vista como reflexo
da reforma da previdência argentina, pela forte relação entre as duas economias. Um dos
títulos mais afetados foi o da
petroleira binacional Repsol-YPF, que caiu mais de 15%.
Diante da fuga de capitais, a
Justiça argentina já havia deliberado anteontem que os dez
fundos de pensão privados não
poderiam atuar no mercado financeiro por sete dias.
No entanto, diante da forte
queda da bolsa, a Justiça argentina determinou ontem a busca
e apreensão de documento e
equipamento de informática na
sede dos fundos de previdência
diante da denúncia de que estariam liquidando bônus e ações
frente à iminente estatização.
Em um comunicado, a União
de Administradoras de Fundos
de Aposentadorias e Pensões
afirmou que "o projeto de lei
não tem uma visão de longo
prazo" e que "a medida gera um
contexto que desincentiva os
investimentos na Argentina".
As empresas estimulam que
seus afiliados processem o Estado e já se prevê grande quantidade de processos. Alguns dos
principais fundos argentinos
estão ligados a grandes grupos,
como HSBC e BBVA.
O projeto de lei que determina a estatização da Previdência
ainda tem que ser aprovado pelo Congresso, onde a oposição
promete dar trabalho ao governo. Eles afirmam que a nova
medida visa encher os cofres do
governo em tempo de crise e
não ajudar aos aposentados.
Desde 1994, quando foi criado a Previdência privada, a Argentina tinha um sistema misto. Quem não optava entre a
Previdência estatal ou a privada, ia automaticamente para o
sistema privado. Uma reforma
feita pelo ex-presidente Néstor
Kirchner (2003-2007) permitiu que os contribuintes do setor privado pudessem voltar a
escolher o sistema público.
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