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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Superação da crise será mais rápida agora
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Banqueiros e investidores arriscam seus capitais, analistas e jornalistas arriscam seu prestígio
(quando ainda têm algum). Estamos às portas de uma depressão
mundial ou tudo não passa de
mais uma turbulência financeira
que não será a última?
Aliás, é curioso notar que "prestígio" e "prestidigitador" têm a
mesma raiz no vernáculo: é uma
ilusão atribuída a poderes sobrenaturais, à magia. O prestidigitador (o "mágico") deve mover as
mãos e os dedos com rapidez. Os
jornalistas também.
Nos últimos dias, em reportagens na "Economist" e nos comentários de economistas, o cenário de depressão mundial voltou à
cena. A verdade, como lembra Robert J. Samuelson em artigo no
"Washington Post" da última
quinta-feira, é que o aprofundamento da crise asiática tem sido
maior que o imaginado. Ser otimista ou simplesmente descrer da
catástrofe, nessas condições, é
uma grande temeridade.
Samuelson alerta para o transbordamento da crise financeira
para outros mercados, afetando as
previsões de crescimento em um
número crescente de países. Se essa tendência consolidar-se, o crescimento mundial sofreria.
Mas há um saco de motivos bastante razoáveis para não temer a
confirmação do pior cenário.
O mais importante é a saúde da
economia norte-americana. O dólar se fortalece. Isso reduz os custos de financiamento da economia
dos EUA e impede que o seu crescimento continuado vire inflação.
Há também uma dimensão tecnológica. O setor de tecnologia da
informação é o mais dinâmico na
economia dos EUA. E este é um setor intensivo em importações de
insumos produzidos em grande
escala no Sudeste Asiático.
No fim do século 19, a Inglaterra
era decadente militar, tecnológica
e financeiramente. Nos anos 20, a
economia norte-americana começava a se tornar a vanguarda, mas
ainda não detinha a liderança militar que assumiu com a destruição
dos castelos de carta europeus.
Grandes não quebram
Agora, o peso e a inserção estratégica da economia norte-americana no esquema global são não
apenas mais favoráveis do que no
início do século, mas opostos à crise de hegemonia inglesa do século
passado.
Embora o medo da quebradeira
bancária na Ásia e no Japão seja
real, há nessa área dois fatos relevantes. O primeiro é o velho princípio conhecido como "too big to
fail" (grande demais para quebrar). Seja pelo tamanho do Japão,
seja pelo sua função reciclando superávits comerciais com papéis do
Tesouro norte-americano, sua
economia pode sofrer, seu governo pode cair, mas o sistema não
pode quebrar.
O segundo fator relevante é a
perspectiva de multiplicação de
negócios de fusões e aquisições. O
governo japonês acena com essa
possibilidade e, apesar das manchetes por enquanto estarem concentradas nas perdas patrimoniais, a saída da crise vem com a
maior concentração dos capitais.
A notícia da semana passada foi a
formação de um consenso asiático
quanto à intervenção do FMI e dos
EUA na região. No próximo final
de semana, as lideranças da Apec
(Asian Pacific Economic Conference) se reúnem no Canadá. A superação da crise pode ser mais rápida do que se consegue, por enquanto, adivinhar.
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