São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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OPINIÃO ECONÔMICA
O RS volta a crescer

CÉZAR BUSATTO

Com um crescimento de 5,7% do PIB, quase o dobro do índice nacional, o ano de 1997 representou para a economia gaúcha uma espetacular inversão do quadro de dificuldades enfrentado no período pós-Plano Real, quando tivemos, por dois anos consecutivos, taxas negativas de crescimento: -0,6% em 1995 e -0,1% em 1996.
Trata-se, além disso, de uma mudança de trajetória (não circunstancial) no desempenho da economia estadual, uma vez que estão em implantação novos investimentos privados e públicos da ordem de R$ 12 bilhões, que representam cerca de 25% do PIB do Rio Grande do Sul.
Alguns gaúchos, entretanto, têm revelado dificuldades em compreender as profundas transformações que ocorrem no Estado e parece até que se incomodam com as boas notícias delas decorrentes, como é o caso do sr. Olívio Dutra, conforme depreende-se do conceito de seu artigo "A dança dos números" (Dinheiro, 17/2).
A verdade, entretanto, é que a atual administração pública do Estado pôs em marcha um consistente projeto de retomada do desenvolvimento, de modo a romper com a estagnação e a falta de perspectivas que ameaçavam o presente e o futuro de um dos mais importantes Estados brasileiros, que é o Rio Grande do Sul.
O primeiro passo foi dado com a contribuição da mais ampla aliança política da história recente do Estado, formada por seis partidos, entre os quais os tradicionais adversários PMDB e PPB, e liderada pelo governador Antônio Britto.
O passo seguinte, que marcou os primeiros dois anos do atual governo, foi a aprovação pelo Poder Legislativo das reformas estruturais no setor público estadual. Enfrentaram-se privilégios, romperam-se corporações, abriu-se a área de serviços públicos e de infra-estrutura aos investimentos privados, desencadeou-se o saneamento do sistema financeiro e das finanças públicas; recuperaram-se, enfim, a credibilidade e a funcionalidade do setor público como agente do desenvolvimento do Estado.
Durante o ano de 1997 e agora, já começaram a aparecer os primeiros resultados dessa estratégia bem-sucedida.
A Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), com sócio privado, aumentou seus investimentos anuais de R$ 200 milhões/ano para R$ 900 milhões/ano, instalando mais telefones do que em toda a sua história.
O porto de Rio Grande, sob gestão privada, transformou-se em um ano no mais competitivo do país, segundo avaliação feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A manutenção e a construção de mais de 2.500 quilômetros de estradas já foram concedidas à iniciativa privada, em dez pólos de pedágio espalhados por todo o Estado.
Somente com o valor de 20% do ágio obtido na venda de duas das seis empresas em que se subdividiu a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), foi formado, por autorização legislativa, o Fundo de Reaparelhamento de Estradas, para construir ligação asfáltica de 186 pequenos municípios gaúchos com as estradas estaduais ou federais.
Com melhoria generalizada em sua infra-estrutura de estradas, portos, energia e telecomunicações, combinada com uma política tributária desenvolvimentista, o Rio Grande do Sul conseguiu ver revalorizados os seus melhores atributos históricos, entre os quais se destacam a qualificação de sua gente e a localização privilegiada no centro geográfico do Mercosul.
Grandes investimentos industriais começam a ser viabilizados no Estado, transformando sua matriz produtiva, como é o caso da duplicação do pólo petroquímico e da implantação do setor automotivo, com a General Motors, a Ford e a Navistar.
Ao mesmo tempo, um esforço concentrado do governo, em parceria com a iniciativa privada e o governo federal, está recuperando setores tradicionais da base produtiva local, como é o caso da carne, da uva e do vinho, das conservas, das máquinas agrícolas e da pequena agricultura familiar.
Por outro lado, a renegociação global da dívida pública e o saneamento do sistema financeiro público, em parceria com o governo federal, recuperaram a credibilidade do Estado, que voltou a captar recursos de longo prazo do BID e do Banco Mundial para investimentos nas áreas social e de infra-estrutura. Foram mais de R$ 700 milhões nos dois últimos anos, após uma década em que esse fluxo foi zero.
Realmente, é preciso fazer uma verdadeira "dança de números" para tentar mostrar que o crescimento do PIB gaúcho em 1997 se deu "apesar do governo, e não por causa dele".
De nossa parte, preferimos comemorar a retomada do crescimento do Estado por entendê-la como uma grande vitória do trabalho e da determinação de todos os gaúchos.


Cézar Busatto, é secretário estadual da Fazenda do Rio Grande do Sul.



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