São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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VIZINHO EM CRISE

Ministro diz que medida não terá nenhum efeito sobre o câmbio; 21 bilhões de pesos devem ser liberados

Argentina decide liberar pesos congelados

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino decidiu acabar com o "corralito" -a medida que, em dezembro do ano passado, havia congelado os depósitos bancários dos correntistas do país. A partir de segunda-feira, anunciou ontem o ministro Roberto Lavagna (Economia), os argentinos poderão sacar o dinheiro que estava preso.
No início da próxima semana, acabam as restrições que têm a ver com as contas com depósito à vista -contas corrente e poupança. As estimativas são que cerca de 21 bilhões de pesos (US$ 5,9 bilhões) serão liberados pela medida anunciada ontem.
Os depósitos a prazo -como investimentos em fundos e aplicações de médio e longo prazo- somam 9 bilhões de pesos e continuarão retidos. "As contas correntes e as contas de poupança passarão a ser contas livres e, em consequência, sem nenhum tipo de restrição ao seu uso", afirmou Lavagna.
O "corralito" foi adotado no final do ano passado como uma medida para evitar a quebra do sistema financeiro argentino. A desconfiança de que o peso se desvalorizaria gerou uma corrida aos bancos, que perderam mais de um quarto dos depósitos em 2001. Os bancos corriam o risco de ficarem insolventes.
O governo limitou o valor de saques. Os argentinos podiam sacar 2.000 pesos mensais, o que acabou liberando, aos poucos, grande parte dos depósitos. O governo receava que a liberação total dos recursos poderia causar uma corrida por dólares que, se ocorresse, poderia levar ao descontrole do câmbio.
Ontem, Lavagna afirmou que "a medida não terá nenhum efeito sobre o dólar". De fato, alguns analistas argentinos afirmam que há sinais de que a população voltou a confiar nos bancos. Parte dos depósitos congelados foi liberada por decisões judiciais e o receio do governo de que houvesse uma "sangria nos bancos e corrida para o dólar" não se concretizou.
"O dinheiro sai por uma janela e entra por outra", afirmou Lavagna durante uma entrevista no início da semana. Como o governo passou a oferecer títulos públicos que pagam juros altos aos bancos, as instituições puderam oferecer opções de investimentos com alta rentabilidade e os clientes preferiram investir nos bancos do que arriscar e comprar dólares cuja cotação, nos últimos meses, caiu em relação ao peso.
O governo parece acreditar que as pessoas acabarão deixando seus recursos nos bancos ou, no máximo, trocar de instituição. Com a medida, a equipe econômica aplaca a fúria popular -todos os dias há pequenas manifestações na frente dos bancos- e atende, indiretamente, a uma exigência do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Os técnicos do Fundo eram contra o "corralito", medida que consideravam desrespeitar o direito de propriedade. Mas nas últimas semanas, os negociadores estavam exigindo garantias do governo de que não haverá decisões judiciais que ordenem a liberação de recursos. O receio dos técnicos do Fundo é que isso poderia desestabilizar o sistema financeiro.
O governo estava de mãos atadas. O ministro Lavagna afirmava que era impossível assumir um compromisso que é da alçada do Poder Judiciário.


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