São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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Endividamento pessoal pode travar expansão

DA REPORTAGEM LOCAL

Além dos juros renitentes, outros fatores poderão cercear o crescimento da economia baseado na expansão do mercado interno. Um deles, pouco observado pelos analistas, é o elevado endividamento dos consumidores. Hoje, 94% da massa salarial dos próximos seis meses já está comprometida com "papagaios".
A constatação é da MS Consult, que calculou o indicador."O consumidor tem empréstimos que equivalem a quase seis meses do seu salário", observa Jorge Simino, diretor da consultoria.
O nível de endividamento é calculado com base no volume das operações de crédito para pessoas físicas dividido pela massa salarial nominal multiplicada por seis.
O patamar atual de endividamento é quase três vezes superior ao registrado no início do Real. Em 1995, o total de dívidas do consumidor equivalia a 33,2% da soma de seis meses de salário. Simino diz que não dá para imaginar que o endividamento continuará crescendo, mesmo que os juros recuem.
Nos EUA, as pessoas devem duas vezes o valor do que ganham em seis meses. Mas, no Brasil, esse nível de alavancagem é cerceado pela precarização do emprego e a queda da renda da população.
A outra opção para aumentar o consumo interno seria alargar os prazos de pagamento. Uma simulação da MS Consult mostra que o aumento do número de prestações na compra de televisores coloridos, de 8 para 12 vezes, pode incrementar em 50% o poder de compra do consumidor.
O cálculo mede o potencial de compra para quem ganha cinco salários mínimos. "Esse é um exercício importante para mostrar que as vendas crescem quando se alargam os prazos de pagamento", diz Simino.
No entanto, dado o alto nível de endividamento do consumidor, o alargamento dos prazos de pagamento, no ano passado, não impactou as vendas. Hoje, o prazo médio dos financiamentos está em 11 meses. "Creio que o varejo vá chegar, no máximo, a 12 meses de prazo médio de financiamento. As empresas não vão se aventurar a esbarrar na inadimplência lá na frente", acrescenta Simino.

Base fraca
Mesmo nesse quadro -e apesar do Copom-, Simino diz que é possível uma expansão de 3,7% do PIB neste ano. "As pessoas se impressionam com a exuberância desse número e esquecem que ele está projetado sobre uma base muito fraca [de 2003]", diz.
Por isso a MS Consult ainda não reviu suas projeções para 2004 -entre 3% e 4%. Mas, para 2005, a conversa é outra. "Não tem renda, o emprego não se recupera, o endividamento é alto. De onde virá o consumo para manter uma expansão alta no ano que vem?", questiona Simino. Sua projeção para 2005 é a de um crescimento do PIB de apenas 2,5%.
Também a Consultoria Tendências mantém sua expectativa de um crescimento de 4% neste ano. "O crescimento já está dado, pois é a produção industrial que dá mais volatilidade ao PIB, e, desde junho, ela está acima do patamar médio de 2003", diz Juan Jensen, economista da Tendências. Naquele período o PIB industrial cresceu mais de 6%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
(SANDRA BALBI)


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