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São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Queda no fluxo de dólares faz saldo negativo das transações com o resto do mundo cair a 1,67% do PIB em 2002

Déficit com exterior é o menor desde 94

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda no fluxo de dólares para o Brasil levou a uma forte redução no déficit em transações correntes -um dos principais indicadores da vulnerabilidade externa de um país. Em 2002, esse déficit ficou em US$ 7,757 bilhões, o equivalente a 1,67% do PIB (Produto Interno Bruto). Foi o menor resultado desde 1994.
Nas contas do Banco Central, o fluxo de capital estrangeiro para o país caiu de US$ 58,4 bilhões em 2001 para US$ 38,2 bilhões no ano passado. A queda se deu, principalmente, nos empréstimos obtidos pelo país no exterior. Juntos, governo e setor privado captaram US$ 18,7 bilhões no mercado financeiro internacional em 2002, contra US$ 34,6 bilhões no ano anterior.
A situação foi agravada pelo recuo no volume de investimento estrangeiro direto recebido pelo Brasil, que passou de US$ 22,5 bilhões para US$ 16,6 bilhões entre 2001 e 2002.
Segundo o BC, esses números são consequência da combinação de dois fatores: a desconfiança dos investidores em relação ao futuro da economia brasileira e o nervosismo observado nos mercados financeiros internacionais.
Num regime em que o governo não impõe restrições para o fluxo de capital estrangeiro, o total de dólares que saem do país deve ser igual ao total de ingressos. Assim, para compensar a menor entrada de dólares em 2002, o país foi forçado a reduzir repentinamente seu déficit em transações correntes (ou seja, o total de dólares mandados para o exterior).

Desvalorização
A conta de transações correntes é formada pela balança comercial (exportações menos importações), pela balança de serviços (viagens internacionais, gastos com juros e remessas de lucros, entre outros) e transferências unilaterais (dinheiro enviado para o país por residentes no exterior, e vice-versa).
Devido à queda no volume de dólares que entraram no país no ano passado, foi preciso reduzir o déficit em transações correntes. Isso foi obtido com a desvalorização do real, fator preponderante na melhora do saldo da balança comercial. Entre 2001 e 2002, o superávit cresceu de US$ 2,6 bilhões para US$ 13,1 bilhões. No mesmo período, a cotação do dólar subiu 52%.
Com a valorização da moeda norte-americana, os produtos brasileiros ficam mais baratos no exterior. Além disso, as importações também ficam mais caras, em reais, dentro do país. A queda nas importações também foi puxada pelo menor nível de atividade econômica, consequência das altas taxas de juros fixadas pelo BC na tentativa de conter a alta do dólar e seu efeito sobre a inflação.
Além da redução do déficit em transações correntes, o equilíbrio das contas externas do país em 2002 também foi consequência do socorro financeiro oferecido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

Fluxo do FMI
Ao todo, o FMI emprestou US$ 11,5 bilhões ao Brasil no ano passado -já descontadas parcelas de financiamentos anteriores que o governo pagou ao Fundo ao longo de 2001. Em 2001, o socorro do FMI somou US$ 6,6 bilhões.
Isso significa que a ajuda do FMI representou 30% do fluxo líquido de dólares para o Brasil em 2002. Sem esses recursos, o país se veria obrigado a fazer um ajuste ainda mais forte na sua conta de transações correntes. Isso provavelmente só seria alcançado com uma alta adicional do dólar, que poderia levar a um maior desaquecimento da economia. Foi o segundo ano seguido em que o empréstimo do FMI ajudou o país a equilibrar suas contas.
Neste ano, ainda poderão ser sacados outros US$ 24 bilhões, graças ao último acordo fechado com o FMI, em 2002. A liberação desse dinheiro é feita em parcelas e depende do cumprimento das metas acordadas entre o governo brasileiro e o Fundo.
A próxima parcela, de aproximadamente US$ 4 bilhões, deve ser liberada em março. Ao todo, o acordo disponibilizou US$ 30 bilhões ao país, dos quais US$ 6 bilhões já foram sacados.


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