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ARTIGO
Antídoto para o desemprego
WANDER SOARES
A preocupação do presidente
Fernando Henrique Cardoso com
o desemprego, estampada recentemente nas manchetes da imprensa, responde à maior angústia
da sociedade brasileira neste momento. Para o governo, o índice de
7,25% registrado em janeiro é um
alerta de que providências devem
ser adotadas com urgência.
Para os brasileiros incluídos nesse percentual -e, portanto, excluídos dos benefícios da economia-, o problema é muito maior,
pois desafia a sua própria sobrevivência com um mínimo de dignidade.
Independentemente da estabilidade da moeda e do fôlego demonstrado pela economia nacional na resistência aos desdobramentos do "crash" asiático, a
questão do desemprego merece
uma análise mais aprofundada e
soluções consistentes.
O desemprego estrutural, provocado pela exigência de reduzir
custos e potencializar a produtividade, imposta pela competição
acirrada no novo mercado global,
é um problema que se manifesta
em todos os países.
Esse fenômeno, que atinge principalmente o setor industrial, no
qual a automação das plantas tem
reduzido os postos de trabalho,
tem sido equacionado, no Primeiro Mundo, pela migração de
mão-de-obra para outros setores
de atividades, especialmente os
serviços.
A reciclagem profissional dos
trabalhadores, para que assumam
novas funções profissionais, tem
sido facilitada, na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, pela formação escolar básica, que, na média, é de boa qualidade nesses países.
No Brasil, o problema assume
proporções mais sérias, sendo
agravado pela política monetária
de sustentação do Real, pela
abrupta abertura das importações,
sem que o parque produtivo estivesse preparado para competir internacionalmente, e pelo despreparo de grande contingente de trabalhadores, que começa na deficiência do ensino básico.
Esse último problema choca-se
frontalmente com a nova realidade mundial: a automação exige
mão-de-obra altamente especializada, capaz de trabalhar em ambientes marcados por tecnologias
de ponta; a migração para os serviços dos remanescentes do desemprego estrutural também exige
que os trabalhadores tenham formação educacional eficiente.
Quem não preencher esses requisitos é relegado a segundo plano
na disputa acirrada por uma vaga
no mercado de trabalho.
Os índices de desemprego registrados em janeiro, que tanto preocuparam o presidente Fernando
Henrique, podem agravar-se ainda mais ao longo deste ano, pois a
tendência de dispensa de trabalhadores ainda não perdeu sua força
vetorial.
Somente a indústria paulista demitiu 113.104 pessoas em 1997. Em
outubro do ano passado, o índice
de desemprego do IBGE para o Estado de São Paulo era de 6,68%,
enquanto o Dieese divulgava taxa
de 16,05%, revelando um quadro
ainda mais grave.
Independentemente da discrepância dos índices, que desperta
justificado ceticismo quanto às estatísticas no país, a verdade é que
hoje quem perde o emprego dificilmente consegue recolocação na
mesma função e com o mesmo salário. Por esse motivo, a qualidade
do emprego caiu vertiginosamente. Resultado: baixos salários, vagas disputadíssimas e rigor nas
contratações.
O mercado de trabalho tornou-se extremamente seletivo na
busca de profissionais altamente
capacitados. No entanto, as pessoas têm cada vez menos chances
de se aperfeiçoar em seus ramos de
atividade, por causa dos altos custos que tal desenvolvimento acarreta.
O círculo vicioso instala-se. Todo ano, ingressam no mercado de
trabalho profissionais mais e mais
despreparados, somando-se aos já
existentes. A sua formação educacional é precária, porque o ensino
básico é deficiente.
O país também carece de uma
estrutura de ensino técnico-profissionalizante em nível de segundo grau, que, no mundo desenvolvido, prepara adequadamente número expressivo de trabalhadores
para funções intermediárias, com
remuneração digna.
A educação no Brasil é cara. Ou
seja, o ensino de boa qualidade,
um direito implícito à cidadania,
não é democratizado. Assim, a
competição pelos melhores postos
no mercado de trabalho inicia-se,
precocemente e de forma absolutamente heterogênea, nas salas de
aula do ensino fundamental.
Os que têm oportunidade de pagar escolas caras e de boa qualidade saem muito na frente, na corrida para o futuro profissional, daqueles que buscam a oportunidade de uma vida melhor nas carteiras quebradas de sombrias salas de
aula das escolas públicas.
Por isso, não há nenhum exagero em afirmar: uma das soluções
mais eficientes para reduzir o desemprego, a médio e longo prazos,
é o resgate da qualidade do ensino.
Não se constrói uma nação apenas
com tecnologia de ponta.
A inserção soberana e com vantagens competitivas do Brasil na
economia global somente será
possível se o país encontrar meios
para se diferenciar num requisito
fundamental e insubstituível: o talento humano.
Wander Soares, 56, economista e professor, é
diretor de marketing da Editora Saraiva e vice-presidente da Abrelivros (Associação Brasileira dos Editores de Livros).
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