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Endividamento pessoal pode travar expansão
DA REPORTAGEM LOCAL
Além dos juros renitentes, outros fatores poderão cercear o
crescimento da economia baseado na expansão do mercado interno. Um deles, pouco observado pelos analistas, é o elevado endividamento dos consumidores.
Hoje, 94% da massa salarial dos
próximos seis meses já está comprometida com "papagaios".
A constatação é da MS Consult,
que calculou o indicador."O consumidor tem empréstimos que
equivalem a quase seis meses do
seu salário", observa Jorge Simino, diretor da consultoria.
O nível de endividamento é calculado com base no volume das
operações de crédito para pessoas
físicas dividido pela massa salarial
nominal multiplicada por seis.
O patamar atual de endividamento é quase três vezes superior
ao registrado no início do Real.
Em 1995, o total de dívidas do
consumidor equivalia a 33,2% da
soma de seis meses de salário. Simino diz que não dá para imaginar que o endividamento continuará crescendo, mesmo que os
juros recuem.
Nos EUA, as pessoas devem
duas vezes o valor do que ganham
em seis meses. Mas, no Brasil, esse
nível de alavancagem é cerceado
pela precarização do emprego e a
queda da renda da população.
A outra opção para aumentar o
consumo interno seria alargar os
prazos de pagamento. Uma simulação da MS Consult mostra que o
aumento do número de prestações na compra de televisores coloridos, de 8 para 12 vezes, pode
incrementar em 50% o poder de
compra do consumidor.
O cálculo mede o potencial de
compra para quem ganha cinco
salários mínimos. "Esse é um
exercício importante para mostrar que as vendas crescem quando se alargam os prazos de pagamento", diz Simino.
No entanto, dado o alto nível de
endividamento do consumidor, o
alargamento dos prazos de pagamento, no ano passado, não impactou as vendas. Hoje, o prazo
médio dos financiamentos está
em 11 meses. "Creio que o varejo
vá chegar, no máximo, a 12 meses
de prazo médio de financiamento. As empresas não vão se aventurar a esbarrar na inadimplência
lá na frente", acrescenta Simino.
Base fraca
Mesmo nesse quadro -e apesar do Copom-, Simino diz que
é possível uma expansão de 3,7%
do PIB neste ano. "As pessoas se
impressionam com a exuberância
desse número e esquecem que ele
está projetado sobre uma base
muito fraca [de 2003]", diz.
Por isso a MS Consult ainda não
reviu suas projeções para 2004
-entre 3% e 4%. Mas, para 2005,
a conversa é outra. "Não tem renda, o emprego não se recupera, o
endividamento é alto. De onde virá o consumo para manter uma
expansão alta no ano que vem?",
questiona Simino. Sua projeção
para 2005 é a de um crescimento
do PIB de apenas 2,5%.
Também a Consultoria Tendências mantém sua expectativa
de um crescimento de 4% neste
ano. "O crescimento já está dado,
pois é a produção industrial que
dá mais volatilidade ao PIB, e,
desde junho, ela está acima do patamar médio de 2003", diz Juan
Jensen, economista da Tendências. Naquele período o PIB industrial cresceu mais de 6%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
(SANDRA BALBI)
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