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OPINIÃO ECONÔMICA
As cartas estão dadas
EDWARD J. AMADEO
Em geral, o primeiro item na
lista das políticas para a geração de empregos é a "retomada
do crescimento sustentado".
Ponto pacífico. É comum ouvir
que a economia brasileira tem
crescido pouco. Nem tanto. Entre 1994 e 1997, o PIB brasileiro
cresceu 16,8%, o que corresponde a uma média anual de 4%.
Supondo crescimento de 1,5%
neste ano, entre 1994 e 1998 o
crescimento terá sido de 18,6%
(ou média anual de 3,5%). A
taxa média anual é maior do
que na década de 80. Não se
discute que seria melhor se a
economia crescesse 7% em vez
de 3,5%.
É verdade que a taxa de crescimento vem caindo: de 5,9%
em 1994 para 4,2% em 1995,
para a casa dos 3% em 1996 e
1997 e espera-se algo em
torno de 1,5% em 1998. Tem
caído essencialmente devido a
restrições externas: a economia
não pode crescer porque o déficit da conta corrente do balanço de pagamentos pode atingir
níveis críticos. A crise asiática
diminui o nível crítico do déficit externo, restringindo assim
a taxa de crescimento da economia.
Em tese, o governo tem três
variáveis sob seu controle para
calibrar o déficit externo, a saber, a taxa de câmbio, as tarifas
sobre importações e o crescimento da economia (que responde à política fiscal e monetária). Claramente, a opção do
governo é não mexer nas tarifas
(manter a economia aberta) e
procurar desvalorizar o câmbio
um pouco acima da inflação
(7,5% de desvalorização versus
inflação de 3% em 1998). Dada
essa opção, a taxa de crescimento da economia funciona
como variável de controle para
calibrar o déficit externo.
Segundo essa lógica, há duas
saídas para que a economia
cresça mais. Primeiro, deixar
que o déficit externo cresça, o
que significa fazer um convite à
crise cambial. Segundo, aumentar tarifas e desvalorizar o câmbio, digamos 15% ao ano no
lugar de 7,5%. Com a economia
crescendo, digamos, 7% ao ano,
a inflação aumentaria muito e,
com o tempo, o cachorro (inflação) voltará a correr atrás do
rabo (câmbio).
Portanto não há opção fácil.
A opção do governo é manter
baixa a inflação, consolidando
a estabilização, com baixo crescimento. A opção alternativa
seria crescer mais, ainda que
com a volta da inflação. Na primeira opção, a esperança é que
a reestruturação dos setores privados e público reduza custos a
ponto de aumentar a competitividade das empresas, permitindo que a economia cresça com
déficits externos menores. Na
segunda, a esperança é que a
economia brasileira esteja desindexada e, portanto, que a
desvalorização não redunde na
volta da espiral inflacionária.
As cartas estão dadas; cada
qual faça o seu jogo.
Com a economia crescendo
menos do que 3% ao ano, é provável que a produtividade do
trabalho cresça mais do que o
PIB, caso em que haveria queda
do emprego. Além disso, como a
população em idade de trabalhar está crescendo, a tendência
seria de crescimento da taxa de
desemprego.
Como mitigar essa tendência?
Numa economia aberta, a redução dos salários em relação à
produtividade permite a queda
dos preços em dólares e o aumento da rentabilidade das
empresas. Em ambos os casos o
aumento da competitividade
das empresas pode preservar e
até fazer crescer o emprego.
É importante ter claro que para aumentar a competitividade
das empresas basta que os salários em dólares cresçam menos
do que a produtividade do trabalho. Essa condição não é incompatível com o crescimento
do salário real -isto é, do poder de compra dos salários.
Com desvalorização do câmbio
maior do que a taxa de inflação
(como em 1997 e, tudo indica,
1998), seria possível até que o
salário real crescesse mais do
que a produtividade. Se a taxa
de câmbio for igual à taxa de
inflação, o salário real teria que
crescer menos do que a produtividade.
Entretanto, é possível que em
determinadas situações para
preservar (ou aumentar) o nível
de emprego, o salário real tenha
mesmo que cair para gerar o
aumento de competitividade
necessário. Daí a importância
da flexibilidade salarial. Cabe
discutir as formas de flexibilização: itens negociáveis, participação dos sindicatos, formas
de negociação (individual ou
coletiva), papel da Justiça do
Trabalho.
Note-se que, sem crescimento
da produtividade, a única forma de aumentar a competitividade das empresas é reduzindo
salários. Se a produtividade
crescer, é possível aumentar a
competitividade mesmo com
salários crescendo. Portanto, a
base para o crescimento da
competitividade, do emprego e
dos salários, simultaneamente,
é o crescimento da produtividade do trabalho.
Edward Amadeo, 41, doutor em economia
pela Universidade Harvard (EUA), é professor
do Departamento de Economia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro.
E-mail: amadeo@econ.puc-rio.br
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