São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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Para Lamy, acordo do G20 pode ajudar Doha

BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, disse ontem em Montevidéu, durante a cerimônia de celebração dos 20 anos da Rodada Uruguai (1986-1994), que acreditava que um acordo entre os membros do G20 (que representa os maiores países em desenvolvimento) ajudaria na retomada da Rodada Doha, cujas negociações foram suspensas em julho devido à resistência dos Estados Unidos e da União Européia em fazer concessões no tema dos subsídios agrícolas.
Para Lamy, a importância do grupo para a OMC vem justamente do fato de que, para chegar a uma proposta comum, os países que o compõem precisam superar "divergências" entre si em uma espécie de rodada prévia, o que facilitaria posteriormente o entendimento com EUA e União Européia.
A resposta foi dada em seguida pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, que afirmou que "não existe confrontação" nem "divergências" entre os países do grupo, mas sim "nuances" relacionadas ao fato de haver países mais competitivos no mercado internacional que outros.
"É querer colocar o carro diante dos bois achar que o G20 vai resolver esse problema [das nuances internas] antes de haver um gesto claro dos países desenvolvidos que nos permita ter a confiança de que a rodada vai terminar", disse Amorim. "Se esse gesto vier, a própria pressão gerada vai fazer com que as posições se aproximem. Mas não creio que seja um assunto para o G20 discutir dentro dele. Podemos ter diferenças, mas não somos nós que estamos pressionando a Índia ou a Indonésia para mudar de posição, são os Estados Unidos."
Em seu discurso, Amorim ressaltou a importância do G20 para o avanço das negociações, pediu que os países ricos não permitam que "interesses mesquinhos" atrapalhem a conciliação e afirmou que "o fracasso [da Rodada Doha] não é uma opção". "Disso não depende não só o resultado de mais uma rodada, mas o futuro de um sistema multilateral de comércio que promova o desenvolvimento, a justiça social e o fim da pobreza no mundo."
Ontem, Amorim assinou com o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, nove ajustes de um acordo de cooperação científica entre os dois países, com temas sobre o aproveitamento da bacia da Lagoa Mirim, a pesquisas ligadas ao melhoramento da carne e à implementação de bancos de leite humano no Uruguai, entre outros.

Janela
Lamy afirmou ainda que é preciso aproveitar uma brecha aberta pelas eleições parlamentares nos EUA para, até a primavera do hemisfério Norte, tentar "preencher os pontos pendentes em diferentes temas". Ele insistiu no chamado para que os países retomem o engajamento para superar preconceitos e concluir a rodada.
As negociações técnicas de Doha foram reiniciadas neste mês, mas Lamy admitiu ontem que não há ainda condições para que sejam convocados os ministros para conversações em nível mais elevado. Ele reconheceu que o sucesso de Doha, no qual ainda acredita, embora não o considere fácil, é crucial para a credibilidade da OMC.


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