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VIZINHO EM CRISE
Ministro diz que medida não terá nenhum efeito sobre o câmbio; 21 bilhões de pesos devem ser liberados
Argentina decide liberar pesos congelados
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
O governo argentino decidiu
acabar com o "corralito" -a medida que, em dezembro do ano
passado, havia congelado os depósitos bancários dos correntistas
do país. A partir de segunda-feira,
anunciou ontem o ministro Roberto Lavagna (Economia), os argentinos poderão sacar o dinheiro que estava preso.
No início da próxima semana,
acabam as restrições que têm a
ver com as contas com depósito à
vista -contas corrente e poupança. As estimativas são que cerca de
21 bilhões de pesos (US$ 5,9 bilhões) serão liberados pela medida anunciada ontem.
Os depósitos a prazo -como
investimentos em fundos e aplicações de médio e longo prazo-
somam 9 bilhões de pesos e continuarão retidos. "As contas correntes e as contas de poupança
passarão a ser contas livres e, em
consequência, sem nenhum tipo
de restrição ao seu uso", afirmou
Lavagna.
O "corralito" foi adotado no final do ano passado como uma
medida para evitar a quebra do
sistema financeiro argentino. A
desconfiança de que o peso se
desvalorizaria gerou uma corrida
aos bancos, que perderam mais
de um quarto dos depósitos em
2001. Os bancos corriam o risco
de ficarem insolventes.
O governo limitou o valor de saques. Os argentinos podiam sacar
2.000 pesos mensais, o que acabou liberando, aos poucos, grande parte dos depósitos. O governo
receava que a liberação total dos
recursos poderia causar uma corrida por dólares que, se ocorresse,
poderia levar ao descontrole do
câmbio.
Ontem, Lavagna afirmou que "a
medida não terá nenhum efeito
sobre o dólar". De fato, alguns
analistas argentinos afirmam que
há sinais de que a população voltou a confiar nos bancos. Parte
dos depósitos congelados foi liberada por decisões judiciais e o receio do governo de que houvesse
uma "sangria nos bancos e corrida para o dólar" não se concretizou.
"O dinheiro sai por uma janela e
entra por outra", afirmou Lavagna durante uma entrevista no início da semana. Como o governo
passou a oferecer títulos públicos
que pagam juros altos aos bancos,
as instituições puderam oferecer
opções de investimentos com alta
rentabilidade e os clientes preferiram investir nos bancos do que
arriscar e comprar dólares cuja
cotação, nos últimos meses, caiu
em relação ao peso.
O governo parece acreditar que
as pessoas acabarão deixando
seus recursos nos bancos ou, no
máximo, trocar de instituição.
Com a medida, a equipe econômica aplaca a fúria popular -todos os dias há pequenas manifestações na frente dos bancos- e
atende, indiretamente, a uma exigência do FMI (Fundo Monetário
Internacional).
Os técnicos do Fundo eram
contra o "corralito", medida que
consideravam desrespeitar o direito de propriedade. Mas nas últimas semanas, os negociadores
estavam exigindo garantias do
governo de que não haverá decisões judiciais que ordenem a liberação de recursos. O receio dos
técnicos do Fundo é que isso poderia desestabilizar o sistema financeiro.
O governo estava de mãos atadas. O ministro Lavagna afirmava
que era impossível assumir um
compromisso que é da alçada do
Poder Judiciário.
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