São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO

Basta o Fed pegar o telefone e se restabelece a confiança no Brasil, diz Mercadante a subsecretário do Tesouro

PT pede "crédito, crédito, crédito" aos EUA

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

"Crédito, crédito, crédito", pediu ontem o senador eleito Aloizio Mercadante [PT-SP] ao subsecretário do Tesouro norte-americano, Kenneth Dam, durante a Cúpula de Negócios da América Latina, vinculada ao Fórum Econômico Mundial.
"Basta o Fed [Federal Reserve Bank] pegar o telefone e se restabelece a confiança no Brasil", disse Mercadante, destacando a importância dos EUA para estancar o corte de linhas de crédito para o Brasil.
Mercadante e Dam participaram da sessão plenária de encerramento da cúpula no Rio e, depois do almoço, se reuniram a sós durante 45 minutos. Ao final, Dam disse: "Estamos abertos a discussões e vamos conversar sobre isso [crédito e influência do Fed] em Washington, em dezembro". É quando o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, irá aos EUA.

Prêmios
Mercadante anunciou que o novo governo pretende "premiar os bancos privados" que financiarem projetos de pequenas e médias empresas que tenham função social, como forte geração de emprego. "Inclusive com créditos fiscais", ressaltou. Depois, comparou com experiência do BNDES, por exemplo.
"Nós vamos respeitar contratos, manter o equilíbrio fiscal e os superávits, mas isso não significa abrir mão de nossas convicções", avisou o futuro senador para a platéia de mais de 200 homens de negócios de vários países, especialmente da América Latina.
"Vamos colocar o social como eixo edificante do econômico", acrescentou ele, sob aplausos. Opinou, então, que o processo de globalização falhou na questão social, e o ideal é que o Fórum Econômico Mundial possa conviver com o Fórum Social de Porto Alegre. Segundo Mercadante, o governo Lula pode ser um "link" entre os dois.
Mercadante também destacou as dificuldades: "Com as restrições fiscais e econômicas, nossa margem de manobra econômica é muito pequena. Dos erros, menor ainda".

Mercosul
Mercadante também insistiu na retomada do Mercosul e disse que as relações com a Argentina serão "leais e solidárias". Na sua opinião, "é melhor todos saírem juntos da crise do que sozinhos" e falou que a aproximação de indicadores macroeconômicos "fortalecem a identidade regional".
Em relação aos Estados Unidos, o senador petista ampliou o discurso da véspera, quando dissera que a intenção do governo Lula é "jogar duro" com os parceiros do Norte do continente.
"Os Estados Unidos sempre cobram abertura, mas só vale onde a economia norte-americana é forte e competitiva. Onde não é, como na agricultura, que nos interessa diretamente, ninguém fala em abertura, disse o senador eleito.

Milho
Olhando para Dam, a seu lado, pediu: "Deixa a gente comprar o milho de vocês e vocês comprarem o etanol [álcool] da gente. Essa é uma agenda positiva".
Mais tarde, em entrevista, Mercadante disse que no primeiro. mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso os Estados Unidos aumentaram suas exportações para o Brasil em 116%, enquanto o Brasil só aumentou as suas para aquele país em 5,6%. Tudo em função da política cambial equivocada, de acordo com o senador eleito.
O senador também falou, olhando para o subsecretário norte-americano, sobre a exigência de patentes que os países desenvolvidos fazem aos pobres. Disse que, dos 180 milhões de CDs comercializados por ano no Brasil, 10% são piratas.
"Enquanto vocês [desenvolvidos] continuarem enrolando os países pobres, isso vai acontecer", disse.


Texto Anterior: Finanças: Prejuízo contamina outros fundos
Próximo Texto: EUA afirmam só reduzir subsídio agrícola com contrapartida da UE
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.