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LATICÍNIOS
Produtores perdem margem com a crise da Parmalat e a forte concentração das indústrias e das redes de varejo
Safra de leite termina com preço em queda
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O setor de leite termina esta safra com preços inferiores aos do
mesmo período de 2003. E isso
não pode ser atribuído apenas ao
caso Parmalat, que foi a ponta do
iceberg em um setor que demanda profundas reestruturações.
Em janeiro, o leite tipo C foi negociado pelo produtor a R$ 0,422.
No mesmo mês do ano passado, a
valores corrigidos, o preço era R$
0,445, uma queda real de 5%.
O setor precisa resolver problemas externos e internos. No campo externo, os produtores tiveram
uma boa notícia na sexta-feira. O
governo renovou as medidas antidumping e de preços mínimos
para produtos vindos da Europa,
Oceania e Mercosul.
No mercado interno, ainda há
muito o que fazer. Os custos de
produção sufocam parte dos produtores; há uma concentração
das compras nas mãos de poucas
indústrias; e a distribuição é feita
por grandes redes varejistas. O
poder de fogo das indústrias e do
varejo diminui cada vez mais as
margens de ganho do produtor.
A prorrogação das medidas antidumping é uma boa notícia, diz
Maria Helena Fagundes, da Conab e da Câmara Setorial do Leite.
Mas ela lembra que os preços internacionais, considerados parâmetro para essas medidas de defesa comercial brasileira, são formados com base em valores dos
grandes participantes do mercado mundial, como a União Européia, que dá fartos subsídios.
Na área interna, "o Brasil precisa conquistar o próprio mercado
para gerar emprego e renda", diz
Fagundes. É necessária uma reorganização da cadeia produtiva, e
este é o momento, afirma. O governo quer desenvolver as bacias
leiteiras, que geram emprego e
renda às pequenas propriedades,
e a crise da Parmalat direcionou
as discussões para o setor.
A técnica da Conab diz que o setor deve aproveitar o momento
para tomar medidas que dêem
sustentação para o setor no futuro. Uma saída, segundo ela, é o
uso de créditos do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) para a implementação dessa atividade.
Todos os analistas concordam
em que o produtor é o elo fraco
dessa cadeia. No período de safra,
os preços recuam e, como ocorre
agora, ficam até 40% abaixo dos
custos de produção em algumas
regiões, diz Eduardo Dessimoni,
da Comissão Técnica do Leite da
Faemg (Federação da Agricultura
e Pecuária de Minas Gerais) e da
Câmara Setorial do Leite da Secretaria de Agricultura de Minas
Gerais. "Já os custos não têm safra
e entressafra", diz Fagundes.
A saída é um fortalecimento das
associações de produtores, da organização das entregas do produto às indústrias e o crescimento da
participação das cooperativas. "O
setor não pode ficar nas mãos de
poucos", diz Dessimoni.
Gustavo Fischer Sbrissia, engenheiro agrônomo do Cepea (Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada), da Esalq-USP, diz que o Brasil caminha para o sistema da Nova Zelândia:
uma diminuição no número de
fornecedores para as indústrias,
mas cada vez com volume maior.
De 2000 a 2002, houve uma redução de 22% no número de fornecedores para as 15 maiores empresas do país. O volume ofertado, no entanto, não caiu.
É a chamada bonificação por
volume. A indústria remunera
melhor o produtor que entrega
mais leite. Essa política, no entanto, é mais um empecilho para o
pequeno produtor, diz Fagundes.
Uma das melhores saídas para
os produtores é serem donos dos
próprios laticínios, diz a técnica
da Conab. Dessimoni concorda e
diz que o importante é transformar o leite em não-perecível, o
que dá mais poder de barganha
para produtores e cooperativas.
Essa criação de laticínios regionais é uma das propostas do próprio governo para o setor.
Cooperativas
Marcelo Costa Martins, assessor
técnico da Comissão Pecuária do
Leite da CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil),
concorda que é necessário priorizar a atividade das cooperativas. É
preciso desenvolver mecanismos
de gerenciamento e ter visão de
mercado. "Só um bom capim e
vacas de alta produtividade não
bastam para a atividade."
Sbrissia diz que o setor está mais
competitivo hoje do que antes de
2001, quando o leite importado
sufocava a produção interna. "Está sendo montado o alicerce para
o país se tornar competitivo." Há
uma fusão de cooperativas, e elas
se tornam mais competitivas.
O engenheiro agrônomo do Cepea acrescenta, no entanto, que o
produtor precisa buscar produtividade ainda maior e diminuir os
custos para sobreviver. É necessária uma melhoria na gestão dos
negócios, acrescenta.
Para Fagundes, a saída deverá
passar pela aquisição de laticínios
por cooperativas de produtores.
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