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CONCORRÊNCIA
Responsável pela análise e futuro parecer diz que a conclusão pode não coincidir com a da Seae
SDE avalia distribuição após a Ambev
ISABEL VERSIANI
da Sucursal de Brasília
A SDE (Secretaria de Direito
Econômico), um dos órgãos que
avalia a fusão da Brahma com a
Antarctica, está analisando o impacto que o negócio terá sobre a
concorrência no sistema de distribuição de bebidas no país.
Caio Mário Pereira Neto, diretor do Departamento de Proteção
e Defesa Econômica da secretaria,
está no comando dessa análise.
Ele pretende apresentar o parecer
sobre o caso Ambev no mês que
vem, o que permitirá que o processo siga para julgamento final
no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
A Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico, ligada ao
Ministério da Fazenda), em parecer apresentado em novembro,
condicionou a aprovação da fusão à venda da cervejaria Skol
(que pertence à Brahma), mas nada falou sobre a distribuição.
Em entrevista à Folha, Pereira
Neto afirmou que a conclusão da
SDE sobre o caso poderá ser diferente da da Seae. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha - O que vocês podem
acrescentar à análise que a Seae
já fez sobre o caso?
Caio Pereira Neto - Nós estamos analisando alguns aspectos
do caso que não foram estudados
até o momento. A distribuição de
bebidas, por exemplo. Estamos
vendo como esse sistema funciona e analisando como as empresas de bebidas atuam no mercado
por meio de seus distribuidores.
Folha - A Seae não considerou
a distribuição em sua análise?
Pereira Neto - É, eles não trataram desse problema, e a gente
acha que é uma questão relevante.
Esse é um mercado muito pulverizado, há cerca de um milhão de
pontos-de-venda no país. Então
não adianta apenas a empresa ter
o produto se não consegue fazê-lo
chegar ao consumidor.
Folha - O controle da distribuição pode determinar o controle
dos preços?
Pereira Neto - Ainda estamos
avaliando como esse sistema trabalha. O que eu posso dizer agora
é que ele é importante na dinâmica de concorrência do mercado
organizado. Até que ponto o sistema é um problema, ou uma solução, é o que estamos analisando.
Folha - Vocês foram surpreendidos pelo voto da Seae?
Pereira Neto - Acho que a Seae
fez o trabalho que entendia tecnicamente mais correto. Não é uma
questão de surpresa ou não. Eles
fizeram o trabalho dentro da esfera de competência deles, o que levou a uma conclusão, que não necessariamente é a única.
O fato de haver dois órgãos manifestando sua opinião sobre o
processo, antes de ele ir a julgamento no Cade, é rico porque
permite a ventilação de idéias e
contribui para que se chegue a
uma decisão mais sólida possível.
A SDE, então, não tem obrigação de acompanhar o entendimento da Seae?
Pereira Neto - Obrigação nenhuma. Cada um dos órgãos tem
sua esfera de competência, tem
sua própria opinião. Não há vinculação entre as opiniões. Estamos fazendo o nosso trabalho,
vendo outros aspectos que nos
parecem relevantes e não pareceram relevantes à Seae. Poderemos
chegar a conclusões diferentes.
Folha - A Brahma argumenta
que o parecer da Seae não faz
sentido porque, ao ter de se
desfazer da Skol, a empresa,
mesmo com a Antarctica, ficaria
menor do que é hoje.
Pereira Neto - Acho que a Seae
cumpriu o seu papel, deu o seu
parecer. Nós agora estamos trabalhando com uma outra perspectiva. Não me cabe dar uma opinião.
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