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CONTAS EXTERNAS
Queda no fluxo de dólares faz saldo negativo das transações com o resto do mundo cair a 1,67% do PIB em 2002
Déficit com exterior é o menor desde 94
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda no fluxo de dólares para o Brasil levou a uma forte redução no déficit em transações correntes -um dos principais indicadores da vulnerabilidade externa de um país. Em 2002, esse déficit ficou em US$ 7,757 bilhões, o
equivalente a 1,67% do PIB (Produto Interno Bruto). Foi o menor
resultado desde 1994.
Nas contas do Banco Central, o
fluxo de capital estrangeiro para o
país caiu de US$ 58,4 bilhões em
2001 para US$ 38,2 bilhões no ano
passado. A queda se deu, principalmente, nos empréstimos obtidos pelo país no exterior. Juntos,
governo e setor privado captaram
US$ 18,7 bilhões no mercado financeiro internacional em 2002,
contra US$ 34,6 bilhões no ano
anterior.
A situação foi agravada pelo recuo no volume de investimento
estrangeiro direto recebido pelo
Brasil, que passou de US$ 22,5 bilhões para US$ 16,6 bilhões entre
2001 e 2002.
Segundo o BC, esses números
são consequência da combinação
de dois fatores: a desconfiança
dos investidores em relação ao futuro da economia brasileira e o
nervosismo observado nos mercados financeiros internacionais.
Num regime em que o governo
não impõe restrições para o fluxo
de capital estrangeiro, o total de
dólares que saem do país deve ser
igual ao total de ingressos. Assim,
para compensar a menor entrada
de dólares em 2002, o país foi forçado a reduzir repentinamente
seu déficit em transações correntes (ou seja, o total de dólares
mandados para o exterior).
Desvalorização
A conta de transações correntes
é formada pela balança comercial
(exportações menos importações), pela balança de serviços
(viagens internacionais, gastos
com juros e remessas de lucros,
entre outros) e transferências unilaterais (dinheiro enviado para o
país por residentes no exterior, e
vice-versa).
Devido à queda no volume de
dólares que entraram no país no
ano passado, foi preciso reduzir o
déficit em transações correntes.
Isso foi obtido com a desvalorização do real, fator preponderante
na melhora do saldo da balança
comercial. Entre 2001 e 2002, o superávit cresceu de US$ 2,6 bilhões
para US$ 13,1 bilhões. No mesmo
período, a cotação do dólar subiu
52%.
Com a valorização da moeda
norte-americana, os produtos
brasileiros ficam mais baratos no
exterior. Além disso, as importações também ficam mais caras,
em reais, dentro do país. A queda
nas importações também foi puxada pelo menor nível de atividade econômica, consequência das
altas taxas de juros fixadas pelo
BC na tentativa de conter a alta do
dólar e seu efeito sobre a inflação.
Além da redução do déficit em
transações correntes, o equilíbrio
das contas externas do país em
2002 também foi consequência
do socorro financeiro oferecido
pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Fluxo do FMI
Ao todo, o FMI emprestou
US$ 11,5 bilhões ao Brasil no ano
passado -já descontadas parcelas de financiamentos anteriores
que o governo pagou ao Fundo ao
longo de 2001. Em 2001, o socorro
do FMI somou US$ 6,6 bilhões.
Isso significa que a ajuda do
FMI representou 30% do fluxo líquido de dólares para o Brasil em
2002. Sem esses recursos, o país se
veria obrigado a fazer um ajuste
ainda mais forte na sua conta de
transações correntes. Isso provavelmente só seria alcançado com
uma alta adicional do dólar, que
poderia levar a um maior desaquecimento da economia. Foi o
segundo ano seguido em que o
empréstimo do FMI ajudou o país
a equilibrar suas contas.
Neste ano, ainda poderão ser sacados outros US$ 24 bilhões, graças ao último acordo fechado com
o FMI, em 2002. A liberação desse
dinheiro é feita em parcelas e depende do cumprimento das metas acordadas entre o governo
brasileiro e o Fundo.
A próxima parcela, de aproximadamente US$ 4 bilhões, deve
ser liberada em março. Ao todo, o
acordo disponibilizou US$ 30 bilhões ao país, dos quais US$ 6 bilhões já foram sacados.
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