São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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FMI pode vender reservas em ouro para cobrir rombo

Proposta de alguns diretores visa ao pagamento de perdas operacionais previstas

Plano encontra resistência do governo dos EUA, maior detentor de estoques do metal e que tenta evitar a redução das cotações

DA BLOOMBERG

O FMI (Fundo Monetário Internacional), o terceiro maior detentor de reservas em ouro do mundo, deveria vender parte de seu estoque do metal para cobrir os prejuízos operacionais previstos. A avaliação é compartilhada por um crescente número de seus diretores.
O FMI prevê que terá prejuízo de US$ 87,5 milhões em 2007 e de US$ 280 milhões em 2009. Alguns diretores dizem que o Fundo deveria vender uma parcela de suas 103 milhões de onças-troy de ouro (o equivalente a 3.500 toneladas), avaliadas em US$ 64,7 bilhões, e investir os recursos obtidos em ativos que rendem juros.
"Nós apoiaríamos a utilização das reservas de ouro como parte da solução para as necessidades financeiras do FMI", disse o finlandês Tuomas Saarenheimo, presidente de um grupo que coordena o posicionamento dos membros da UE (União Européia) no conselho diretor do organismo, formado por 24 pessoas.
A possibilidade da venda do ouro ressalta a crise financeira pela qual o FMI passa, num momento em que países como o Uruguai quitam seus empréstimos antes do prazo -reduzindo a receita de juros para o Fundo- e em que diminui a demanda por empréstimos.
Os autores da proposta de venda precisam antes vencer a oposição dos EUA, o terceiro maior produtor de ouro e o maior detentor de reservas do metal, que desejam manter elevados as cotações.
"Grandes detentores e produtores de ouro como os EUA têm estado preocupados com a possibilidade de que a venda do metal por parte do FMI possa reduzir seu preço", disse Ted Truman, ex-secretário-assistente do Tesouro dos EUA e acadêmico do Peterson Institute for International Economics de Washington.
Brookly McLaughlin, porta-voz do Departamento do Tesouro norte-americano, disse que a venda de ouro não é "a opção adequada neste momento para lidar com os problemas financeiros do FMI".
Em vez de vender ouro, o FMI deveria controlar seu orçamento anual, que dobrou de valor na última década, passando a US$ 980 milhões, disse Devesh Kapur, economista da Universidade de Pensilvânia.
"Permitiu-se que os gastos do Fundo ficassem fora de controle", disse Kapur. "Atualmente, o Fundo tem um número de funcionários e um orçamento muito maiores do que é justificável por seu papel."
A venda de ouro é uma das opções estudadas por um painel de oito pessoas, que é responsável pelas decisões financeiras do FMI e que foi indicado em maio passado pelo diretor-gerente do organismo, Rodrigo de Rato. O painel, que tem entre seus membros o ex-presidente do Federal Reserve (o BC dos EUA) Alan Greenspan, apresentará seu relatório no início do ano que vem. Entre outras soluções possíveis estão o corte de gastos e pedidos de contribuições para os países-membros do Fundo.
Jeroen Kremers, diretor-executivo da Holanda no Fundo, disse que é preferível realizar vendas limitadas de ouro a tentar obter ajuda financeira.
"Tornar o Fundo dependente de seus países-membros por meio de pedidos de contribuição para o orçamento anual prejudicaria seriamente a independência do FMI e, em conseqüência, sua capacidade de cumprir seu papel no sistema financeiro mundial", disse.


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