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MÍDIA
Desempenho em 2002 foi um dos piores do setor; desconto nas comissões e nos preços dos espaços de anúncios afetou desempenho
Publicidade amarga crise e cresce só 2,5%
LÁSZLÓ VARGA
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A publicidade brasileira registrou em 2002 um dos desempenhos mais fracos de sua história.
Ao contrário dos anos anteriores,
quando o crescimento anual no
setor ficava em torno de 11%, o
aumento em 2002 ficou apenas
em cerca de 2,5%, segundo apurou ontem a Folha. A crise chegou
a tal ponto que as agências passaram a cobrar de seus clientes taxas
que não garantiam retorno.
"Foi um ano difícil. A economia
mundial registrou um forte desaquecimento, que atingiu o Brasil.
Houve muita promoção na mídia,
com redução nos preços dos
anúncios", afirmou Sérgio Amado, presidente da Abap, que representa o setor.
Os números oficiais preliminares do setor, segundo Amado, enganam. A Folha teve acesso a dados do Ibope/Monitor (divisão do
Ibope) que indicam que as verbas
para anúncios em jornais, revistas, TV e rádio somaram R$ 19 bilhões em 2002 -alta de 11,7% sobre os R$ 17 bilhões de 2001.
"Esses números não refletem o
que ocorreu no setor. O Ibope/
Monitor levou em conta os preços
cheios dos anúncios, mas houve
muitos descontos", disse Amado.
As estimativas da Abap são de
que o mercado publicitário movimentou de fato R$ 12 bilhões no
ano passado, contra os R$ 11,7 bilhões de 2001. Para 2003, Amado
acredita numa expansão de 7%.
Disputa entre agências
A crise do setor abriu brechas
para vários tipos de canibalismos
no mercado, como o que ocorreu,
em 2002, com as taxas de comissionamento das agências. Essa taxa é paga pelo cliente à agência.
Com o nascimento de várias
agências nos últimos anos, os
clientes passaram a ser atraídos
por empresas de publicidade que
começaram a dar grandes descontos nessas taxas. Outras agências, mesmo antigas, reduziram
as taxas aos poucos. A situação
chegou a tal ponto que essa taxa,
que chega a 15% do valor investido pelo cliente, chegou a cair pela
metade em um ano.
Essa "liquidação" fez despencar
a receita das agências e causou um
efeito dominó: os clientes abriam
concorrência pela conta da companhia. O melhor plano, assim
como a taxa mais interessante, levava a conta.
A situação tornou necessária a
intervenção de uma organização
do setor, a Cenp, para colocar ordem no mercado. Em dezembro,
a entidade reuniu as 50 maiores
agências do país para uma conversa. Disse que os descontos nas
taxas feriram normas éticas. A situação ainda não foi resolvida.
"Temos pouco mais de cem
clientes que ainda não chegaram a
um acordo com as agências em
relação a essa taxa. Isso corresponde a um sexto do mercado total das 50 maiores agências. O que
não for resolvido vai parar no
Conselho de Ética", diz Petrônio
Corrêa, presidente da Cenp.
Pressões externas acabaram
aparecendo também. A Rede Globo, que recebe 70% do investimento total de mídia em TV, tomou partido e mandou um recado às companhias do setor no final do ano. Informou às agências
que as que não seguissem as normas do mercado não receberiam
a chamada BV (bonificação por
veículo). Esse dinheiro é uma espécie de bônus destinado às agências com grandes investimentos
em mídia, segundo a Folha apurou. A Globo não comenta o caso.
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