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ARTIGO
Previdência: falta votar o essencial
ULISSES RIEDEL DE RESENDE
A estratégia do governo na reforma da Previdência, depois das
manchetes nos jornais com o "já
ganhou", é deixar o assunto sem
divulgação nesse período em que
os parlamentares visitam suas bases eleitorais. Esse esquecimento,
além de evitar pressão sobre os deputados, deixa na população a impressão de fato consumado, de
que a Câmara já concluiu a votação em primeiro turno.
A verdade, entretanto, é outra,
completamente diferente. Ao contrário do que foi divulgado, a votação do essencial da reforma -os
destaques para votação em separado- só começa a partir de março, possivelmente após a convenção do PMDB, prevista para o dia
8.
Os destaques, conhecidos pela
abreviação DVS, ao serem apresentados pelos partidos -e foram
apresentados nove- têm o efeito
de retirar do texto-base as matérias objeto de destaque, ficando
separadas para uma votação "solteira", para cuja aprovação necessitam de 308 votos.
Assim, o texto aprovado em primeiro turno pela Câmara e divulgado com estardalhaço pela imprensa não passa de peça de ficção, já que temas como idade mínima, redutor, acréscimo de tempo de contribuição para os atuais
segurados e restrições aos fundos
de pensão de estatais, entre outros, nem sequer foram votados
pelos deputados.
Para sua aprovação, o governo
terá de reunir 308 votos em cada
um deles. E não será uma tarefa
fácil. Se, para aprovar esse texto
oco, sem o essencial da reforma, o
governo teve de despejar uma
montanha de dinheiro, imagine
para chancelar matérias impopulares, que mexem diretamente
com o interesse de 60 milhões de
pessoas, como os itens destacados
mediante DVS.
Pesquisa realizada pelo Diap em
parceria com a Anabb (Associação
dos Funcionários do Banco do
Brasil), com apoio de várias outras
organizações de servidores, junto
a 312 deputados, mostra claramente a tendência de rejeição de
alguns dos temas objeto de destaque.
Segundo esse levantamento, a
contribuição dos inativos, já derrubada no mesmo dia da aprovação do texto-base, era rechaçada
por 86,6% dos deputados. O redutor de 30% sobre os proventos dos
servidores, de acordo com a pesquisa, é rejeitado por 59,6% dos
entrevistados.
A exigência de idade mínima,
além do tempo de contribuição, é
contestada por 48,9%, divididos
entre os 27,2% que propõem a eliminação dessa exigência para todos e 25,3% que a aceitam só para
os futuros segurados. Os dados
com a íntegra da pesquisa, incluindo a opinião individual dos
deputados, podem ser conferidos
pela Internet, no endereço eletrônico http://www.diap.org.br.
Como se vê, o silêncio sobre o
tema é parte de uma estratégia,
que conta com o apoio da mídia.
Aos trabalhadores e suas organizações cabe divulgar ao máximo
essa manobra e pressionar os deputados a votar contra o texto destacado, exceto o DVS nş 3, de autoria do PFL, cujo objetivo é privatizar completamente o seguro do
acidente de trabalho. Mãos à obra,
companheiros. A luta apenas começou.
Ulisses Riedel de Resende, advogado trabalhista, é diretor técnico do Diap (Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar).
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