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MARCHA LENTA
Chefe do Planejamento estima que economia possa ter ficado estagnada em 2003 ou crescido no máximo 0,2%
Assessor de Mantega admite "PIB zero"
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O crescimento da economia no
ano passado deve ter ficado entre
0,1% e 0,2%, mas pode ter sido
exatamente zero, segundo estimativa do chefe da Assessoria
Econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda.
Ele ressaltou, no entanto, que
não se trata de projeção oficial do
ministério, mas de cálculo seu,
"como economista". "Acho que
deve dar alguma coisa entre 0,1%
e 0,2%. Muito baixo. Ou zero
mesmo", disse.
Para a programação de gastos
do Orçamento deste ano, divulgada pelo governo no começo deste
mês, o Ministério do Planejamento, dirigido por Guido Mantega,
trabalhou com alguns parâmetros
macroeconômicos.
A inflação medida pelo IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) seria de 5,68%, portanto
acima da meta prevista para 2004,
de 5,5%, mas dentro da variação
de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. A média do juro básico da economia (Selic) em
2004 seria de 14%. Em um cenário
em que o Banco Central continuasse a cortar os juros, a taxa básica poderia chegar a 11,5% em
dezembro.
O Planejamento estimou ainda
o saldo comercial em US$ 22 bilhões e o dólar médio a R$ 3,02.
Miranda afirmou também que
os R$ 6 bilhões do Orçamento
bloqueados pelo governo poderão ser liberados integralmente
até o final do ano. Leia a seguir
trechos da entrevista concedida
por Miranda à Folha.
Folha - O senhor mantém a previsão de 3,5% de crescimento para
este ano?
José Carlos Miranda - Mantenho.
Folha - Mas o Congresso [na elaboração do Orçamento] alterou a
estimativa para 4%.
Miranda - Nós voltamos para
3,5%, mas talvez o Congresso tenha razão.
Folha - Voltar para os 3,5%, então, foi mais uma posição conservadora do governo?
Miranda - Não diria conservadora, diria cautelosa.
Folha - Então é possível chegar a
4% de crescimento?
Miranda - As indicações são
boas. A produção de máquinas e
equipamentos no Brasil e a importação desses itens desde julho
vêm crescendo desde julho, o que
é um indício de que os empresários estão modernizando suas fábricas, estão ganhando competitividade. Quem puxou a indústria
neste ano foi a mecânica, o que é
muito bom, pois indica que a retomada não é um soluço.
Folha - Já se sabe qual foi o crescimento da economia em 2003?
Miranda - No dia 27 o IBGE divulgará o resultado do último trimestre e, com isso, teremos o PIB
[Produto Interno Bruto] do ano.
Folha - Pelos dados acompanhados até agora, é possível falar qual
foi o crescimento em 2003?
Miranda - Posso falar na estimativa que fiz como economista, não
em nome do Planejamento. Acho
que deve dar alguma coisa entre
0,1% e 0,2%. Muito baixo. Ou zero
mesmo.
Folha - Pode ter ficado negativo?
Miranda - Não acredito. Mas, obviamente, estou falando de um
modelo, que tem margem de erro.
Folha - Com que variáveis o governo trabalhou para a programação de gastos do Orçamento deste
ano?
Miranda - Taxa básica média de
juros de 14%. Inflação no final de
período, pelo IPCA, de 5,68%.
Dólar médio de R$ 3,02. Resultado da balança comercial: exportações de US$ 82 bilhões e importações de US$ 60 bilhões, o que dá
um superávit de US$ 22 bilhões.
Folha - Quanto dos R$ 6 bilhões
contingenciados do Orçamento poderá ser liberado?
Miranda - Não houve contingenciamento neste ano. Nós liberamos 98,3% do Orçamento. O restante simplesmente não foi liberado imediatamente, o que não faz
diferença nenhuma. Ninguém
gasta 98% do Orçamento num
mês. Então, na verdade, esse 1,7%
é gasto do mês de dezembro. Você libera para ir gastando ao longo
do ano.
Folha - Essa parte seria liberada a
partir da segunda metade do ano?
Miranda - Pelo andar da carruagem, da receita de janeiro e dos
primeiros sinais de fevereiro, de
repente até antes o Orçamento estará todo liberado.
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