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Para Lamy, acordo do G20 pode ajudar Doha
BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU
O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, disse ontem
em Montevidéu, durante a cerimônia de celebração dos 20
anos da Rodada Uruguai (1986-1994), que acreditava que um
acordo entre os membros do
G20 (que representa os maiores países em desenvolvimento) ajudaria na retomada da Rodada Doha, cujas negociações
foram suspensas em julho devido à resistência dos Estados
Unidos e da União Européia em
fazer concessões no tema dos
subsídios agrícolas.
Para Lamy, a importância do
grupo para a OMC vem justamente do fato de que, para chegar a uma proposta comum, os
países que o compõem precisam superar "divergências" entre si em uma espécie de rodada
prévia, o que facilitaria posteriormente o entendimento
com EUA e União Européia.
A resposta foi dada em seguida pelo chanceler brasileiro,
Celso Amorim, que afirmou
que "não existe confrontação"
nem "divergências" entre os
países do grupo, mas sim
"nuances" relacionadas ao fato
de haver países mais competitivos no mercado internacional
que outros.
"É querer colocar o carro
diante dos bois achar que o G20
vai resolver esse problema [das
nuances internas] antes de haver um gesto claro dos países
desenvolvidos que nos permita
ter a confiança de que a rodada
vai terminar", disse Amorim.
"Se esse gesto vier, a própria
pressão gerada vai fazer com
que as posições se aproximem.
Mas não creio que seja um assunto para o G20 discutir dentro dele. Podemos ter diferenças, mas não somos nós que estamos pressionando a Índia ou
a Indonésia para mudar de posição, são os Estados Unidos."
Em seu discurso, Amorim
ressaltou a importância do G20
para o avanço das negociações,
pediu que os países ricos não
permitam que "interesses mesquinhos" atrapalhem a conciliação e afirmou que "o fracasso
[da Rodada Doha] não é uma
opção". "Disso não depende
não só o resultado de mais uma
rodada, mas o futuro de um sistema multilateral de comércio
que promova o desenvolvimento, a justiça social e o fim da pobreza no mundo."
Ontem, Amorim assinou
com o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, nove ajustes de
um acordo de cooperação científica entre os dois países, com
temas sobre o aproveitamento
da bacia da Lagoa Mirim, a pesquisas ligadas ao melhoramento da carne e à implementação
de bancos de leite humano no
Uruguai, entre outros.
Janela
Lamy afirmou ainda que é
preciso aproveitar uma brecha
aberta pelas eleições parlamentares nos EUA para, até a
primavera do hemisfério Norte, tentar "preencher os pontos
pendentes em diferentes temas". Ele insistiu no chamado
para que os países retomem o
engajamento para superar preconceitos e concluir a rodada.
As negociações técnicas de
Doha foram reiniciadas neste
mês, mas Lamy admitiu ontem
que não há ainda condições para que sejam convocados os ministros para conversações em
nível mais elevado. Ele reconheceu que o sucesso de Doha,
no qual ainda acredita, embora
não o considere fácil, é crucial
para a credibilidade da OMC.
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