São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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MARCHA LENTA

Chefe do Planejamento estima que economia possa ter ficado estagnada em 2003 ou crescido no máximo 0,2%

Assessor de Mantega admite "PIB zero"

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O crescimento da economia no ano passado deve ter ficado entre 0,1% e 0,2%, mas pode ter sido exatamente zero, segundo estimativa do chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda.
Ele ressaltou, no entanto, que não se trata de projeção oficial do ministério, mas de cálculo seu, "como economista". "Acho que deve dar alguma coisa entre 0,1% e 0,2%. Muito baixo. Ou zero mesmo", disse.
Para a programação de gastos do Orçamento deste ano, divulgada pelo governo no começo deste mês, o Ministério do Planejamento, dirigido por Guido Mantega, trabalhou com alguns parâmetros macroeconômicos.
A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) seria de 5,68%, portanto acima da meta prevista para 2004, de 5,5%, mas dentro da variação de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. A média do juro básico da economia (Selic) em 2004 seria de 14%. Em um cenário em que o Banco Central continuasse a cortar os juros, a taxa básica poderia chegar a 11,5% em dezembro.
O Planejamento estimou ainda o saldo comercial em US$ 22 bilhões e o dólar médio a R$ 3,02.
Miranda afirmou também que os R$ 6 bilhões do Orçamento bloqueados pelo governo poderão ser liberados integralmente até o final do ano. Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Miranda à Folha.

Folha - O senhor mantém a previsão de 3,5% de crescimento para este ano?
José Carlos Miranda -
Mantenho.

Folha - Mas o Congresso [na elaboração do Orçamento] alterou a estimativa para 4%.
Miranda -
Nós voltamos para 3,5%, mas talvez o Congresso tenha razão.

Folha - Voltar para os 3,5%, então, foi mais uma posição conservadora do governo?
Miranda -
Não diria conservadora, diria cautelosa.

Folha - Então é possível chegar a 4% de crescimento?
Miranda -
As indicações são boas. A produção de máquinas e equipamentos no Brasil e a importação desses itens desde julho vêm crescendo desde julho, o que é um indício de que os empresários estão modernizando suas fábricas, estão ganhando competitividade. Quem puxou a indústria neste ano foi a mecânica, o que é muito bom, pois indica que a retomada não é um soluço.

Folha - Já se sabe qual foi o crescimento da economia em 2003?
Miranda -
No dia 27 o IBGE divulgará o resultado do último trimestre e, com isso, teremos o PIB [Produto Interno Bruto] do ano.

Folha - Pelos dados acompanhados até agora, é possível falar qual foi o crescimento em 2003?
Miranda -
Posso falar na estimativa que fiz como economista, não em nome do Planejamento. Acho que deve dar alguma coisa entre 0,1% e 0,2%. Muito baixo. Ou zero mesmo.

Folha - Pode ter ficado negativo?
Miranda -
Não acredito. Mas, obviamente, estou falando de um modelo, que tem margem de erro.

Folha - Com que variáveis o governo trabalhou para a programação de gastos do Orçamento deste ano?
Miranda -
Taxa básica média de juros de 14%. Inflação no final de período, pelo IPCA, de 5,68%. Dólar médio de R$ 3,02. Resultado da balança comercial: exportações de US$ 82 bilhões e importações de US$ 60 bilhões, o que dá um superávit de US$ 22 bilhões.

Folha - Quanto dos R$ 6 bilhões contingenciados do Orçamento poderá ser liberado?
Miranda -
Não houve contingenciamento neste ano. Nós liberamos 98,3% do Orçamento. O restante simplesmente não foi liberado imediatamente, o que não faz diferença nenhuma. Ninguém gasta 98% do Orçamento num mês. Então, na verdade, esse 1,7% é gasto do mês de dezembro. Você libera para ir gastando ao longo do ano.

Folha - Essa parte seria liberada a partir da segunda metade do ano?
Miranda -
Pelo andar da carruagem, da receita de janeiro e dos primeiros sinais de fevereiro, de repente até antes o Orçamento estará todo liberado.


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